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Olhar Strano
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Influenciadores e a cultura da ostentação

Gabi Brandt reproduz o pior de uma sociedade consumista

Danilo Strano

11/07/2022 12h32

Foto: Reprodução/Instagram

Na história da Idade Moderna, até o final do século XVIII o valor do cidadão na sociedade era medido pelos títulos de nobreza que ele acumulava. Era essa característica que, antes mesmo de um ser humano nascer, determinava qual posição ele ocuparia na escala social. Com a Revolução Francesa (1789-1799) e o enforcamento — literal — da nobreza, o valor do cidadão na sociedade ocidental começou a ser medido não mais pelos títulos, mas pelos bens acumulados e poder de consumo, realidade que só foi potencializada até os dias atuais. Esse breve resumo histórico/sociológico nos ajuda a compreender o comportamento de muitos jovens nas redes sociais.

A lógica parece simples: quanto mais caro e ostentador, mais audiência e seguidores. Por isso, muitos aspirantes a famosos nas redes sociais apostam em ostentar um custo de vida elevado na tentativa de alcançar o sucesso. Os seguidores parecem ficar hipnotizados em acompanhar uma realidade tão distante da sua, principalmente se tratando de um país desigual como o Brasil.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil hoje. Além disso, 33,4% da população vive com um salário mínimo ou menos. Não é razoável que nenhum cidadão ostente gastos astronômicos, principalmente aqueles que têm milhões de seguidores nas redes sociais, como os influenciadores, sendo que uma parcela significativa da população está sem ter o que comer. Isso é, no mínimo, falta de empatia.

A influenciadora Gabi Brandt tem mais de 7 milhões de seguidores em seu Instagram. Na semana passada, ela ganhou destaque nacional por um questionamento que muitos brasileiros fazem neste momento de crise: como vou pagar a fatura do meu cartão de crédito? Só que no caso da criadora de conteúdo, a realidade é diferente. Trata-se de uma fatura no valor de R$ 377.719,90.

Gabi brincou com a situação. “Como vou pagar? Eu também não sei”. Em uma live em seu Instagram, a influenciadora afirmou que o valor de R$ 300 mil tem sido “a média das últimas faturas” de seu cartão. As redes sociais logo se mobilizaram e constataram o absurdo que era essa ostentação. Brandt, que ostenta roupas e carros caríssimos, foi obrigada a se retratar para não perder seguidores e ser cancelada.

Afinal de contas, o questionamento não é o valor do cartão. Se ela tem o dinheiro, pode escolher como gastá-lo. A questão é a necessidade de ostentar o tempo todo seus gastos e seu custo de vida elevado. Nesse caso, vale a máxima citada tantas vezes: ela é “tão pobre que só tem dinheiro”.

Brandt é um exemplo. Assim como ela, muitos jovens estão buscando um lugar ao sol nas redes sociais e para isso estão reproduzindo o modelo que foi vendido a eles pela sociedade, onde ter sucesso é ter dinheiro e consumir coisas caras. Eles não são a causa do problema, mas a consequência dele.

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