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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Você se diverte no sexo?

O sexo ainda tem ocupado um lugar muito performático, pouco presente de vulnerabilidades e diversão

Lu Miranda

05/07/2023 16h25

Arte: Lu Miranda

“Era meio da tarde de sábado, o fogo bateu e fomos para o quarto. Era verão onde morávamos, e o calor estava de suar partes do corpo inimagináveis. Tivemos uma boa ideia para aquele momento. Copo com gelo e oral. Eu pegava o gelo, passava por toda minha boca e chupava ela. Fiz isso algumas deliciosas vezes até que, tomada pelo desejo do momento, deixei aquele copo com gelo cair sobre a cama e correr entre suas pernas como ondas do mar gelado em montanhas belas em pleno dia de sol em Copacabana. Eu ri muito daquela cena… talvez de nervoso? Talvez de não saber como lidar com aquela sensação do momento. Ou talvez por achar realmente engraçado todo aquele conjunto de efeitos e sensações. Óbvio que não foi exatamente do jeito que planejei, mas com ela me sinto tranquila para rir de nós mesmas.”

Rir não significa se divertir, mas, nesse caso relatado, significou. Achei absolutamente interessante e gostoso como lidaram com a situação. Situações de descontração e risadas no sexo são tão incomuns que senti que seria um bom tema a ser abordado aqui. Até porque estão aí duas ótimas variáveis a serem trabalhadas: sexo e humor – um belo combo de delícias.

Não sei como é para você aí, mas para mim, e a partir do meu ponto de vista e do que chega como demanda terapêutica, o sexo ainda tem ocupado um lugar muito performático, pouco presente de vulnerabilidades e diversão. Uma pena, a meu ver, e te já explico o motivo.

Se divertir demanda permissividade, entrega e reciprocidade, todavia, também requer energia, tempo e dedicação, e em tempos de dopamina a fácil acesso, fica complicado e injusto competir com recompensas tão imediatas e de tão pouco gasto energético. Entretanto, para quem quer viver a realidade de uma relação amorosa gostosa, olhar para o que essa relação precisa é absolutamente necessário, principalmente naquelas de já são ou querem ser de longo prazo.

Rir e se divertir com aquilo que não saiu como planejado é muito importante para a nossa saúde emocional, e aprender a lidar com nossas limitações e frustrações com humor e sabedoria é um gigantesco diferencial, principalmente por poder interferir bastante no tesão e admiração. “Mas como?”. A vida por si só já tem problemas demais, se você não pode rir dos infortúnios da sua vida pessoal com a pessoa que você escolheu estar, com quem poderá ser, então?! Confiança, lealdade e parceria nos momentos difíceis pode criar bastante empatia e conexão entre pessoas, e você pode usar isso a favor das suas relações.

Não estou dizendo que o sexo deve ser cheio de risadas e zoação. Mas ele pode, sim, ser mais leve e menos cheio de posições pornográficas e gemidos sem qualquer coerência fisiológica.

Se o seu pau não subiu, converse sobre, brinque com a situação. Ria, ainda que seja de nervoso. Está tudo bem. Cobrar-se provavelmente vai gerar mais ansiedade e dificultar ainda mais qualquer possível ereção e/ou excitação. E não, tomar remédio não vai salvar você desse lugar, vai apenar adiar o inadiável: você perceber cedo ou tarde que não é uma máquina de transar, mas uma pessoa que vive num contexto social doentio e que isso também vai afetar sua forma de se relacionar com suas próprias emoções e sexualidades.

Mulherada, divirtam-se por vocês. Use e abuse do seu autoconhecimento. Porque sim, você merece sentir prazer, no sexo, na vida e onde quiser. Permita-se errar e rir disso com você mesma.

E eu sei que o controle nos dá uma falsa sensação de segurança, mas saber que nem tudo — ou quase nada — vai sair do jeito que você espera ou criou como expectativa também é um grande passo para se divertir.

Bora tentar? E se não conseguir, também estou aqui para te ajudar, afinal, para muita coisa, rir ainda é o melhor remédio.

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