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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Transar é consequência

Nosso tesão nem sempre é espontâneo, ou seja, ele muito provavelmente não surgirá “do nada”. Seu melhor tesão pode estar no autoconhecimento que você tanto procrastina

Lu Miranda

31/05/2023 16h46

Arte: Lu Miranda

Quando falo sobre sexualidade, normalmente sexo é uma das primeiras coisas que nos vem à mente — e até aí tudo bem. Todavia, esse sexo que convencionalmente associamos ao ato sexual envolve bem mais assuntos do que costumamos parar para pensar. Humor, vontade, autoestima, seguranças, inseguranças, crenças políticas, aprendizado, educação, modelos sociais, cultura, contexto, religião, interpretação, comunicação, dinheiro, individualidade, subjetividades, dedicação… muita coisa, né?!

E diferente do que muitos de nós acreditamos, nosso tesão nem sempre é espontâneo, ou seja, ele muito provavelmente não surgirá “do nada”. A depender do gênero, idade e cultura religiosa, existem influências diretas e indiretas sobre isso, como são os filmes românticos para as mulheres e filmes pornôs para a grande maioria dos homens, por exemplo. Ou seja, quando duas ou mais pessoas vão para a cama, elas levam muitas e muitas outras coisas além das suas vontades e desejos. Levam suas bagagens de vida, fantasias, medos e provavelmente muita expectativa. Bom para dar ruim.

Expectativas são necessárias, entendo. Porém, melhor do que ter uma expectativa frustrada é ter uma expectativa alinhada. Já experimentou? Aposto que sobre outras coisas, sim, mas não sobre sexo, né?

“Mas e se eu for julgada?”
“E se ela não aceitar meus desejos?”
“E se eu não for normal?”
“E se…?”

Se às vezes já é difícil pensar sobre, imagina expor em voz alta esse tipo de intimidade?!

Tenho muitos anos de atendimento clínico e posso dizer uma coisa: sexo é complexo para muita gente. As pessoas morrem de medo de serem julgadas nas suas vulnerabilidades, e sexo, muitas vezes, é isso: exposição e entrega. Bem diferente dessa atuação que vendem por aí. Fica a dica.

Ansiedade de performance, disfunção erétil, ejaculação rápida, baixo desejo e dor na relação, por exemplo, quase nunca é sobre o ato em si, e quase sempre é o nosso corpo dando voz ao sintoma. Incontáveis são os pacientes que chegam até mim buscando melhoria na vida sexual e passam a perceber que o problema, em muitos casos, não é apenas físico, mas sim de origem emocional, causado também pelos preconceitos e crenças ultrapassadas.

Transar, fazer amorzinho, fazer sexo… todas as opções deveriam ser consequência de momentos de alegria, reciprocidade, consentimento, desejos, olhares, pegação e muito beijo na boca. Mas a verdade é que existe muita pressão para que sejamos “bons de cama” e experts no assunto. E sabe uma coisa que não combina com aquele momento delícia de curtição? Cobrança e pressão.

Transar é consequência.

Consequência de como você cuida da sua autoestima e saúde mental (porque de nada adianta estar linda por fora e toda bagunçada por dentro, e isso vale pra todo mundo). Consequência de como você se comunica com você e com outras pessoas sobre suas vontades e desejos, bem como suas dificuldades e limitações sobre o tema. Consequência de como você se dedica para ser boa no assunto e sobre como acolhe suas sombras e imperfeições.

Autoconhecimento sexual demanda coragem e dedicação, então, não deixe para amanhã o prazer e a satisfação que pode sentir hoje.

Seu melhor tesão pode estar no autoconhecimento que você tanto procrastina, e ninguém melhor que você para saber o que realmente precisa.

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