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Coluna Informação #035 – Rastros de ódio

Até mesmo em Genebra, na Suíça a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro contraíra a covid-19 foi recebida com certa desconfiança

Rudolfo Lago

10/07/2020 5h05

Os presidentes da República, Jair Bolsonaro e do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, fazem declaração à imprensa no Planalto

https://www.facebook.com/188409064543404/videos/2797654623856139

Até mesmo em Genebra, na Suíça, onde fica a sede da Organização Mundial de Saúde, a notícia de que o presidente Jair Bolsonaro contraíra a covid-19 foi recebida com certa desconfiança.

Mesmo os principais especialistas em saúde e questões sanitárias que fazem parte da organização entraram no mesmo tipo de especulação que se vê por aqui nas redes sociais, com muita gente duvidando se a doença do presidente agora é mesmo para valer, da mesma forma como se duvidou há algum tempo do contrário, quando ele disse que não estava contaminado pelo novo coronavírus, mas não apresentava os exames. Esse tipo de suspeita com relação ao que diz Bolsonaro, vamos combinar, é resultado justo da sua própria estratégia de comunicação. Já falamos aqui sobre o uso de estratégias militares relacionadas a criar confusão e que estão no cerne de algumas táticas imaginadas pelo americano Steve Bannon e outros.

Não há muita dúvida de que isso deu muito certo durante um bom tempo. E está diretamente relacionado ao sucesso eleitoral que Bolsonaro teve em 2018. Ocorre, porém, que começam a surgir sinais de que esse feitiço possa estar virando contra o feiticeiro. Ainda que dizer agora que está contaminado pela covid-19 possa dar a Bolsonaro a chance de construção de uma narrativa própria sobre como combater a doença, com o uso de hidroxicloroquina, etc, por outro lado ter ficado doente derruba uma série de outras afirmações que ele vinha construindo antes.

A maior delas sobre a falta de necessidade do isolamento. Bolsonaro tanto se expôs que acabou pegando a doença. E, pelos seus cálculos e de alguns de seus “especialistas”, como o ex-ministro Osmar Terra, a essa altura a covid-19 já estaria diminuindo no país. Ela não só não está diminuindo como pegou o próprio presidente da República. Por mais que sua estratégia de comunicação implique ginásticas impressionantes no sentido de confundir os interlocutores, é difícil escapar do prejuízo ao ter que admitir aos seus eleitores que o risco de contrair a doença é, sim, real.

Mas o maior problema está mesmo na constatação de que a estratégia enredou-se de tal forma que não é exagero se imaginar que quando Bolsonaro desejar “Bom dia” muitos talvez julguem prudente olhar para o céu e começar a procurar um guarda-chuva.

A suposta vinculação do presidente e do seu clã familiar com a disseminação de fake news parece sem dúvida hoje ser a sua maior fragilidade. A decisão do Facebook de bloquear mais de 80 contas relacionadas ao presidente e a seus filhyos foi, nesse sentido, um duro golpe. Disseminem ou não fake News, o fato é que a rede criada por Bolsonaro e que teve imenso poder de auxiliá-lo nas eleições esta sendo desmontada. Chegando diretamente a pessoas que estão contratadas somente com esse propósito, como Tércio Arnaud Tomaz.

Assim, o desmonte dessa estrutura é hoje um fato. Nos últimos dias, diversos conteúdos que estavam em páginas ligadas ao bolsonarismo foram apagadas por seus autores. Receio da investigação que vai prosseguir no Supremo Tribunal Federal que investiga a disseminação de fake news e do ambiente de ódio contra a democracia e as instituições. Que se desdobra no julgamento da Justiça Eleitoral que afeta a chapa vencedora das eleições, Bolsonaro/Mourão.

Mais ou menos no mesmo momento em que se descobriu com a covid-19, Bolsonaro pediu a seu filho, Carlos Bolsonaro, que maneirasse na produção de conteúdos mais extremados nas redes sociais. O presidente está quase mudo e costurando acordos políticos para tentar apaziguar agora o clima incendiário que ele mesmo ajudava a construir. Isso pode lhe garantir tréguas políticas. Na verdade, já começou a lhe garantir. Mas, a essa altura, não parece ter mais capacidade de fazer parar as investigações que apontam para seu suposto envolvimento com a rede de disseminação de fake news. Os possíveis rastros de ódio estão sendo seguidos…

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