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Fala, Torcida
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Vexame canarinho

Empate contra a Venezuela e derrota para o Uruguai não só acende uma luz amarela, mas desmascara problemas entre CBF, atletas e comissão técnica

Thiago Henrique de Morais

20/10/2023 10h33

Foto: Vitor Silva/CBF

Queria não falar sobre a seleção brasileira novamente neste espaço, mas o que aconteceu durante essa última Data Fifa impossibilitou eu mudar o foco. O empate diante da Venezuela e a derrota para o Uruguai ligaram um sinal de alerta ao time verde-amarelo. Não por perder a vaga para a próxima Copa do Mundo, mas pelo aspecto futebolístico apresentado nessas partidas. E vai além do resultadismo, mas pelo que os jogadores vêm apresentando nestes jogos com Fernando Diniz no comando.

A estreia nas Eliminatórias deu uma falsa impressão. O adversário também ajudou. A Bolívia, atualmente, vive um momento sombrio em seu futebol, com o campeonato local sendo cancelado em função de esquema de apostas. Nem mesmo o efeito da altitude, tão criticada pelos lados de cá – como se o país fosse o culpado dessas condições geológicas – tem servido para que os bolivianos conquistem pontos. Em duas partidas realizadas em La Paz, acabou apanhando de Argentina (3×0) e Equador (2×1). Mas até aquele jogo trouxe questionamentos, como no gol sofrido, ainda que com a vitória por 5×1, em Belém. Curiosamente, o gol marcado em solo brasileiro foi a metade do que marcou durante todos os quatro jogos disputados até então.

O ponto de largada para a preocupação começou no jogo contra o Peru, quando a seleção brasileira só conseguiu o gol da vitória nos minutos finais do segundo tempo, em um jogo sonolento e pobre. Bem diferente do que apresentou a Argentina, por exemplo, na última terça-feira, quando venceu por 2 a 0, com gols ainda na primeira etapa. Vale destacar que a seleção peruana ainda não venceu após quatro partidas — conta com um time envelhecido e com pouca renovação.

O fator maior de apreensão foi diante da Venezuela. Ainda que alguns possam criticar a escolha de Cuiabá-MT para receber o jogo – uma cidade com extremo calor e com um gramado da Arena Pantanal aquém do ideal – perder pontos para a vinotinto é injustificável. Ainda mais em casa. Se antes o time brasileiro costumava golear a equipe do norte do continente, agora sofre. Tudo bem, a seleção venezuelana conta com uma das melhores gerações de todos os tempos, com chances reais de classificação à Copa-2026. Mas ainda assim estamos falando da seleção brasileira, que conta com melhores jogadores.

Mas a inquietação veio mesmo após a derrota para o Uruguai. A última derrota para a renovada seleção charrúa foi nas Eliminatórias da Copa de 2002. De lá para cá, foram doze partidas, com quatro empates (duas vitórias nos pênaltis) e oito vitórias, até a derrota da última terça-feira, mais uma vez com um futebol pobre e sem criatividade alguma. Isso fez com que os desabafos fossem mais fervorosos, apontando que essa é a pior seleção brasileira de todos os tempos – esquecendo do time de Emerson Leão, que venceu três jogos em dez disputados entre 2000 e 2001, além do time que esteve na Copa do Mundo de 2014, onde sofreu diante do Chile nas oitavas de final, fez jogos ruins na primeira fase e apanhou da Alemanha.

São vários os culpados disso tudo: Fernando Diniz, por achar que o trabalho usado em jogos por clubes é o mesmo a ser utilizado nas seleções; os atletas, por não conseguirem mostrar o seu melhor dentro de campo, ainda que tenham seguido à risca o que pede o treinador; e a CBF, por insistir em manter um técnico interino mesmo com as declarações de Carlo Ancelotti — Ednaldo Rodrigues assegura que o italiano será técnico do Brasil, mesmo com o treinador italiano desmentindo com frequência esse acerto.

A classificação para a Copa do Mundo de 2026 não corre risco em função de seis países terem vaga direta, e a sétima colocada ter chance de obter a vaga através da repescagem. Mas com o futebol apresentando, a expectativa não é das melhores. E não se engane, torcedor. Por mais que o Brasil possa vir a vencer a Colômbia e a Argentina na próxima Data Fifa, no mês que vem, ainda há muito a ser mudado. Não serão apenas esses dois resultados supostamente positivos que vão mudar a história. Nossa seleção está ruim e precisa de muito mais para se tornar média. É grande hoje só pelas cinco estrelas na camisa. Mas o futebol já mostrou que a camisa não pesa tanto quanto em outras épocas. Abre o olho, CBF. Abre o olho, Brasil.

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