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Tempo curto

Diniz não tem tempo hábil para implantar suas ideias de jogo na seleção brasileira

Thiago Henrique de Morais

24/11/2023 5h00

Atualizada 12/01/2024 11h39

Foto: Joilson Marconne / CBF

A missão de treinar uma seleção é uma tarefa árdua. Diferentemente do que acontecia há 30 anos, os treinadores não dispõem de um tempo hábil para impor as suas ideias de jogo. Atualmente, são no máximo cinco dias entre a apresentação e uma partida para implementar alguma ideia aos jogadores. E Fernando Diniz vem sofrendo com isso nesse período de tapa-buraco na seleção brasileira.

Dados do jornal O Globo desta quinta-feira (23) mostraram o quão isso é verdade. Enquanto o pior aproveitamento no início de trabalho de Diniz foi de 61,1%, quando comandou o São Paulo, em 2018, e o Vasco, em 2020, a sua marca inicial na seleção brasileira é de apenas 38,9% de aproveitamento. E esse pouco tempo para impor as suas ideias pode ser um fator crucial.

O atual técnico interino da seleção brasileira tem como suas principais características a posse de bola e evitar que o adversário possa estar com ela. Parece algo fácil de se impor, mas não é. Depende de muito treino, muitos períodos de adaptação até que se chegue ao seu ápice. Na seleção brasileira, ainda mais como tampão, isso não irá acontecer. Não haverá tempo para trabalho, para fazer com que o time jogue com as suas ideias. Treinador de seleção, atualmente, precisa ser pragmático, com ideias simples. Implementar um estilo de jogo diferenciado exige muito tempo, e se continuarmos a tentar, muitas derrotas virão.

Um dos exemplos de fracassos pode ser a própria seleção argentina, algoz do Brasil na última quarta-feira (22) e atual campeã do Mundo. Lionel Scaloni, assim como Diniz, chegou como um tampão. Seu início de trabalho foi tão ruim quanto o do brasileiro, com direito a derrota para a Venezuela por 3 a 1, em amistoso na Espanha. Sem contar o fraco desempenho na Copa América de 2019, com derrota para Colômbia e empate contra o Paraguai. Somente depois daquele período, Scaloni treinador passou a ter bons resultados, conseguindo implementar o seu estilo de jogo a conta-gotas, tendo perdido apenas dois jogos entre agosto de 2019 até novembro deste ano (Arábia Saudita, na estreia da Copa; e para o Uruguai, na última quinta-feira).

Isso tende a ser um dos motivos de grandes técnicos mundiais, como o espanhol Pep Guardiola e o alemão Jürgen Klopp, já terem dito que não gostariam de treinar seleções. Para se ter uma ideia, no futebol europeu atual, são raros os casos de grandes treinadores de ponta assumindo a seleção de seu país. A Espanha conta com Luis de la Fuente, ex-comandante do Athletic Bilbao; Gareth Southgate, treinador da Inglaterra; não atuou em grandes clubes em seu país quando teve a oportunidade. As exceções de momento são Julian Nagelsmann, que esteve no Bayern de Munique antes de assumir a seleção alemã em setembro desse ano, e Luciano Spalletti, comandante italiano que teve o seu melhor trabalho no Napoli, na temporada passada.

Claro que os resultados de Fernando Diniz não são bons e poderiam ser melhores, principalmente contra adversários como Peru e Venezuela, em que o Brasil passou muitas dificuldades. Mas isso não é culpa apenas do treinador. Por mais que seja ele quem escolhe os seus jogadores, fazê-los jogar de sua forma, tão distinta de outros técnicos (não que seja a melhor forma, diga-se), não é fácil. Quem mais deu certo na seleção brasileira, em uma história mais recente, foram justamente os mais pragmáticos possíveis, casos de Felipão, Parreira, Zagallo e Tite – apesar deste último não ter conquistado uma Copa do Mundo, não obteve dificuldades em jogos das Eliminatórias.

Diniz, pelo menos no papel, tem contrato com a seleção até antes da Copa América do ano que vem – justamente quando ele poderia ter um maior tempo de trabalho. Digo no papel, pois a cada dia que passa a vinda de Carlo Ancelotti, atualmente no Real Madrid, é muito incerta, apesar do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, garantir que ele virá – o que acredito que não ocorrerá. Os jogos amistosos contra Espanha e Inglaterra, em março de 2024, podem ser definitivos para saber se ele ficará à frente da seleção, em caso da iminente negativa de Ancelotti à CBF, ou se será trocado por outro, visando a Copa América e o restante das Eliminatórias.

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