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Fala, Torcida
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Insistência grave

A espera por um técnico que parece não querer treinar a Seleção Brasileira mostra que a gestão do futebol brasileiro está descoordenada

Thiago Henrique de Morais

16/06/2023 9h40

Foto: CBF

Por mais uma vez, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, afirmou que pretende esperar pelo técnico Carlo Ancelotti, do Real Madrid, apesar das diversas declarações do técnico italiano de que deseja encerrar o seu contrato com o clube espanhol e sem garantir que, ao encerramento, irá acertar a sua vinda para dirigir a Seleção canarinho. Isso mostra que a gestão do futebol brasileiro está bastante descoordenada.

Ancelotti tem contrato com o Real Madrid até o meio do ano que vem. Até lá, a Seleção Brasileira terá nada menos do que seis jogos das Eliminatórias (um terço da competição), além de dois amistosos já marcados. O treinador só chegaria ao Brasil no meio de 2024, quando irá disputar a Copa América nos Estados Unidos. Isso evidencia a falta de um padrão. Essa insistência com alguém que não deseja treinar a Seleção é tão medíocre que faz com que o Brasil perca ainda mais sua credibilidade no cenário internacional.

O Brasil se vangloria do pentacampeonato para afirmar sua imbatibilidade e que qualquer técnico desejaria treinar a Seleção. Mas não é bem assim. Guardiola já rejeitou a oportunidade anos atrás, e agora Ancelotti, de maneira mais cordial, deixa claro que não tem interesse em treinar a Seleção Brasileira, mesmo que de forma subliminar. Ainda assim, a insistência persiste. Sem dúvidas, esse é o maior erro do atual presidente da CBF nos últimos anos, em meio a uma gestão que, até então, era impecável, considerando os tantos presidentes corruptos que a comandaram.

Ainda em relação ao pentacampeonato, não podemos esquecer que das cinco estrelas no peito que o brasileiro tanto gosta de ostentar, três delas foram conquistadas na Era Pelé, quando tínhamos simplesmente o maior de todos os tempos. Após a saída do Rei, foram necessários 24 anos para voltarmos a conquistar um título, em 1994, quando tínhamos um Romário endiabrado, e em 2002, com um Ronaldo Fenômeno mostrando sua força de superação – algo que muitos duvidavam. Desde então, só acumulamos fracassos. A única vez em que chegamos às semifinais acabamos sendo goleados pela Alemanha, em 2014. E lá se vão mais 24 anos, e tudo indica que esse período vai se estender para 28, 32, 36 anos de fila.

Tudo bem, o futebol brasileiro não conta atualmente com os melhores técnicos. Eu mesmo assumo a culpa ao tentar exaltar o trabalho de Fernando Diniz no Fluminense. Desde aquele momento, o time despencou ladeira abaixo. Diniz é um bom técnico, mas não possui a consistência necessária. Rogério Ceni, que eu cheguei a imaginar como técnico da Seleção Brasileira anos atrás, quando estava no Fortaleza, não conseguiu se destacar nas duas oportunidades em que comandou o São Paulo, no Cruzeiro e no Flamengo – apesar do título brasileiro. Há quem diga que Luxemburgo e Mano Menezes poderiam ser opções, mas ambos já tiveram sua chance na Seleção em seus melhores momentos e não renderam, sendo demitidos no meio de seus trabalhos.

Dessa forma, é melhor buscar técnicos estrangeiros. Abel Ferreira tem feito um trabalho sólido no Palmeiras há anos, mas não é bem visto pela CBF devido ao seu temperamento explosivo à beira do campo – curioso, considerando que a mesma entidade, embora com presidentes diferentes, contratou Dunga para o cargo em duas oportunidades. Jorge Jesus, mesmo tendo conquistado apenas a Copa da Turquia como título na Europa desde sua saída do Flamengo, já se colocou publicamente à disposição para treinar a Seleção Brasileira em diversas ocasiões, inclusive em solo brasileiro. No entanto, a entidade que gere o futebol nacional simplesmente finge que não ouve. Parece ter medo de colocar um técnico tão efusivo, que possa desviar o foco das cinco estrelas no peito, à beira do campo.

Enquanto isso, Ramon Menezes persiste no cargo. O primeiro resultado não foi dos melhores contra Marrocos, uma derrota por 2 a 1, e teremos dois novos jogos contra times africanos nessa Data FIFA. Mesmo não tendo feito um bom trabalho com a Seleção Sub-20, em grande parte devido às limitações impostas pela própria entidade, uma vez que o técnico teve que se dividir entre o Mundial Sub-20 e os amistosos da equipe principal nos próximos dias, ele continuará sendo a válvula de escape, já que a CBF não confia em ninguém além de Carlo Ancelotti. Já mencionei isso anteriormente neste mesmo espaço e volto a repetir: não ficaria surpreso se ele permanecesse à frente da Seleção até 2026, repetindo o que Lionel Scaloni fez na seleção argentina. Não será a melhor opção, mas se é tudo o que se tem e a entidade insiste em desprezar bons técnicos que estão claramente disponíveis, o que mais se pode fazer? Se você só tem uma opção, é ela que você escolhe.

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