Menu
Envelhecer é uma arte
Envelhecer é uma arte

Apresentação

Olá, sou Juliana Gai e, a partir de hoje, estarei por aqui todo domingo, compartilhando com vocês meu conhecimento e minhas experiências sobre envelhecimento humano, saúde e qualidade de vida

Juliana Gai

11/09/2022 8h00

Atualizada 10/09/2022 15h55

Foto: arquivo pessoal

Eu sou Mestre em Gerontologia pela Universidade Católica de Brasília e trabalho com pessoas idosas e suas famílias há mais de duas décadas. Pode-se dizer que minha profissão atual chama-se “gerontóloga”.

Comecei me formando em Fisioterapia na Universidade de Cruz Alta, no RS. Vim morar em Brasília praticamente recém-formada, em busca de estudar Reabilitação Neurológica. Logo comecei a trabalhar em uma clínica atendendo pessoas idosas em fisioterapia aquática. Com o tempo, mais pacientes foram chegando para atendimento ambulatorial e domiciliar. A maioria, idosos.

Escrevi meu primeiro artigo científico para publicação a partir do meu trabalho de conclusão de curso desta primeira pós-graduação. Fui orientada pelo querido e inesquecível Prof. Renato Maia Guimarães, um grande médico geriatria, na Universidade de Brasília. Ele super comprou a minha ideia de escrever sobre tratamento da tontura e prevenção de quedas em idosos por meio de fisioterapia. Eu fui pioneira no uso de Reabilitação Vestibular em pessoas idosas em Brasília. Dei muitas palestras e aulas sobre este assunto por alguns anos.

Daí em diante, eu segui em frente trabalhando em várias áreas relacionadas ao envelhecimento humano e estudando gerontologia. Publiquei mais artigos, virei professora universitária de graduação e pós-graduação. E cá estou: sou alguém que descobriu uma grande paixão na vida.

Eu tenho atração por coisas complexas. Minha mãe sempre conta que eu era do tipo que ficava procurando detalhe em tudo, desde que nasci. Ela conta que eu manuseava os brinquedos por bastante tempo, investigando cada detalhe e nunca quebrei nenhum. Sabia usar uma régua com dois anos de idade, segundo ela.

Acho que algumas pessoas já nascem com um propósito. Este sempre foi o meu propósito: compreender o fenômeno para poder intervir com eficiência sobre ele. Com as minhas próprias mãos. E, neste caso, a jornada da vida, dissecada até o último detalhe, na fase mais desafiadora da existência humana, me fascina, tamanha a sua amplitude.

Mas o que é a gerontologia? E o que faz um gerontólogo?

A gerontologia é a ciência que estuda o envelhecimento humano de maneira integral, contemplando aspectos físicos, psicossociais, históricos e culturais. Não é possível compreender o fenômeno se não for desta forma, afinal, nós sofremos um sem número de interferências no curso de vida desde o nosso nascimento, o que determinará a nossa velhice.

Algo bem ilustrativo para compreender o espectro de influências sobre o modo como os seres humanos envelhecem diz respeito aos dados demográficos do Brasil. Estados mais desenvolvidos economicamente tem um número maior de pessoas longevas. Em contraste, nos estados mais pobres, as pessoas vivem menos.

Acesso à educação e saúde são os principais responsáveis por tal estatística. A interferência da genética tem seu valor sobre como reagimos às adversidades e às doenças. Entretanto, o papel do ambiente e das interações entre os seres vivos é conhecido há muito tempo. Charles Darwin, o famoso naturalista, geólogo e biólogo britânico, já contava histórias sobre isto desde 1859.

Pessoas com nível educacional mais alto podem ter melhores oportunidades de trabalho, entender melhor a importância de cuidar da saúde e prevenir as doenças. Possivelmente, tem mais acesso a médicos, academias de ginástica e outros profissionais, comem melhor, praticam esportes e parecem exercitar mais a mente com leituras e outras atividades intelectuais.

O mesmo não ocorre com quem tem baixa escolaridade, menor acesso a saúde e exerce trabalho braçal intenso.

Infelizmente, a velhice é muito desigual.

E não é só a questão financeira que interfere nesta desigualdade. Todas as pessoas estão sujeitas a ter uma doença crônica ou progressiva, à perda de entes queridos, à solidão e a acidentes de todos os tipos. Sendo assim, elas até podem viver mais, mas nem todas terão uma boa longa vida.

Envelhecer é uma arte! E passa por todas as sete artes, sem dúvida. Pintura, escultura, música, literatura, dança, arquitetura e cinema também se entrelaçam nos conceitos de adaptação do corpo e da mente às transformações associadas ao fenômeno de envelhecer. São expressões das diversas humanidades presentes em nós. E é certeza que vamos ver aqui o poder destes laços. Resiliência, sublimação e arte são profundamente ligados.

Os desafios são imensos e a sociedade brasileira busca, com uma pressa necessária, ressignificar o papel do velho em meio a crises financeiras sucessivas e à necessidade de se inventar uma nova velhice, com maior participação social e valorização dos anos vividos e das experiências dos mais maduros.

Questões como aposentadoria, economia e saúde pública também se fazem presentes ao nos aprofundarmos no fenômeno. É um sinal de desenvolvimento ter pessoas com maior esperança de vida no nosso país. Mas será que a previdência social e o sistema único de saúde vão dar conta do recado? Pergunto-me sobre isto todas as noites e durmo alarmada já há alguns anos. Temo por fazer contas. E confesso estar evitando a matemática, pelo menos antes de me deitar à noite. Há muito o que fazer em relação a isto.

Viver é uma dádiva! E a vida é sempre preciosa. Entretanto, o número de anos vividos deve correr em paralelo com a qualidade de vida e a alegria de viver. As pessoas idosas precisam encontrar um sentido em continuar ativas, precisam de ocupação, de atenção, de respeito e de cuidado adequado por parte da sociedade.

Nestes mais de 20 anos, eu estudei muito. Para além da fisioterapia, aprendi estimulação cognitiva, estudei psicanálise, fui também autodidata, sempre correndo atrás de novas descobertas sobre mente, corpo, sociedade e cultura. E ensinei um tanto também!

A paixão pelo conteúdo complexo, mas riquíssimo, da gerontologia, só aumenta a cada ano e agora eu mesma me vejo preocupada com o meu envelhecimento ativo e saudável. No último ano, resolvi emagrecer e perdi quase 14 Kg, passei a controlar mais o consumo de bebida alcóolica, sigo dieta, malho três vezes por semana. Cuido da minha saúde mental. Deixei de me preocupar só com o retoque do botox e passei a ter comigo a mesma preocupação integral que tenho com meus clientes. Quero permanecer no mercado de trabalho até enquanto eu sentir esta felicidade por fazer o que eu amo.

Tento cuidar também das amizades e do casamento, além de criar uma relação de cumplicidade e confiança com minha única filha. É um contexto a ser construído. Sei bem disso. Claro que eu corro riscos. Todos nós corremos. Viver é um risco por si só. Mas tudo o que depender da minha decisão de viver mais e melhor, eu o farei. Assim como compartilharei aqui com vocês o meu conhecimento para que vocês também possam tomar decisões mais favoráveis e envelhecer com boa qualidade de vida ou encontrar mais conforto para enfrentar algum desafio do envelhecimento.

Vou falar sobre tudo isso por aqui na coluna. Vou falar de escolhas de vida e de como podemos driblar o tempo e nos manter, sobretudo, com a mente jovem e o corpo funcional. Vou falar de questões sociais, culturais e políticas. Enfim… estarei aqui para falar desta imensidão fascinante que é a ciência gerontológica a serviço do envelhecimento ativo, saudável e feliz.

Vamos descobrir juntos que existe beleza no envelhecer.

Fiquem comigo!

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado