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Do Alto da Torre
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De olho no Planalto

A proposta tem base na insatisfação do eleitorado com o presidente Lula nessa área, além de ser uma das pautas que o governador surfa em popularidade

Eduardo Brito

24/01/2024 18h38

Em tese, a eleição do governador goiano Ronaldo Caiado para presidir o Consórcio Brasil Central, nesta terça-feira, 23, seria apenas uma formalidade, para cumprir rodízio entre eles.

Composto por sete governadores e voltado para o desenvolvimento regional o Consórcio não conta com muitos recursos próprios e, ao menos até agora, com instrumentos políticos seguros. No entanto, Caiado fez, ao assumir a presidência, um discurso forte, cobrando o avanço da política de tolerância zero na segurança dos estados.

A proposta tem base na insatisfação do eleitorado com o presidente Lula nessa área, além de ser uma das pautas que o governador surfa em popularidade. A estratégia de Caiado ao pautar a segurança pública reforçou a expectativa de que concorra à presidência da República em 2026.

“Sei como recebi o Estado e sei como é ter tolerância zero e segurança plena. A população também. Em áreas do entorno, por exemplo, onde havia maior criminalidade, entramos com a política de tolerância zero e fui reeleito com mais de 70% dos votos em algumas dessas cidades”.

Só um governista

Dos sete governadores que compõem o consórcio só um está alinhado ao Palácio do Planalto. Aliás, nem tanto assim. É Carlos Brandão, do Maranhão, que pertence ao PSB do antecessor Flávio Dino, de quem já foi vice, mas tem dado alguns sinais de independência.

Dos demais, nenhum apoiou Lula na eleição passada: Ibaneis Rocha do Distrito Federal, Marcos Mendes de Mato Grosso, Eduardo Riedel do Mato Grosso do Sul, o coronel Marcos Rocha de Rondônia e Vanderlei Barbosa do Tocantins, além do próprio Caiado.

Administram uma área de 2,5 milhões de quilômetro quadrados e 875 municípios. Fora o alinhamento político na eleição passada, não há maiores sinais de que caminhem juntos na próxima, mas a hipótese não pode ser afastada. Até o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, dá sinais de aproximação com Caiado.

Quase terceira via

A estratégia do governo Lula para as eleições de 2026 já está desenhada e o que ocorre hoje em São Paulo constitui uma amostra. Lula quer reproduzir a polarização com Bolsonaro, confiando na possibilidade de repetir o resultado da última sucessão presidencial. Ao falar sobre a eleição na capital de São Paulo, Lula classificou que a disputa é “muito especial” por ser uma “confrontação direta entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e o atual presidente; entre eu e a figura”, recusando-se a citar o nome de Jair Bolsonaro.

A fórmula do Planalto é formar mais uma falsa frente ampla – no caso bem mais à esquerda, com PSOL e PT – enquanto cola no rival Ricardo Nunes, que é do MDB, a pecha de bolsonarista. No plano nacional, com o ex-presidente inelegível, Lula pretende fazer o mesmo. Se o candidato de oposição for Tarcísio de Freitas, fica mais fácil, pois será lembrado como ex-ministro de Bolsonaro.

Mas Tarcísio pode disputar a reeleição como governador de São Paulo. Ronaldo Caiado já cumpre o segundo mandato. E fica mais difícil associá-lo de forma tão clara a Bolsonaro. Mais, Caiado pode fazer tudo o que Lula não quer, uma abertura para o centro, chegando até a centro esquerda e absorvendo o eleitorado que ficou com Lula só pela rejeição a Bolsonaro.

É bom lembrar que a diferença entre Lula e Bolsonaro foi de apenas 1,8% dos votos, ou seja, 2,390 milhões em números absolutos. Enquanto isso, os votos brancos e nulos (ou seja, de eleitores que ostensivamente rejeitaram ambos os candidatos) chegaram a 3,6% dos votos, o correspondente a 5,7 milhões de votantes. Essa será a aposta de Caiado ou de qualquer outro candidato com o seu perfil.

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