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Cinema com ela
Cinema com ela

Sofia Coppola cria retrato íntimo e claustrofóbico sobre a solidão feminina em “Priscilla”

Baseado no livro de memórias ‘Elvis and Me’, co-escrito por Priscilla Presley, está cinebiografia mostra como uma estudante ingênua ficou presa em um relacionamento co-dependente com o rei do rock

Tamires Rodrigues

21/12/2023 8h00

Cailee Spaeny, Jacob Elordi vivem Priscilla e Elvis Presley em longa de Sofia Coppola — Foto: Divulgação/Mubi e 02 Filmes

Baseado nas memórias de Priscilla Presley de 1985, “Elvis and Me”, Sofia Coppola faz um retrato assustadoramente envolvente, real e claustrofóbico em seu novo longa-metragem, “Priscilla”. Noiva adolescente, concubina, co-depende é assim que Coppola retrata a jovem esposa do rei do rock Elvis Presley.

A cineasta conhecida por filmes que abordam a melancolia solitária feminina como em “Encontros e Desencontros” (2003), “As Virgens Suicidas” (1999) ou “Maria Antonieta” (2006), coloca o espectador do lugar da garota que sempre ficou em segundo ou até terceiro plano, presa por sua ingenuidade a um homem ainda na adolescência, impedida de lutar pelos sonhos que ela mesma não conhecia, colocada como um passarinho na gaiola de Graceland.

O filme segue o ponto de vista de Priscilla (Cailee Spaeny) após conhecer o astro do rock Elvis Presley (Jacob Elordi) em uma festa, quando ela ainda era apenas uma adolescente. Mas a paixão que, inicialmente, era formada por parceria e vulnerabilidade logo toma um rumo conturbado quando o cantor começa a mostrar um lado diferente daquele venerado nos palcos.

Foto: Divulgação/Mubi e 02 Filmes

O retrato de Sofia Coppola é cativante, principalmente na adolescência de Priscilla que inicia o longa aos 14 anos e se joga a um amor juvenil que nada poderia dar certo, pois desde o primeiro momento fica claro que em primeiro lugar estava sua vida como astro soberano do rock. 

A cartada certeira de Coppola é mostrar que na casa bonita, como rainha consorte da França ou esposa de um fotógrafo no Japão ou até mesmo a primeira dama do rock, com cachorrinhos de presente, roupas bonitas é viver presa quando você não toma as rédeas da sua vida e deixar que outros escolham o que você deve ser, com as migalhas que recebe pelo caminho. 

Coppola não santifica ou marginaliza Elvis, muito menos Priscilla, a diretora coloca em todos os pratos o casamento falido, um homem cuja a fama pode escolher o que quer na hora que deseja com memórias exclusivas da visão da eposa que sempre ficou de lado. Não é fácil olhar para um homem que era um showman natural que conquistou gerações e gerações como sua música e dança, agora sendo visto como um marido que nada priorizava a mulher, infantil, sedento por ganhar qualquer briga, afinal ele que importava. 

Foto: Divulgação/Mubi e 02 Filmes

Elvis fica de lado na trama, mesmo muito bem interpretado por Jacob Elordi em seu melhor ano em Hollywood. O destaque principal é claro fica para Priscilla de Cailee Spaeny que interpreta com delicadeza e mistura a mulher solitária e frustrada com seu amor juvenil, arrependida não! Ansiosa, triste na espera por alguém que nunca está lá. Essa é a Priscilla de Caille, muitas vezes vista com sorte por ter fisgado o maior astro da época, mas na verdade um passarinho preso sem poder voar. 

Lógico que cinebiografias são recortes, mas “Priscilla” não lembra em nada o espetáculo de “Elvis” de Baz Luhrmann que nunca mencionou a violência doméstica ou deixou claro a idade da protagonista de Coppola que no caso tinha apenas 14 anos e priorizou colocar um casamento perfeito mesmo com os casos de infidelidades públicas do astro. O relacionamento colocado sob o poder de Presley seja pela idade ou fama é claramente explicado no longa.

Um bom exemplo é quando Elvis chega a fazer as malas da jovem quando confrontado sobre suas amantes ou quando pediu um tempo da relação com Priscilla já grávida, no final dos anos 1960, sempre voltando atrás para mostrar que ela só estava naquele lugar porque ele queria não o contrário. 

Foto: Divulgação/Mubi e 02 Filmes

Sofia Coppola tem um dom para criar cenários deslumbrantes que casam com a trajetória dos seus personagens, o longa abre com um close-up focado na protagonista com pés descalços em um tapete cor de rosa com seu visual mais conhecido o delineador em forma de asa de morcego com cílios postiços e cabelos pretos. Corta para a adolescência sozinha na Alemanha em uma lanchonete, tudo está perfeitamente no lugar, pois naquele local com uma saia midi, jukebox e sapatos oxfords algo mudaria na vida de uma menina. 

Conclusão

Sofia Coppola cria mais um vez com maestria a melancolia feminina, aqui prontamente colidindo com a frustração a solidão de Priscilla nos anos que que colocou Elvis como o principal motivo da sua existência por amor ou falta de experiência. Pois a partir do momento que Priscilla crescia, Elvis se tornava mais infantilizado, sem charme e seu amor juvenil não existia mais. 

Foto: Divulgação/Mubi e 02 Filmes

A cineasta sabe que deve sair quando finalmente sua protagonista, ou heroína consegue deixar suas amarras, ela não estava realmente presa a circunstância a colocava naquele lugar. E aquela claustrofobia vista em 113 minutos desaparece quando Priscilla foge ao som de Dolly Parton. 

Confira o trailer:

Ficha técnica:

Direção: Sofia Coppola;

Roteiro: Sofia Coppola;

Elenco: Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post

Gênero: Drama, biografia;

Distribuição: Mubi e 02 Filmes;

Duração: 113 minutos;

Classificação Indicativa: 16 anos;

Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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