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Ciência da Psicologia
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O perigo da conformidade (ou será da geração que ela tem criado?)

A conformidade pode ocorrer quando as pessoas se sentem socialmente pressionadas a se conformar, mesmo que isso signifique abandonar suas próprias percepções ou julgamentos

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

07/11/2023 10h13

Imagem ilustrativa

Vimos nas últimas colunas uma série de experimentos sociais. Entretanto, o que muitos podem não ter percebido é que a maioria deles trata de um assunto de uma seriedade e atualidade preocupante: a conformidade.

Trata-se de um fenômeno intrigante na psicologia social, que desempenha um papel significativo na maneira como os indivíduos se comportam e interagem dentro de grupos sociais. A conformidade se refere à tendência das pessoas em modificar seus comportamentos, atitudes e opiniões para se alinharem com as normas e expectativas do grupo ao qual pertencem.

As raízes da conformidade podem ser traçadas até os experimentos clássicos conduzidos pelo psicólogo Solomon Asch na década de 1950. Como falamos na coluna da semana passada, vocês devem lembrar que, em seu estudo, Asch pediu aos participantes que julgassem a igualdade de comprimento de linhas desenhadas em cartões. Os resultados revelaram que, mesmo quando as respostas corretas eram óbvias, muitos participantes cederam à pressão do grupo e deram respostas erradas.

A conformidade pode ocorrer quando as pessoas se sentem socialmente pressionadas a se conformar, mesmo que isso signifique abandonar suas próprias percepções ou julgamentos. O desejo de se encaixar e evitar o conflito com o grupo desempenha um papel fundamental nesse processo. E aqui, no meu entender, está o maior problema que vivemos na atualidade. Muitas pessoas, incluindo intelectuais, desistiram de lutar por um país melhor. Aliás, não só desistiram, como estão saindo do Brasil em busca de cenários mais promissores.

Quais os fatores que influenciam a conformidade?

Tamanho do grupo: a conformidade tende a aumentar à medida que o grupo de referência cresce. Quando um grande número de pessoas expressa uma opinião ou comportamento, a pressão para se conformar também aumenta.

Normas sociais: as normas sociais são as expectativas e padrões de comportamento que são considerados apropriados em uma sociedade ou grupo. As pessoas têm uma tendência a se conformar com essas normas para evitar o isolamento social e a desaprovação.

Ambiguidade da situação: em situações ambíguas ou de incerteza, as pessoas tendem a confiar mais nas pistas sociais, o que pode aumentar a conformidade, já que buscam orientação do grupo.

Status e autoridade: a conformidade pode ser influenciada pela autoridade percebida de um líder ou figura de status dentro do grupo. As pessoas tendem a ser mais suscetíveis à conformidade quando lideradas por indivíduos com poder ou expertise.

Cultura e valores individuais: a cultura desempenha um papel importante na conformidade. Em algumas culturas, a conformidade pode ser mais valorizada, enquanto em outras, a expressão individual pode ser mais enfatizada.

Temos acompanhado pelas diversas mídias um verdadeiro show de horrores envolvendo todos os aspectos descritos, sem percebermos as verdadeiras consequências da conformidade.

Como todo processo, a conformidade pode ter consequências, tanto positivas quanto negativas. Entre as reações positivas, está o fortalecimento da coesão e a harmonia do grupo, além de uma melhor comunicação e coordenação de esforços em direção a objetivos comuns. O que claramente não é o nosso caso no Brasil, já que a cada dia aportam em nossos lares, escolas, universidades, ambientes de trabalho e social, pessoas classificadas como “influentes”, seja no âmbito digital, seja no mundo do entretenimento, sem qualquer formação formal ou mesmo conhecimento aprofundado de assuntos de grave complexidade. Tais pessoas, ao apresentarem publicamente suas opiniões, têm criado um verdadeiro exército de imbecis.

E antes que algum membro deste ‘exército’ se sinta no direito de reclamar por se sentir ofendido, vale destacar que a palavra imbecil significa: aquele que denota inteligência curta ou possui pouco juízo; idiota, tolo.

O processo de “imbecialização” pelo qual estamos passando tem gerado sérios comprometimentos à nossa sociedade, e aqui me refiro especialmente aos problemas de cunho intelectual. De acordo com o neurocientista francês Michel Desmurget, estamos pela primeira vez na história da humanidade com uma geração com QI mais baixo do que seus pais, ou seja, estamos decrescendo intelectualmente.

De forma preocupante, o chamado “efeito Flynn”, que demonstrava o aumento de QI de geração em geração, começou a se reverter em vários países, como Noruega, Dinamarca, Finlândia, Holanda e França. Nestes, os “nativos digitais” são os primeiros filhos a ter QI inferior ao dos pais.

Vale ressaltar que, de acordo com Desmurget, o problema não se centra no inevitável, irreversível e importante desenvolvimento tecnológico, mas especificamente no tipo de conteúdo diário absorvido por horas pela garotada.

A conformidade excessiva tem nos levado a decisões grupais inadequadas, ou mesmo, ruins. O chamado “pensamento de grupo”, no qual a busca de consenso pode suprimir vozes dissidentes e inibir a criatividade e liberdade, tem dado espaço à violência, seja ela coercitiva ou idealista, que, por sua vez, pode levar a comportamentos como discriminação e exclusão.

Ocorre que, como estamos sob a regência de um exército de imbecis, muitos acabam por ultrapassar o limite do razoável em defesa de bandeiras indefensáveis, como, por exemplo, classificar como racismo objetos astronômicos que possuem densidade infinita e são capazes de absorver todos os elementos que ultrapassam o seu horizonte de eventos — os chamados buracos negros.

Realmente, a conformidade gera a subestimulação intelectual, que impede o cérebro de desenvolver todo o seu potencial.

Embora a conformidade seja uma parte natural da vida social, é importante compreender os fatores que a influenciam e as consequências que ela pode ter. Isso permite que os indivíduos e grupos usem esse conhecimento para tomar decisões informadas e promover comportamentos positivos e saudáveis dentro da sociedade.

O fenômeno negativo da conformidade social no Brasil tem transformado Nelson Rodrigues em um profeta, afinal, de acordo com o famoso escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos…”

Até a próxima…

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