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Ciência da Psicologia
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Explicando a dezembrite

É em dezembro que fazemos a “contabilidade” do ano, onde percebemos as falhas e promessas não cumpridas e esquecemos do que deu certo, pois estamos mergulhados nas mídias sociais comparando nossa vida com a das celebridades

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

26/12/2023 11h36

Imagem ilustrativa

Uma infecção crônica ocorre devido a infecções persistentes; exposição prolongada a agentes tóxicos, exógenos ou endógenos; e a autoimunidade. Alguns sintomas de inflamação crônica de baixo grau às vezes são tão comuns que ficam camuflados, como fadiga, fraqueza, infecções recorrentes e resfriados constantes. Outro sinal da inflamação crônica é quando aparecem problemas de pele recorrentes, como eczema e psoríase, decorrentes de somatização.

Se você desconfia que o que está causando a inflamação crônica são hábitos de vida pouco saudáveis, uma primeira forma de afastá-la é mudá-los. Médicos dizem que “se já começou [a inflamação crônica], é um problema, porque o fogo já está se alastrando e o terreno está queimado. Quanto mais cedo reverter isso, melhor”.

O mesmo ocorre nesta época do ano com a saúde mental de muitas pessoas. A exemplo dos sintomas apontados no processo inflamatório abordado, muitas pessoas desenvolvem, em dezembro, sintomas que envolvem fadiga, fraqueza, falta de vontade, ansiedade, irritabilidade, depressão e até processos alérgicos fruto de somatização. E isso já tem um nome: dezembrite.

Fusão da palavra “dezembro” com o sufixo “ite”, que significa inflamação aguda ou crônica, a dezembrite ocorre quando um indivíduo é exposto de forma prolongada a agentes tóxicos, exógenos ou endógenos; e ainda possui baixa resiliência.

Atualmente estamos expostos a todos os tipos de toxidade com as mídias sociais. A cada dia, pessoas com os mais diversos perfis apresentam, em sua maioria, conteúdos fúteis cujo objetivo é lucrar sem se preocupar com as consequências. E para piorar, são seguidos por uma legião de pessoas donas de uma fragilidade psíquica e sem nenhum traço de resiliência.

É importante lembrar que dezembro é um mês de rupturas e reflexão. Temos ruptura com o fim do ano e/ou semestre acadêmico; muitas empresas demitem em massa, gerando rupturas forçadas; e ainda somos bombardeados com filmes de Natal onde tudo é mágico e termina bem, ao contrário da realidade do dia a dia em que estamos
inseridos, onde ser feliz nem sempre é uma opção.

É em dezembro que fazemos a “contabilidade” do ano, onde percebemos as falhas e promessas não cumpridas e esquecemos do que deu certo, pois estamos mergulhados nas mídias sociais comparando nossa vida com a das celebridades.

Não apreciamos mais um bom almoço, mas fotografamos e compartilhamos o prato. Estamos ao vivo em um show, mas não assistimos ao vivo, já que nossa maior preocupação é gravar o show e não aproveitá-lo.

O fenômeno dezembrite é mais uma invenção de uma adoecida sociedade que precisa justificar seu fracasso, culpando o fim de ano como se não existisse amanhã. Esquecemos que os dias de dezembro são, na verdade, dias normais como quaisquer outros. Em um determinado dia, dormimos em um ano e acordamos em outro.

É hora de controlarmos novamente nossas vidas. Precisamos viver o presente de forma presente, e não online. Temos de voltar a prestar atenção. É necessário voltarmos a viver para reaprender a conviver.

É preciso entender que cometeremos falhas, que erraremos, que fracassaremos da mesma forma que acertaremos, e nos adaptaremos à nova realidade imposta por mais duro que seja nosso futuro.

As angústias e sofrimentos de fim de ano têm, na dezembrite, sua representação máxima, e com ela os insistentes pedidos de “antídoto” que vão desde os rituais supersticiosos, perpassando as religiões e chegando até a busca pelo autoconhecimento e a resposta da principal questão em nossas vidas: quem sou eu?

Até a próxima.

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