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Ciência da Psicologia
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Dengue e Covid-19: o impacto invisível da dor

Além das consequências físicas, pandemias trazem grandes desafios psicológios e graves transtornos à sáude mental.

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

05/03/2024 16h16

desequilíbrio mental - saúde mental - depressão

Na semana passada, passei por uma das experiências mais difíceis de minha vida e carreira: fui um dos milhares de brasileiros infectados pela dengue. Foi uma dengue severa que resultou em queda de plaquetas e tudo mais. No entanto, não estou aqui para falar do meu caso, mas sim do impacto psicológico que isso tem na população.

As pandemias não são apenas crises de saúde física; elas também desencadeiam uma crise invisível, mas igualmente devastadora, na saúde mental das populações afetadas. Desde o surgimento da COVID-19, o mundo tem testemunhado uma preocupação crescente com o bem-estar psicológico das pessoas, à medida que enfrentam desafios sem precedentes, como isolamento social, incerteza econômica, medo do contágio e luto.

A relação entre pandemias e saúde mental é complexa e multifacetada. E o que mais me incomoda é a narrativa midiática por trás de um assunto tão sério como nosso sistema de saúde deficiente.

E quando falo em narrativa, refiro-me ao uso político ideológico, utilizado de forma covarde por diversos setores que não se preocupam com o real problema, que é, como abordado, nosso sistema de saúde deficiente, e aproveitam a oportunidade do caos para culpar este ou aquele governo.

Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que são crises diferentes. Uma coisa foi, e é, a Covid (que ainda está entre nós e matando como a dengue); outra, a atual crise da dengue. São formas diferentes de controle e cuidado, por isso, nós, profissionais da saúde, temos a obrigação de explicar à população que não se trata de uma ação política ideológica e sim de uma questão maior, que mais uma vez envolve vidas humanas, e como sempre, os menos favorecidos sofrem mais.

Já vimos o quanto o distanciamento social, uma intervenção crucial para conter a propagação de doenças infecciosas, pode levar à solidão, ao isolamento, à perda de empregos e a tudo mais que acompanha essa medida extrema. O contato humano é essencial para o bem-estar emocional, e a falta dele pode resultar em sentimentos de tristeza, ansiedade e depressão. Para muitas pessoas, especialmente aquelas que vivem sozinhas ou estão longe de suas redes de apoio, o isolamento prolongado pode ser especialmente desafiador.

A incerteza em torno das pandemias, incluindo preocupações com a saúde pessoal e a saúde de entes queridos, bem como econômicas, pode levar a altos níveis de estresse e ansiedade. O medo do contágio, somado à sobrecarga de informações e à disseminação de notícias falsas, amplificam esses sentimentos.

Pandemias frequentemente resultam em perdas significativas, incluindo a morte de entes queridos. Além disso, os profissionais de saúde e outros trabalhadores essenciais podem experimentar traumas relacionados à exposição direta à doença e ao sofrimento humano. Somente no ultimo dia 29 de fevereiro, no Brasil, registramos mais de 1 milhão de casos de dengue; e as mortes chegaram a 214. Com a alta de casos, sete estados (Acre, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo) e o Distrito Federal declararam emergência em saúde pública por causa da dengue.

Embora o reconhecimento sobre a importância da saúde mental tenha aumentado nos últimos anos, muitas comunidades ainda enfrentam desafios significativos no acesso ao tratamento dessas doenças. Durante pandemias, esses desafios podem ser exacerbados, com recursos limitados direcionados para a resposta à crise de saúde física. Além disso, o medo do contágio pode dissuadir as pessoas de buscar ajuda profissional para cuidar desses problemas.

Pandemias, muitas vezes, são acompanhadas por sentimentos de medo e xenofobia. Minorias étnicas e grupos marginalizados podem enfrentar estigma e discriminação adicionais, exacerbando os desafios de saúde mental que já enfrentam. A disseminação de informações imprecisas ou estigmatizantes sobre a origem ou transmissão da doença agravar esses problemas. Muitos leitores desta coluna são jovens e não passaram pelo absurdo que foi o surgimento da AIDS.

É crucial que os governos, organizações de saúde e comunidades reconheçam o impacto significativo das pandemias na saúde mental. Além disso, é importante lembrar que a saúde mental é uma parte fundamental do bem-estar humano e deve ser uma prioridade durante todas as fases de uma pandemia, desde a preparação até a recuperação.

Em tempos de crise global, cuidar da saúde mental é tão importante quanto cuidar da saúde física. Por meio do apoio mútuo, compaixão e intervenções eficazes, podemos ajudar uns aos outros a navegar por esses tempos difíceis e emergir mais fortes e mais resilientes que nunca.

É horas das universidades assumirem seu papel de disseminadoras de conhecimento e não de formadoras de militantes defensores do indefensável, enfrentando-se em perdidas batalhas ideológicas, culpando aqueles cujo pensamento difere de seus ideais, sejam eles quais forem, enquanto o real problema continua sendo mascarado.

Somente com ciência podemos combater toda e qualquer forma de ideologia. Somente com conhecimento nossa população vai parar de sofrer em filas de hospitais, em postos de saúde, pois saberemos não só eleger nossos representantes, mas acima de tudo, cobrar de nossos dos eleitos nosso direito à saúde.

Ou vocês acreditam que nossos senadores, deputados, ministros e seus familiares estão na fila do SUS esperando para serem atendidos?

Até a próxima!

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