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Analice Nicolau
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‘Super nanny’ brasileira: Thaty ganha prêmio de melhor babá internacional e fala sobre sua trajetória no ramo

Há quase 20 anos residindo nos Estados Unidos, com dois mestrados pela Cambridge College, livro publicado e cursos voltados à área, a babá educadora faz sucesso entre pais e aspirantes à profissão

Analice Nicolau

18/05/2022 14h30

Atualizada 19/05/2022 13h51

Há quase 20 anos residindo nos Estados Unidos, com dois mestrados pela Cambridge College, livro publicado e cursos voltados à área, a babá educadora faz sucesso entre pais e aspirantes à profissão

Thaty Oliveira foi recentemente nomeada “Babá do Ano Internacional 2022”, pela Associação Internacional de Babás. Com mestrado em Educação e Gestão de Liderança Humana pela Cambridge College, importante instituição de ensino superior dos Estados Unidos, Nanny Thaty, como é conhecida, atua como babá educadora há mais de dez anos.

Altamente requisitada pelos pais, devido ao seu vasto conhecimento e experiência com desenvolvimento infantil, Thaty conta que seguir essa profissão foi mais uma questão de aceitação do que, de fato, uma decisão.

“Eu já sabia o que eu estava fazendo, que o meu trabalho era o de uma babá educadora, mas eu não sabia que ser babá era uma escolha de carreira. Então, foi a fase em que eu decidi mesmo deixar de ser professora e fazer as pazes comigo mesma, e reconhecer o trabalho que eu fazia em casa como uma babá educadora, como uma professora particular. Foi a parte em que eu deixei pra trás o que a sociedade fala, parei de dar bola e decidi seguir meu coração mesmo. É isso que eu faço, é isso que eu gosto. Eu já sabia o valor do trabalho que eu estava fazendo, então foi assim, uma transição pessoal, mais do que tudo”, conta.

A decisão de seguir esta carreira veio oficialmente em 2012, depois do meu último ano como professora, e a partir daí Thaty começou a divulgar os seus serviços de forma mais efetiva.

Para quem acredita que ser babá é algo simples, a profissional demonstra que não é bem assim. Com diversas formações acadêmicas e qualificações, Nanny construiu sua notoriedade no ramo através de muito esforço e dedicação e, recentemente,concluiu uma certificação na universidade Harvard, chamada de “Certificação de Liderança da Primeira Infância”, um programa de pós-graduação que durou dois anos.

“As minhas formações acadêmicas começaram antes, continuaram durante e continuam até depois (de se tornar babá educadora). No Brasil, antes de vir pra cá (EUA), eu já comecei a cursar o Normal Superior, que na época foi a primeira turma que deixou de ter o Magistério”, relata.

E continua: “Quando eu vim para os Estados Unidos, como ‘Au Pair’ (modalidade de intercâmbio na qual a pessoa viaja para trabalhar cuidando dos filhos de uma família do país de destino), voltei a fazer Letras e, quando eu voltei de vez pra cá, em 2006, eu terminei o meu Bacharel em Educação Infantil. Depois disso, eu continuei fazendo mestrado, fiz o MBA também. Tenho mestrado em Educação e mestrado em Gerenciamento de Pessoas e Liderança, que eu fiz mais para trabalhar com os pais”, conclui.

A Babá do Ano, que reside há 19 anos em Cambridge, estado de Massachusetts (EUA), veio de Lençóis Paulista, interior de São Paulo, e conta que foi morar no exterior através do “Au Pair”, já como babá, e que experiência de trabalho não é bem como muitos intercambistas acreditam aqui no Brasil.

“Eu vim pra cá como ‘Au Pair’, que vendem no Brasil como se fosse um intercâmbio, que você vem aqui pra ser tipo uma irmã mais velha, mas a realidade logo percebi que não é isso. É um programa de trabalho mesmo, você chega a trabalhar até 45 horas por semana, com crianças, então eu tive muita sorte. Eu amei a minha família, eles me deram muito direcionamento nessa questão de cuidar de criança em casa, porque, até então, eu tinha uma certa experiência dando aula de inglês, mas realmente não com cuidados particulares de criança, na residência das pessoas, então foi aqui mesmo (nos EUA) que eu ganhei experiência, continuei fazendo e me apaixonei”, explica.

Muitos desafios aguardam quem deseja atuar como babá em outros países, como adaptação à cultura local, clima diferente do Brasil, formas diversas de educação, língua falada no país, e muito mais. Nanny diz que, para ela, o maior desafio que enfrentou, no início da profissão, foi se socializar com outras babás para trocar ideias, já que a atividade não possibilita ter colegas de trabalho, por exemplo.

“Você trabalha dentro de uma casa de uma família e não tem colegas de trabalho, e eu, particularmente, sou bem tímida, apesar do pessoal não acreditar nisso. Mesmo nos parquinhos, lugares em que geralmente as babás se conhecem, eu não conheci muitas babás, principalmente no começo. Passaram uns dois anos para eu ter colegas de trabalho, sabe? Eu tinha algumas ‘Au Pairs’ amigas, mas que também moravam muito longe. Então, seria mais esse isolamento que eu senti em não poder trocar essas ideias, as experiências, porque era uma coisa nova pra mim”, diz.

Sobre os preconceitos que ainda pairam em relação à profissão, Thaty diz que eles existem sim, mas não só no Brasil. “Muitas pessoas não consideram isso um trabalho, uma carreira, ser babá não é uma profissão que você ouve seus pais falando ‘quando minha filha crescer eu gostaria que ela fosse babá’, então há uma certa ignorância sobre o que envolve ser uma babá, de todas as responsabilidades, de todas as habilidades que a pessoa precisa ter. O pessoal acha que cuidar de criança é só aquele instinto materno que vem, manter a criança viva e pronto, e não é”, fala.

E ser babá nos Estados Unidos é diferente de atuar no nosso país? Nanny Thaty diz que sim e que a principal diferença entre os países é a valorização dada no exterior à ocupação.

“Por mais que a gente sofra ainda um certo preconceito pela escolha de carreira, eu creio que tem muito mais validação, muito mais reconhecimento da importância do trabalho que a babá faz nos primeiros anos (da infância) do que no Brasil. E eu creio que o nosso papel é bem mais definido. O trabalho de uma babá aqui, principalmente uma babá educadora, é passar o tempo com a criança, ter aquela atenção individualizada, levar para o parquinho e, no Brasil, é ser a babá de ‘mil e uma utilidades’, a babá que não só cuida da criança, mas também da casa”, alerta.

E continua: “Nos EUA, os pais realmente procuram babás que tenham um conhecimento a mais, esse interesse em conhecer mais sobre desenvolvimento infantil. Às vezes, no Brasil, a gente sabe de onde veio nosso trabalho, ele tá enraizado também na escravidão, então o jeito que as pessoas olham pra essa profissão é bem diferente”, conclui.

Thaty diz que para se tornar babá educadora nos Estados Unidos e se destacar, é necessário que a candidata se dedique a estudar sobre desenvolvimento infantil e formas de educar as crianças, já que muitos pais vão questionar isso na hora da entrevista. A profissional fala que não necessariamente a babá precisa ter cursos mirabolantes, mas que ler bons livros sobre o assunto pode ajudar.

Além disso, Nanny Thaty alerta para a necessidade da candidata entender quais são os seus direitos profissionais no país em que irá atuar.

“Eu trabalho com muitas meninas que, às vezes, por não terem documentação, se sentem inseguras e acabam sendo exploradas por acharem que não têm outra saída, e não é verdade. Temos leis aqui (nos EUA) que realmente protegem trabalhadoras domésticas, independente da questão de papelada, de ter Green Card ou não, então é bom saber sobre isso também e, lógico, peça ajuda a alguém que faça esse trabalho ou simplesmente tenha alguém lá para te apoiar quando você precisar de alguma coisa”, conta.

Sobre seus planos futuros, Thaty revela que deseja continuar estudando muito, inclusive quer se preparar para entrar em um doutorado até o ano que vem. Além disso, a babá educadora pretende lançar, em português, um programa que já existe em inglês, que funciona como uma educação contínua para babás e para pais, e publicar o seu segundo livro.

“É um curso com aulas que dou todo mês, então é tipo uma assinatura, que todo mês você tem direito a duas aulas, que falam sobre desenvolvimento infantil, tiram dúvidas, falam sobre contratação de babás e etc. Aqui nos EUA, para você ser uma professora, até de creche, você precisa completar, pelo menos, dez horas de educação contínua, todo mês. Então, foi com base nisso que eu criei esse programa”, finaliza Nanny Thaty, que também presta consultorias e que pretende, em breve, se lançar como palestrante, não só no exterior, mas também em seu país natal, para contribuir com a comunidade brasileira.

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