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Analice Nicolau
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Em livro, Eduardo Ramos conta como saiu da beira do suicídio e venceu a depressão

À beira do suicídio, autor enfrenta a doença com autoconhecimento e filosofia

Analice Nicolau

25/08/2021 20h00

À beira do suicídio, autor enfrenta a doença com autoconhecimento e filosofia

“A viagem fora programada há seis meses e nela havia uma convicção: ou voltaria um novo homem, ou não voltaria ninguém”. Em Conatus e as conotações do deserto que há em mim (Editora Autografia), o escritor Eduardo Ramos conta de forma corajosa sua luta para vencer a depressão. A obra de estreia do brasiliense traz um momento crucial vivido no deserto do Atacama quando o autor esteve a um passo de cometer suicídio e foi salvo por uma desconhecida. O fato desencadeia uma busca desenfreada para encontrar a mulher misteriosa.


Com uma narrativa envolvente, que mistura autobiografia e ficção, Eduardo Ramos coloca o leitor no cenário árido e enigmático do deserto, ao mesmo tempo em que discute os males da construção social que, muitas vezes, colabora com estatísticas negativas impactantes. De acordo com o relatório Suicide worldwide, da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019, 700 mil pessoas tiraram a própria vida. Uma em cada 100 mortes no mundo ocorre por suicídio. É uma das principais causas de morte entre jovens de 15 a 29 anos.


Porém, é da filosofia do holandês Baruch Spinoza que o autor traz o conceito de “Conatus” que, entre outras interpretações, significa a força empregada por qualquer ser para preservar e aprimorar a própria existência. É por meio do Conatus e da ideia do Deus de Spinoza, que é a própria natureza, que o autor reflete sobre a possibilidade do ser humano se adaptar e conviver melhor com os obstáculos da vida.
Compartilhando experiências pessoais, Eduardo Ramos desmistifica a depressão e mostra que por trás de uma rotina comum, podem estar indivíduos doentes. “A pessoa com depressão também sorri. A depressão não é só estar triste. É estar em sofrimento”, afirma.

Entender isso, conforme ele, colabora com o combate ao preconceito que ainda gira em torno da doença, ajuda familiares enlutados a não se culparem, além de servir de alerta para que as pessoas olhem para o outro com mais atenção.
A obra é dividida em duas partes. A primeira é essencialmente autobiográfica. Conta a trajetória de vida dele. “A ideia no livro era mostrar que mesmo pessoas bem-sucedidas, como eu, podem desenvolver, através de uma sociedade doente, uma lógica distorcida da sua própria realidade”, descreve o autor. A segunda parte é ficcional: por meio de uma misteriosa mulher, ele tem contato com diversos pensadores da história humana e com as ciências, onde foi apresentado ao Deus de Spinoza.


No caso de Eduardo, o próprio livro foi um pouco remédio. “Escrever pra mim é um ato terapêutico, porque escrever é mais ou menos você colocar pra fora tudo isso”. Em um mundo onde a depressão chama cada vez mais atenção, é importante notar como cada um consegue lidar com as suas dores.

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