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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

O colorido natural do grafiteiro Vinícius Musgo

“Minha assinatura vem de uma metáfora ao fenômeno natural, que colore paisagens tanto da natureza quanto em lugares abandonados, dando vida e cor aos locais, assim como o graffiti, que os transforma”

Thaty Nardelli

20/11/2023 15h08

Foto: arquivo pessoal

Desde pequeno, ele desenhava os personagens que via nas séries animadas da televisão. Os letreiros com os títulos das animações também o chamavam a atenção, isso muito antes de conhecer a arte de rua e todas as suas vertentes. Hoje, com 33 anos, Vinícius Moraes, negro e periférico, nascido em Brasília, e morador da cidade do Novo Gama, no Entorno do DF, deixa sua marca com graffiti nos muros e em telas de todo o país, como Musgo. “Minha assinatura vem de uma metáfora ao fenômeno natural, que colore paisagens tanto da natureza quanto em lugares abandonados, dando vida e cor aos locais, assim como o graffiti, que os transforma”.

A Além do Quadradinho desta semana apresenta o artista Musgo.

A arte entrou na sua vida bem cedo, quando você ainda era criança…
Nasci em Brasília e, durante a minha vida toda, morei no Entorno, mais precisamente no Novo Gama-GO. Consigo lembrar bastante de brincar de bicicleta com o meu irmão mais novo, mas me recordo muito bem de acompanhar e admirar os desenhos produzidos pelos meus pais, que desenhavam, mas não levaram a arte como atividade principal. Minha infância foi repleta de desenhos animados na TV junto do meu irmão, e descobrir que existiam profissionais por trás de todo o processo envolvido na animação me inspirou a levar comigo por muito tempo esse sonho de ser animador.

E quando o graffiti entrou em sua vida?
Costumo dizer que sempre gostei e fiz graffiti mesmo antes de descobri-lo. Em meus cadernos da escola, eu adorava escrever meu nome com contornos e sombras de maneiras criativas e únicas, o que, mais para frente e com mais acesso à informação, percebi que era o grafitti. Com essa descoberta e acesso por meio da cultura Hip Hop, me aprofundei mais e passei a conhecer os conceitos.

E quando você passou a assinar como Musgo?
Lá para 2010, pouco depois de eu ter começado, me deparei com a vontade de ter um nome que se comparasse ao que eu faço com o graffiti quando renovo uma paisagem destruída que ninguém dá valor. Na natureza, vejo o musgo fazendo o mesmo, como uma metáfora ao fenômeno natural, que colore paisagens tanto na natureza quanto em lugares abandonados, dando vida e cor aos locais, assim como o graffiti, que os transforma.

Foto: arquivo pessoal

Inclusive, como surgiram seus personagens? Você dá nome a eles?
No começo até tentei dar nomes aos personagens. Agora, não costumo nomear, que é para possibilitar ainda mais que as pessoas se vejam neles. O meu primeiro personagem é basicamente eu contando a minha história sobre como fiquei entusiasmado e animado ao descobrir e iniciar a minha jornada no mundo do graffiti.

Seus trabalhos trazem muita cor. Como é seu processo de criação? De onde partem suas ideias até a obra final?
Aprendi a desapegar do primeiro rascunho. Percebi que se o primeiro rascunho da minha ideia já está bom, os próximos com certeza serão melhores. Então, logo quando surge uma ideia, eu rabisco muitas e muitas vezes.

Você mistura freestyle, throw-up e wildstyle, sempre incorporando o estilo cartoon, aquele que gostava desde a infância…
Todos os estilos que se uniram nesse caldeirão de referências em algum momento foram o meu trabalho principal. Gosto de fazer vários trampos e vários estilos, para que a cada momento em que eu estou transitando de um estilo para o outro, eu enriqueça ainda mais o meu repertório e sempre adquira um pouco mais de bagagem.

Muitas vezes os grafites são apagados e desvalorizados. Você acha que as cidades brasileiras são despreparadas para lidar com as intervenções?
Acredito que o graffiti é uma arte que tem seu período onde ela estará exposta, mas confesso que é gratificante demais você perceber o envelhecimento da sua arte, não só com o desbotamento da arte que é exposta a sol e chuva na rua, mas também ao envelhecimento das técnicas mais antigas e que provavelmente mudaram desde a época em que foi feita.

Hoje é o Dia da Consciência Negra. Você poderia falar sobre o tema dentro da sua carreira?
Colar em praticamente todas as RAs e metade do Brasil para pintar já me colocaram em diversos episódios. Quanto mais longe você chega fazendo o que você gosta, mais você está sujeito a apontarem para você e dizerem coisas. Até a cor dos personagens já os levaram a serem associados com “bruxaria” e muitos outros equívocos. Há muito a ser trabalhado e ensinado não só pelo meu trabalho, mas como um coletivo. Mas enquanto uma pessoa ou outra se sentir representada com o meu trampo, eu continuo me sentindo motivado.

Foto: arquivo pessoal

Você vê uma diferença na arte do grafite quando ela é praticada no Entorno e nas regiões administrativas em relação às realizadas no Plano Piloto?
O recebimento do público para aceitar/autorizar graffiti em suas casas me parece mais difícil, e também a elaboração de projetos está apenas engatinhando em relação ao que já foi construído no DF. Por ser de uma quebrada que é literalmente na linha do mapa, às vezes não me sinto abrangido nem pelo estado de Goiás e nem pelo Distrito Federal. Gosto que, quando participo de eventos que acontecem no Entorno, fortalecemos a cena local com a participação de grandes referências na cena. É legal que outros artistas percebam como o movimento daqui está crescendo.

Algum trabalho que você realizou ficou marcado para você?
Todo rolê é sempre muito foda, sempre saio com muitas histórias. Gostei do ano passado, onde, devido a prazos, não consegui colar na Colômbia para um festival de graffiti que fui convidado. Mesmo de passagem comprada, não rolou de eu embarcar, mas em compensação fiquei em São Paulo nos mesmos dias que ficaria de conexão na viagem da Colômbia. Fiz muitos contatos por lá, fiz muitos graffitis e conheci muitas pessoas da cena. E o mais legal: havia muitas pessoas que também já conheciam meu trabalho pelas redes sociais e pelo Salve os Muros, podcast que eu participo.

Quais são seus planos atuais?
Atualmente, estou com a exposição “Tons Espirais” em seus últimos dias, no Corredor Cultural da Castália, o que é um grande pontapé para minhas produções em telas. Tem também a minha participação na feira Motim. E o grande projeto que tenho em mente é finalmente conseguir de fato pintar fora do país.

Foto: arquivo pessoal

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