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Brasília

Distrito Federal já teve 220 lojas fechadas neste ano

Arquivo Geral

09/07/2015 6h30

As salas comerciais fechadas denunciam: a crise chegou de vez. Com queda no faturamento, tem sido difícil manter o negócio e a saída é desistir do investimento. Dados do Sindicato do Comércio Varejista do DF (Sindivarejista-DF) mostram que, apenas nos primeiros seis meses de 2015, o número de lojas desocupadas passou de 600. E, a quem ficou na ativa, só resta o medo de ter que tomar a mesma atitude. 

Ao andar pelas quadras comerciais de todo o Distrito Federal, não é difícil encontrar espaços disponíveis para aluguel. Sob a placa de “aluga-se”,  os letreiros antigos continuam, denunciando que, ali, há pouco tempo, funcionava uma loja. Até o fim de 2014, eram 380 lojas fechadas na Asa Sul. Em 2015, mais 220 se somaram à estatística.

Empregos

O pessimismo do empresário Tito Palmieri é tanto que ele afirma que a crise é “a pior que vamos ver”. O dono de uma ótica na Asa Sul tem medo de ser o próximo a ter que encerrar as atividades, mas resiste à ideia por respeito aos funcionários, alguns com mais de 20 anos de casa. 

“Rezo todos os dias para não chegar a esse ponto. Mas acredito que muita gente vai fechar. Se eu tiver que fazer isso, talvez não tenha prejuízo porque acumulei capital durante minha vida profissional, tenho 43 anos no ramo. Quem não fez assim está mais sujeito a esse tipo de situação”, avaliou.

Procura por lojas cai

É visível que as coisas não andam bem. Se antes era comum que aparecessem interessados em alugar ou comprar as salas comerciais, a  procura  quase não existe  mais, de acordo com o atendente Dorgival Rufino da Silva, que trabalha há seis anos em uma padaria. “Todo dia tinha alguém perguntando se havia loja para alugar aqui na quadra. Agora, ninguém quer”, relatou. 

A mudança tem muito a ver com o que acontece na panificadora, onde o faturamento parece ter encolhido em mais de 30%. “As lojas não duram muito”, completou.

Em uma loja de peças para refrigeração, a sensação é a mesma. As receitas caíram, sem perspectiva de melhora a curto prazo. Por ser um comércio que depende da indisposição do consumidor a comprar novos eletrodomésticos, esperava-se pelo menos uma estabilização em meio a crise. Não foi o que aconteceu. 

“Ano passado foi bom, porque as pessoas decidiram arrumar as geladeiras, por exemplo, comprando as peças. Mas agora vem decaindo bastante”, relatou o vendedor Eron Lourenço Costa, que reclama da queda nas comissões.

Em uma  loja de peças para refrigeração da Asa Sul, Neurismar Vieira Braga    afirma fazer de tudo para evitar demissões. “Perdemos 15% das vendas. Por enquanto, estamos segurando o quadro e diminuímos as compras de estoque para evitar ficar com mercadoria encalhada. Estamos até ficando menos tempo com o ar- condicionado ligado. Demitir empregados seria o último caso. Tenho dito que todos nós temos que fazer nossa parte para evitar sentir os efeitos da crise”, avaliou ela, que é  sócia-gerente do estabelecimento. 

Quem se mantém firme mesmo diante das adversidades  também reclama. Há mais de dez anos, uma loja de cama, mesa e banho está no mesmo ponto na W3 Sul. Com clientes cativos, o comércio  acumulou perdas, mas ainda sobrevive. A crítica é outra: a dificuldade de se manter no Plano Piloto.

“A W3 não tem boas condições   de acesso. As calçadas são ruins e, como temos um público predominantemente idoso, isso faz diferença. Fechamos a unidade do Setor Comercial Sul porque os usuários de drogas estavam causando transtornos e porque o sábado não tem movimento. Mudamos a loja para o Núcleo Bandeirante. Lá, o aluguel é mais barato”, resumiu a gerente Daiany Araújo.

Culpa do governo

A falta de pagamento  a fornecedores influencia até na circulação de dinheiro. Para o presidente do Sindivarejista, Edson de Castro, esse é o principal vilão do setor produtivo. “Além de não ter obras acontecendo, os pagamentos a empresas foram paralisados. Existem 10 mil apartamentos esperando Habite-se, e quem se muda para uma casa nova vai ao comércio. Esse tipo de coisa faz a economia girar. O governo deixar de pagar as empresas tira o dinheiro do mercado”, culpou.

Castro recomenda aos aspirantes a empresários que avaliem os riscos dos empreendimentos  para evitar perder dinheiro. O que deve acontecer, na opinião do presidente do Sindivarejista, é uma queda no preço dos aluguéis. “Como há tantas lojas fechadas, é natural que os valores caiam. Mas, ainda assim, a falta de dinheiro deve continuar”, opinou.

Dificuldade em todo o país

O economista Flávio Basílio, da Universidade de Brasília, vai além nas causas dos prejuízos do comércio. A crise é nacional e as dívidas do Poder Executivo acabam ficando em segundo plano diante das dificuldades enfrentadas em todo o País. “O desemprego aumentou e isso faz com que a população não consuma como antes. O GDF até tem feito um esforço para pagar os fornecedores na medida do possível. O descontrole do governo anterior deixou uma herança muito difícil”, analisou.

Com o cenário   instalado, o especialista acredita e até recomenda que os empresários sejam austeros e apliquem os cortes que se mostrarem necessários: “É preciso diminuir os custos de funcionamento e até demitir funcionários”.

Mas outros fatores podem até mostrar oportunidades, como a alta do dólar. O empresário que pode exportar  mercadorias mantém os custos de produção, mas pode ser beneficiado por preços mais competitivos, com a baixa da moeda americana. Mesmo assim, a recomendação de cautela é replicada por Basílio. 

“Claro que, se o investidor tiver uma ideia sensacional, que conquiste um nicho de mercado, deve colocar em prática, mas é sempre bom evitar arriscar”, advertiu. Para o economista, quem não quer se aventurar abrindo uma empresa pode investir o dinheiro de outras formas, como tesouro direto e CDB.

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