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Política & Poder

Bolsonaro critica vacina infantil e diz que não vacinará sua filha

Em especial, Bolsonaro desestimulou a vacinação infantil atacou o imunizante produzido pela farmacêutica Pfizer

Evellyn Luchetta

06/01/2022 21h57

Foto: Reprodução/Youtube

O presidente Jair Bolsonaro (PL) iniciou sua primeira live de 2022 de forma bastante parecida com as realizadas em 2021, disparando ataques e promovendo falas negacionistas. Em especial, Bolsonaro desestimulou a vacinação infantil e atacou o imunizante produzido pela farmacêutica Pfizer.

“Ninguém é obrigado a vacinar teu filho. Se é não obrigatória, nenhum prefeito ou governador poderá impedir o garoto ou a garota de se matricular nas escolas por falta de vacina”, afirmou o mandatário.

“Eu adianto a minha posição, minha filha de 11 anos não será vacinada, se você quiser seguir minha postura ou não, é um direito seu”, defendeu. Bolsonaro seguiu dizendo que a Pfizer não se responsabiliza pelos efeitos colaterais que podem ser causados pela vacina.

“O que vai ser falado, entre outras coisas, é que o fabricante, no caso a Pfizer, não se responsabiliza por eventuais efeitos adversos. Então, se você tem um filho e depois da vacina tiver qualquer problema, não responsabilize a Pfizer”. O fato citado pelo presidente, no entanto, não é verdadeiro.

Para ser aprovada em um país, uma vacina deve passar pela aprovação rigorosa de uma agência reguladora. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), faz o serviço. Antes de chegar até a Anvisa, a própria farmacêutica passa por milhares de testes no desenvolvimento e aprovação do imunizante.

Em resumo, a primeira fase para um imunizante ser aprovado, depois de já estar desenvolvido, é a etapa de estudos não clínicos, quando as testagens são realizadas em animais de experimentação, para investigar a ação e segurança da molécula do composto em laboratório. Além disso, nesta fase, a dose, o mecanismo de ação do imunizante, sua segurança e imunogenicidade, são definidos.

Feito isso, chega a vez de a farmacêutica submeter à Anvisa um pedido de testagem em humanos, com o estudo clínico. A testagem, que é feita em voluntários, é solicitada à agência através de um Dossiê de Desenvolvimento Clínico de Medicamentos (DDCM). Esse documento reúne todas as informações sobre o estudo e sobre a vacina que será desenvolvida.

Se aprovado, o estudo segue com o teste em voluntários, que é definido por três etapas. A fase 1 aplica o imunizante em um grupo seleto de pessoas, a fase 2 o número de voluntários é maior, e a faixa etária dos candidatos é ampliada, já na fase 3, a vacina é aplicada em milhares de pessoas, para demonstrar sua eficácia e segurança. Ou seja, até ser aprovada, o imunizante já passou por diversas fases e testes, e sua eficácia e segurança foi aprovada e testada várias vezes.

Para receber, de fato, um aval de aprovação, a farmacêutica envia diversos documentos à Anvisa, que estão na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 55/2010. Nas páginas, a empresa justifica o registro, apresenta o plano de farmacovigilância, além de informações gerais sobre o produto. O relatório conta ainda com dados sobre as matérias-primas utilizadas na vacina, a descrição das cepas, origem, identificação, processos de obtenção, construção, entre outros dados.

Já a ‘responsabilização’ citada por Bolsonaro, e apresentada como um certo ‘desdém’ e uma ‘desproteção’ da parte da Pfizer com os brasileiros é, na realidade, algo assumido pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde. No Brasil, os efeitos colaterais são monitorados pela Anvisa em conjunto com o Ministério da Saúde, através da plataforma e-SUS Notifica.

A farmacêutica, no entanto, não fica completamente alheia à essas condições. Além do já descoberto no período de pesquisas, a Pfizer garante pesquisas pós-comercialização, e monitora as reações adversas que podem não ter sido detectadas ainda.

Apesar do fato já conhecido, Bolsonaro seguiu amedrontando os telespectadores com possíveis ‘efeitos colaterais desconhecidos’. “A Pfzer fez a vacina, que está sendo testada, como a própria Pfizer diz, ela tem certos efeitos colaterais, que vamos tomar conhecimento em 2022, 2023 e 2024”, afirmou.

A Sociedade Brasileira de Pediatria emitiu uma nota de repúdio às falas do chefe do executivo e afirmou que a população não deve temer a vacina e sim, a doença.

“A vacina previne a morte, a dor, sofrimento, emergências e internação em todas as faixas etárias. Negar este benefício às crianças sem evidências científicas sólidas, bem como desestimular a adesão dos pais e dos responsáveis à imunização dos seus filhos, é um ato lamentável e irresponsável, que, infelizmente, pode custar vidas”, pontua a nota.

No Brasil, mais de 2,5 mil crianças morreram em decorrência da Covid-19. A autorização da Anvisa para a utilização da vacina da Pfizer foi dada no dia 16 de dezembro. Desde então, um jogo político vêm sendo travado e o Governo Federal demonstrou bastante resistência para a aprovação da aplicação nessa parcela populacional, que deve ser feita pelo Ministério da Saúde.

O cronograma da chegada das vacinas em território nacional foi publicado pelo Ministério da Saúde nesta quarta-feira, 05. A divulgação veio 20 dias depois da autorização da Anvisa.

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