O epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador da pesquisa Epicovid-19, Pedro Hallal, relatou à CPI da Pandemia nesta quinta-feira (24) que o Ministério da Saúde censurou parte de um estudo feito por ele sobre o monitoramento de mortes por covid-19 no Brasil. O trecho que teria sido censurado era um recorte etnico-racial que mostrava que negros e indígenas estavam mais vulneráveis à covid. O levantamento estava compilado em um slide apresentado por Hallal no Palácio do Planalto.
“Faltando 15 minutos para começar a minha apresentação no Palácio do Planalto, eu fui informado de que o slide teria sido retirado da apresentação de slides que eu era o apresentador”, explicou Hallal. O epidemiologista acredita que o ex-secretário-executivo Elcio Franco foi responsável pela retirada. “Na verdade, eu não tenho como saber se a ordem foi dada por algum superior imediato, mas quem estava lidando com a coletiva e quem participou foi o secretário-executivo do Ministério à época Elcio Franco.”
“O Ministério da Saúde censurou o slide e, no outro dia, nós apresentamos o resultado para a mídia com bastante ênfase. Foi publicado inclusive pelo New York Times, por todos os veículos de comunicação do Brasil e também em artigos científicos. A apresentação daquele resultado certamente causou muito incômodo ao Ministério e, talvez por isso, eles tenham decidido por não continuar com o monitoramento”, disse o epidemiologista, em outro momento do depoimento.
O monitoramento ao qual o profissional se refere é um coordenado por ele, realizado pela UFPel. Hallal conta que havia um contrato entre Ministério da Saúde e UFPel referente ao estudo, mas que, após o fim do vínculo, em junho do ano passado, a pasta deixou de monitorar os casos de covid no Brasil. “Existem pelo menos 30 universidades brasileiras que poderiam ter continuado o epicovid. A decisão de não continuar não tem como não ser atrelada ao episódio do resultado por etnia”, comentou.
Um ano depois do fim do contrato entre UFPel e Ministério, Hallal afirma que a pasta ainda não criou nenhum instrumento de monitoramento nacional. “Exceto monitoramentos no nível local ou estadual desenvolvidos com muita dificuldades pelas universidades brasileiras.”