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Personagem de game, Leticia Bufoni amplia influência no skate

Leticia Bufoni ocupa atualmente a quarta colocação do ranking mundial de skate street

Redação Jornal de Brasília

28/09/2020 17h32

***FOTO DE ARQUIVO*** RIO DE JANEIRO, RJ, 22.01.2018 – Retrato da skatista brasileira Letícia Bufoni, em evento da empresa Oi, patrocinadora oficial da atleta (Foto: Ricardo Borges/Folhapress)

Bruno Rodrigues
São Paulo, SP

Quando Leticia Bufoni começou a andar de skate, aos 9 anos de idade, a franquia “Tony Hawk Pro Skater” já mexia com o imaginário de adolescentes e adultos, que ganharam a partir do fim da década de 1990 a oportunidade de controlar, no videogame, seus skatistas favoritos.

Além do próprio Tony Hawk, era possível escolher outras lendas do esporte, como o brasileiro Bob Burnquist. Porém, nas primeiras versões do jogo, só havia uma mulher entre os personagens disponíveis: a norte-americana Elissa Steamer, pioneira na modalidade.

Leticia, que adorava o game, se mudou para os Estados Unidos com 14 anos, em 2007, e logo passou a enfrentar Steamer nas competições profissionais de street. A pequena fã virou colega de sua maior referência.

Hoje, aos 45, Elissa Steamer já não compete profissionalmente, mas ambas têm patrocinadores em comum e participam juntas de campanhas para essas marcas, além de viajarem para torneios de exibição. Algo que a brasileira não imaginava quando deu suas primeiras manobras, tanto na vida real como no videogame.

“Quando eu comecei a jogar [o Tony Hawk Pro Skater], eu jogava com a Elissa. Queria jogar com uma menina, não com um homem. Ela é minha skatista favorita de todos os tempos, era a única mulher que me inspirava. É incrível ter essa conexão e poder andar com ela hoje”, diz a brasileira, 27, em entrevista.

Leticia Bufoni ocupa atualmente a quarta colocação do ranking mundial de skate street. À sua frente estão a japonesa Aori Nishimura, de 19 anos, e as brasileiras Rayssa Leal, 12, e Pamela Rosa, 21.

Com mais tempo de circuito e ex-número 1 do ranking, ela serve de modelo para suas compatriotas, especialmente Rayssa. O trio é bem cotado a medalhas na Olimpíada de Tóquio, adiada em razão da pandemia do novo coronavírus.

Cada país poderá classificar até 12 skatistas, seis homens e seis mulheres, que serão definidos pelo ranking e divididos nas modalidades street (simula a paisagem urbana, com bancos e corrimões, por exemplo) e park (pista com formato de piscina, rampas e transições). O esporte fará sua estreia no programa olímpico.

“Quando veio a notícia oficial [do adiamento], foi um baque. Faltava tão pouco, a gente vem se preparando há tanto tempo. Mas vendo tudo que estava acontecendo no mundo, foi a melhor opção. E a gente vai ter mais um ano para se preparar. Eu fico sonhando com esse momento. Não vejo a hora de que acabem todas as qualificatórias e saber que estou dentro”, afirma Leticia.

Com o calendário do skate interrompido pela Covid-19, a atleta voltou ao Brasil para ficar próxima da família. Durante dois meses, passou a quarentena em uma casa que comprou no Guarujá, litoral de São Paulo, onde reuniu os familiares e alguns amigos, como o surfista Pedro Scooby, além de seguir treinando -ainda que com limitações.

Quando retornou aos Estados Unidos, na mesma época em que Scooby voltou para sua casa em Portugal, a skatista propôs a ele um projeto. Os dois fariam uma viagem de motorhome pela Europa, praticando esportes e visitando colegas esportistas, na medida do possível.

A Red Bull, patrocinador de ambos, bancou a iniciativa e a dupla saiu pelas estradas europeias entrando em contato com atletas de diversas modalidades e praticando esportes que, até então, eram novos para os dois, como pilotar um carro de F-1 e dar uma volta (como espectadora) em um avião acrobático.

Com o mundo paralisado pela pandemia e o adiamento dos Jogos Olímpicos, a viagem foi uma forma que Leticia encontrou de se manter conectada ao esporte.

“Foi o melhor momento da carreira pra fazer uma viagem longa como essa, porque estamos sempre competindo. Não tinha nenhuma pista de skate aberta aqui na Califórnia. A gente tinha muito medo de chegar em alguma cidade ou país e ficar preso em quarentena, mas deu tudo certo.”

De volta a Los Angeles, Leticia Bufoni retomou os treinos e agora espera pelo retorno das competições, previsto para janeiro de 2021.

Além do sucesso de sua viagem e de ter aproveitado a pausa para rever familiares, ela comemora também o fato de que a crise causada pela pandemia não lhe tirou nenhum patrocinador.

Entre as empresas que apoiam a skatista, não estão somente marcas atreladas ao esporte, mas algumas gigantes de cosméticos. A maquiagem, as roupas mais ajustadas ao corpo e o cabelo rosa fazem parte da imagem que criou ao longo dos anos e são motivo de orgulho para a brasileira, que deu uma outra cara ao ambiente competitivo das pistas.

Pamela Rosa, a líder mundial do ranking, também faz publicidade de cosméticos, e Rayssa Leal, apesar dos 12 anos, já tem seus acordos comercias com marcas de fora do mundo do skate. Portas que foram abertas pela mais velha da turma, mesmo com resistência do meio.

Minutos antes de atender à reportagem por telefone, na semana passada, Leticia Bufoni estava jogando videogame, contou ela durante a entrevista. O jogo era “Tony Hawk Pro Skater 1+2”, reedição dos primeiros dois games da franquia lançada no último mês de agosto.

A diferença desta versão para as antigas é que agora, ao invés de ter apenas Elissa Steamer como opção, Leticia pode escolher a si mesma.

“Eu sou desta geração, e é muito mais fácil as meninas me conhecerem do que conhecerem a Elissa. Recebo muitas mensagens de meninas que dizem que eu instigo a andar de skate, que se espelham em mim por causa do jogo. É uma das coisas mais incríveis da minha carreira.”

Em 2013, à Folha de S. Paulo, a brasileira afirmou que queria mudar a cara do skate feminino. Seja pela maquiagem, pelo cabelo rosa ou pelos títulos, ela pode dizer tranquilamente que mudou.

As informações são da FolhaPress

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