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Papo Olímpico: O óbvio tem  muitos inimigos

Arquivo Geral

13/11/2018 9h26

Foto: Gabriel Henrique

Breno Barros
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No começo da semana, eu recebi uma notificação no celular. Deslizei o dedo na tela bloqueada e abri o WhatsApp para ler uma matéria da Gazeta Online que me chamou a atenção. O texto era sobre uma Lei que garantia a homens e mulheres a mesma premiação em dinheiro nos eventos esportivos disputados no Espírito Santo. De autoria do Executivo Estadual, a Lei 1.0916 foi sancionada e, assim, tive a certeza de que no Brasil o óbvio tem muitos inimigos e precisa de lei para ser cumprido.

Essa história começou na praia da Barra do Jucu, em Vila Velha. O local recebeu os melhores atletas brasileiros de bodyboarding no último mês de agosto. As ondas foram surfadas por homens e mulheres que, deitados com o peito na prancha, executaram as manobras de olho no título da terceira etapa do circuito nacional da modalidade. Não foi a primeira vez que o estado recebeu uma competição desse tamanho, mas foi um evento divisor de águas no esporte local.

A polêmica ficou por conta da premiação em dinheiro oferecida pela Confederação Brasileira de Bodyboarding. O vencedor da categoria masculina recebeu R$ 10 mil. Nada mal, não é? Mas, no feminino, a campeã da etapa levou para casa R$ 5 mil. A diferença gerou repercussão e desencadeou uma “onda” de protestos. A pressão surgiu efeito, ao menos no papel.

Na hora que li a notícia, eu me senti o Marty McFly do filme “De Volta para o Futuro”. No lugar de ser transportado para a década de 1950, eu me imaginei em 2068, quando o Brasil receberá, pela segunda vez, os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. De lá, entrei no DeLorean DMC-12 que me levou de volta para 2018. Fiquei perplexo ao saber que há 50 anos precisava de uma lei para garantir a mesma remuneração entre homens e mulheres. Confirmei que no Brasil, o óbvio precisa ser imposto em lei.

Atualmente, são mais de 100 mil leis em vigor no País. Em Porto Alegre, por exemplo, a Lei Municipal nº 3306/97 foi criada em defesa do velho e bom português. Ela multa em R$ 500 os donos de outdoors com erros de ortografia, de regência e de concordância. Já para banners e faixas, a punição é só de R$ 100. Existe outra lei que parece mais um absurdo. Uma legislação federal de 1998 agrava a pena para crimes ambientais que forem cometidos em domingos ou feriados. Assim, cometer uma infração contra a natureza tem que ser em horário e dia comerciais.

A lei da igualdade de premiação é tão óbvia que mostra que o sexismo continua sendo o maior adversário das mulheres, na vida e no esporte. É incontestável tratar uma mulher igual aos homens. Nem precisa falar que garantir a mesma remuneração, na mesma função, é mais do que necessário, justo e honesto.

Em 2004, um levantamento da BBC, do Reino Unido, mostrou que em 30% das competições esportivas mundiais, as mulheres campeãs recebem menos dinheiro em prêmios do que os homens. Esse é um debate feito há anos. Agora, a pergunta que cabe é até quando esse assunto precisa ser discutido para ser cumprido?

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