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Fórmula E, campeonato de corridas de carros elétricos, é laboratório de novas tecnologias

Com a proposta de desenvolver novos equipamentos a partir de carros 100% elétricos, o automobilismo mundial possui uma categoria específica

FolhaPress

10/12/2022 11h08

Foto: Reprodução

Vitor Garcia
São Paulo – SP

As categorias de competição do automobilismo sempre funcionaram como laboratório de testes para novos equipamentos, tecnologias e combustíveis. Muitas das inovações aprovadas nas pistas de corrida migraram para as ruas e equipam os mais variados tipos de veículos, incluindo agora os elétricos.

“Peças de titânio e alumínio nos motores, câmbio com trocas sem a necessidade do uso de embreagem e o sistema de ‘borboletas’ no volante, entre outros, são alguns exemplos de tecnologias que nasceram nas pistas e foram para as ruas”, afirma Ricardo Kenzo Motomatsu, engenheiro e professor da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial). “E isso não é diferente com a tecnologia dos veículos elétricos”, diz.

Entusiasta da mobilidade elétrica, ele ressalta a importância das pistas como laboratório de testes e os desafios que precisam ser resolvidos. “Hoje, o grande problema dos elétricos é o gerenciamento da bateria e o sistema de recarga rápido. Uma vez resolvidos, eles poderão trazer uma enorme evolução do que já temos hoje nas ruas.”

Com uma proposta de desenvolver novos equipamentos a partir de carros 100% elétricos, o automobilismo mundial possui desde 2014 uma categoria específica, a Fórmula E, com provas em circuitos de rua em locais como Pequim (China), Miami (Estados Unidos), Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina) e Punta del Este (Uruguai). Em 2023, a categoria chega a São Paulo com uma corrida no dia 25 de março no Sambódromo do Anhembi e seu entorno.

Com passagem pela F1, o brasileiro Lucas Di Grassi é piloto da Fórmula E desde sua criação e está ligado, como investidor em startups, a movimentos de mobilidade elétrica. Segundo ele, a transferência do conhecimento adquirido nas corridas tem grande potencial de chegar aos veículos comuns, mas isso não ocorre de forma imediata. “O grosso do que desenvolvemos nas pistas leva entre cinco e seis anos para alcançar as ruas”, diz.

Como exemplo de inovação tecnológica, Di Grassi cita o modelo Gen3, que chega no ano que vem à categoria e traz dois motores elétricos, posicionados um em cada eixo. Juntos, eles podem chegar a 600 kW (quilowatts), ou cerca de 810 cavalos, fazendo com que o carro tenha tração nas quatro rodas.

Outra novidade é o sistema de recarga rápido desenvolvido pela empresa ABB para a categoria. Ele funciona no pitstop e recarrega a bateria do veículo em segundos. Essa carga pode chegar a 600 kW e, se aplicada a um carro de rua, poderá recarregar um veículo elétrico num tempo muito próximo ao que se gasta hoje em um posto de combustível comum.

“O que mais pesa nos veículos elétricos hoje é o tempo de recarga e a falta de infraestrutura para o abastecimento”, diz Di Grassi.
“Quem roda até 200 km na cidade consegue recarregar a bateria em casa numa tomada 220V. Funciona mais ou menos como um celular, demorando algumas horas até atingir carga suficiente para rodar a mesma distância novamente. Nesse caso, não é preciso um sistema ultrarrápido. Isso, no entanto, é um problema em viagens mais longas, quando é necessário contar com mais postos de apoio”, completa.

Atento a essa oportunidade, Junior Miranda, CEO da GreenV, empresa especializada em pontos de recarga, afirma que a companhia instala cerca de cem novas unidades por mês. Atualmente há aproximadamente 1.500 pontos semipúblicos em todo o país, mas são necessários ao menos 3.000 -marca que deve ser alcançada até 2024. “Considerando os investimentos recentes por parte das montadoras no mercado de elétricos, esse número pode até não ser suficiente, mas já viabiliza a mobilidade no país”, afirma.

Para atender essa nova demanda de clientes, as montadoras começam a se mexer. A Volvo, por exemplo, investiu R$ 10 milhões nos chamados corredores elétricos, que contam com paradas estrategicamente localizadas em rodovias que ligam várias capitais. No total, são 13 eletropostos cobrindo 3.250 km que podem ser utilizados por veículos de qualquer marca e modelo. “Temos a ambição de conectar todo o Brasil por meio de corredores elétricos”, diz Rafael Ugo, diretor de marketing da Volvo Car Brasil.

Os postos de combustíveis fósseis (gasolina, etanol e diesel) também já se preparam para receber os elétricos. “Apenas um de nossos clientes pretende instalar 40 carregadores ultrarrápidos este ano, com mais 200 em 2023 e 600 em 2024”, afirma Marco Aurélio Vilela de Oliveira, CEO da Eletrocentro, que atende uma das grandes empresas de postos de abastecimento instalada no Brasil.

Toda essa expansão do mercado se justifica pelos números do setor. De acordo com a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), a frota de veículos eletrificados (100% elétricos a bateria ou modelos híbridos) emplacados no Brasil no primeiro semestre de 2022 mostra um crescimento exponencial, com 20.427 unidades contra 13.899 no mesmo período de 2021. Olhando apenas para as unidades elétricas (100% a bateria), houve um aumento de 19% no número de emplacamentos (3.395) no período.

A estimativa é que 2022 deva fechar com mais de 40 mil unidades emplacadas, um aumento de 17% comparado ao último ano, com a frota nacional alcançando 97.569 unidades eletrificadas.

Mais do que gerar 8 mil empregos diretos e indiretos e trazer para os cofres de São Paulo cerca de US$ 120 milhões, Fórmula E na capital paulista coloca a cidade e o Brasil no centro das discussões relativas à mobilidade urbana mundial. “O que a gente precisa é acelerar o futuro em relação à transição para a mobilidade elétrica, e a Fórmula E pode contribuir para isso no país”, afirma Di Grassi.

Também de olho nesse mercado que começa a se formar, os ex-pilotos Felipe e Zeca Giaffone criaram uma startup, a Giaffone Electric, responsável por transformar veículos médios e pesados a combustão (como vans e caminhões) em elétricos, devidamente customizados para atender às necessidades dos clientes.

Os irmãos Giaffone substituem os motores originais dos veículos por sistemas elétricos. “A ideia é fazer um projeto personalizado e, como o mais caro é a bateria, instalamos um conjunto do tamanho que o cliente realmente precisa”, explica Felipe. “Não faz sentido, por exemplo, um caminhão ter um pack de bateria para 300 km quando roda apenas 100 km por dia.”

Outra vantagem é a reutilização de um veículo usado que volta à rua sem poluir. “Pegamos um caminhão que poluiu durante 20 anos e o tornamos ‘verde'”, diz Zeca. “Além da vantagem de uma energia mais limpa, ainda há o fato de reutilizarmos o veículo de uma forma mais sustentável, evitando que ele seja abandonado ou continue rodando por aí poluindo o ar ao seu redor.”

Ainda que os benefícios ao meio ambiente e à saúde pública sejam evidentes, o custo dos elétricos no Brasil é elevado quando comparado ao do carro tradicional. O mais barato disponível no mercado é o Reanult Kwid E-TECH com preços a partir de R$ 146.990, seguido pelo Chery iCar, que sai por R$ 149.990.

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