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Ex-Inter se aposenta depois de jogar com o filho e quer virar treinador

Mossoró atuou junto do filho, Nikolas, na partida entre Potiguar e Santa Cruz-RN, pelo Estadual. O garoto de 16 anos é cria da base do clube

FolhaPress

10/05/2023 11h17

Foto: Reprodução

Marinho Saldanha

Aos 39 anos, Márcio Mossoró pendurou as chuteiras. Ainda que possa participar de mais algum jogo festivo, o meia-atacante campeão da Libertadores pelo Inter já trabalha na direção do Potiguar e se prepara para virar treinador. Antes da aposentadoria, ele realizou um sonho: disputou uma partida oficial com o filho.

O QUE ACONTECEU

Mossoró atuou junto do filho, Nikolas, na partida entre Potiguar e Santa Cruz-RN, pelo Estadual. O garoto de 16 anos é cria da base do clube e entrou no segundo tempo.

O sonho realizado põe fim à carreira do jogador, que despontou no título da Copa do Brasil pelo Paulista, passou pelo Inter e brilhou na Europa por Braga e Marítimo, em Portugal, e Basaksehir, Goztepe e Altay, na Turquia. Além de ter jogado no Al Ahli, da Arábia Saudita.

Agora, o jogador planeja uma partida de despedida para oficializar o fim da carreira, mas já trabalha como CEO do Potiguar e quer virar treinador de futebol inspirado em Alex Fergusson e Arsené Wenger.

No Brasil, ele se diz admirador dos trabalhos de Abel Ferreira e Fernando Diniz.

VEJA OUTROS PONTOS DA ENTREVISTA

Nikolas parece o pai?

“Ele lembra um pouco eu jogando, sim. Quando está com a bola nos pés, é muito inteligente, toma decisões rápidas. Ele cresceu um pouco mais que o pai (risos), é mais forte, tomou umas vitaminas mais cedo (risos)… Vai depender dele, é dar continuidade. Hoje tem que querer muito mais do que eu quis porque está muito mais difícil ser jogador, tem muito mais concorrentes, ainda mais na posição de meia-atacante, que é a dele. O futebol evoluiu muito, mas tem tudo para ele ser um grande jogador e brilhar tanto quanto ou até mais que eu”

Virar técnico.

“Eu tenho planos de estudar para ser treinador. É meu primeiro plano. Mas agora dei uma pausa, uma segurada porque estou na parte de gestão, como CEO do clube, cuido do departamento de futebol e é difícil conciliar neste momento. Mas penso em ser um treinador gestor de modo geral, ter essa visão como teve o [Alex] Ferguson, o [Arsène] Wenger, entre outros que passam na gestão do clube, de trabalhar com a base, trazer jogador, contratar de acordo com o que o clube oferecer…”

Passagem pelo Inter.

“Passei por um grupo vitorioso, fiz parte do título da primeira Libertadores do Inter. Cheguei no fim de 2005, um ano em que fomos vice de forma injusta [escândalo da Máfia do Apito ocasionou anulação de jogos]. Nos tiraram aquele título, hoje todo mundo sabe, é escancarado que foi tirado de nós. Mas depois tivemos a Libertadores e eu participei de toda fase de grupos, daí tive uma pubalgia que me afastou, demorei um tempo para voltar e no Mundial eu estava lesionado e não pude ir. Mas me sinto tão campeão quanto eles, fiz parte do grupo que marcou história no Inter. Daí em 2007 eu voltei, mas foi onde o Inter, com a saída do presidente Fernando Carvalho, que tenho uma admiração muito grande, não teve a noção do que se tornou depois do Mundial e cometeu muitos erros, como tantos outros cometem”

Europa ou Brasil?

“Quando eu fui para Europa, vivi outro mundo, outra realidade. No Brasil, vemos toda essa badalação, mas sabemos que nunca foi assim, que a realidade é muito mais complicada. O mercado financeiro do Brasil hoje é muito diferente de antes. Era muito mais justo. Hoje vemos uma diferença de orçamento fora do normal. Nos últimos anos é só Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG. Antigamente tinha 14 times brigando pelo título do Brasileiro, hoje não. Eu vou para Europa e tenho uma qualidade de vida melhor, segurança melhor para criar os filhos, isso também mexe com o que o atleta quer para ele. Aqui tem muita desigualdade, questão de empresário colocar jogador aqui e ali, a mídia… Eu nunca fui um jogador que teve mídia, que se preocupou em aparecer, mas por onde passei fiz minha história. Tem jogador que tem muito mais rebaixamentos que títulos ou jogos e são reconhecidos por um jogo, um gol, um momento. Eu faço parte do 11 ideal da história do Braga, do Basaksehir, do Paulista… Eu fiz por merecer”
Eu joguei muita bola, me dediquei e faltou reconhecimento. Em 2005 eu tive um ano espetacular. Vi jogador fazer muito menos e ir para a seleção. Eu fiz tudo que fiz e não fui lembrado nem falado, nem chamado para fazer um jogo. Tem caras que fizeram tão pouco ou menos que eu e foram”

Faltou visibilidade?

“A imprensa no Brasil escala, tira, manda embora, faz o que quer. Tem o poder da comunicação e consegue ao mesmo tempo colocar o cara para cima ou para baixo. Tive na Europa o que não tive no Brasil, sequência, qualidade de vida, reconhecimento, lado financeiro também, porque sabemos que a vida passa rápido. Não me arrependo de ter ido para Europa o mais cedo possível, foi a melhor decisão que tomei na vida. Poderia ter ficado no Brasil e estar rolando de time para time com essa instabilidade que tem aqui”

Momentos marcantes. “Nossa estreia na Champions League foi contra o Arsenal. Perdemos, mas era minha volta de lesão. Eu tinha rompido ligamentos do tornozelo e fraturado o perônio no fim do Campeonato Português passado [pelo Braga], fiquei seis meses para voltar numa recuperação difícil. O reencontro com a bola foi no campo do Arsenal. Fiquei no banco, entrei no segundo tempo. O time deles era uma máquina, muito bem treinado pelo Wenger. O que valia ali para mim era estrear na Liga dos Campeões. E tem outro momento, a estreia como titular, contra o Partizan, o estádio lotado, ganhamos de 1 a 0. Quando você entra em campo e toca o hino da Champions, ali senti, passou um filme, do bairro simples de Mossoró que eu saí para viver este sonho na Champions League. Houve tantos outros momentos, mas esse dia, do hino no campo, foi marcante”

Perfil como técnico.

“Eu tenho algumas ideias como gestor e treinador. Acho o lado humano fundamental. Eu paro para pensar que quero tirar um pouco de cada um dos treinadores que tive. Parte tática, conduzir o treino, técnica, gestão, leitura de jogo, tudo isso quero aprender. Me espelho em muitos treinadores com quem trabalhei, como o Jorge Jesus, que é referência, o Vitor Pereira, o Mancini no Paulista… Quero me espelhar em todos, mas quero ser o Márcio Mossoró, ter minhas ideias sabendo com quem trabalhei e a história que tive com cada um deles. Sou muito ansioso por conhecer de perto o trabalho do Abel Ferreira e do Fernando Diniz. Quero ver como eles conduzem. Sou apaixonado por ver o Fluminense e o Palmeiras jogarem. São dois times que jogam diferente, o Palmeiras em transição, marcação, o Fluminense sabendo abrir espaços, organizado com a bola, rompendo a defesa. Sou muito fã deles. Falei um pouco com o Abel quando estava no Braga, e o Diniz ainda não tive o prazer de conhecer”

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