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Entre curvas e obstáculos, Kart feminino busca crescimento no DF

Apesar desse cenário pouco inclusivo, novas corredoras e iniciativas vêm surgindo para tentar mudar essa realidade e buscar o espaço destinado às mulheres

Redação Jornal de Brasília

19/03/2021 20h49

Mariana Serafim é a principal representante do kart brasiliense (Foto: Luciano Bolonheis)

Arthur Ribeiro e Thiago Quint / Agência UniCEUB

O mundo automobilístico é um mercado muito competitivo e restrito para novos pilotos, principalmente por envolver grandes quantias de dinheiro e poucas oportunidades, em especial para as mulheres. Como exemplo, a Fórmula 1, principal competição da modalidade, teve apenas cinco pilotas disputando corridas em 71 anos de história e, atualmente, dentre todos os corredores do grid, apenas uma mulher figura entre os atletas, a colombiana Tatiana Calderón, pilota reserva da Alfa Romeo. Contudo, apesar desse cenário pouco inclusivo, novas corredoras e iniciativas vêm surgindo para tentar mudar essa realidade e buscar o espaço destinado às mulheres dentro do esporte, a começar pela porta de entrada do gênero, o kartismo.

Uma dessas novas competidoras é Mariana Serafim, 18, pilota desde os 10 anos de idade. A jovem conta que o principal desafio no seu começo no kart foi a escassez de inspirações femininas, já que Bárbara Louly, pilota que admirava, parou de correr logo após a entrada da brasiliense nas pistas. Entretanto, Mariana se dispôs a buscar alternativas em outros lugares e encontrou em Viviane Gola, de São Paulo, a parceira ideal, dentro e fora da pista, para a continuação de sua jornada. Hoje, ela revela que é gratificante perceber que está seguindo os passos das duas e sendo o exemplo para a nova geração de corredoras que está se formando.

Ainda nesse sentido, a pilota também se deparou com outra dificuldade no início de sua trajetória, o preconceito presente no kartódromo, sobretudo por ser um ambiente majoritariamente masculino. “Eu era a única menina, até mesmo quando eu ia para a categoria de crianças. Os meninos não queriam interagir comigo. Os pais deles pressionavam falando que não podiam perder para uma garota e acabavam colocando tanta competitividade na cabeça que a própria criança pensava ‘não posso ser amigo dela’”, compartilhou.

Para o seu futuro no esporte, Mariana declara que tem sonhos que vão além do kart, e diz que seria uma felicidade enorme caso recebesse uma oportunidade em competições como Fórmula 2, Fórmula 3, Stock Car ou Porsche. Porém, ela tem consciência dos empecilhos no decorrer do caminho, como a carência de patrocínios e a diferença física para os homens.

A presença feminina no kartódromo vem crescendo nos últimos anos (Foto: Luciano Bolonheis)

“Não tem muita gente disposta a patrocinar, porque a maioria dos caras que tem dinheiro, pagam para os filhos correrem, não para os outros representarem a empresa deles. Além disso, não temos a força física de um homem, não há competição, temos que otimizar essa parte de outras maneiras, com outras técnicas. Então não é igual, é muito mais difícil (pilotar sendo mulher), mas mesmo assim podemos conseguir um lugar, tanto no amador como no profissional, como a Bia Figueiredo (Stock Car) e a Tatiana Calderón (Fórmula 1) conseguiram”, concluiu.

Outro exemplo incluso no kart é o de Kelly Cardoso dos Santos, ou Kelly Curie, 29, que carrega o nome por conta da inspiração em Marie Curie, cientista que foi a primeira mulher a ser agraciada com o Prêmio Nobel. Apaixonada por carros desde pequena, Kelly relata que seu começo no kartismo foi difícil, mas contou com o apoio dos amigos para continuar. “Em 2019, eu fiz a inscrição para a corrida ‘Só Para Elas’, participei e cheguei em último lugar. A partir disso, falei para o pessoal que era melhor eu ficar na parte de projetar karts e cuidar da manutenção, mas a galera insistiu e disseram que era necessário ter paciência porque era apenas a 2ª vez que eu andava (de kart). Por isso, comecei a treinar e os pódios passaram a acontecer”.

Além do apoio dos amigos para seguir correndo, Kelly ressalta que o estímulo de sua família ao lado da responsabilidade de ser mulher também foram essenciais na sua história. Segundo ela, ser a principal referência no kart para seu filho pequeno será um motivo de orgulho no futuro, assim como ajudar na divulgação do kartismo feminino. Para a pilota, mostrar que existem mulheres capazes de guiar karts, disputar corridas e campeonatos e, acima disso, se divertir correndo, é uma de várias maneiras para fazer com que haja mais espaço para elas no esporte.

A corredora Álice Alline Batista de Matos, 38, é mais uma que possui vivência nos grids. Mesmo levando o kartismo apenas como hobby, ela compartilha que já passou por situações ruins, onde não foi tratada como piloto, somente considerada como alguém do “sexo frágil” por parte dos homens, que, de acordo com ela, por vezes não aceitam serem ultrapassados por mulheres. Ela considera que o estereótipo de que o automobilismo é masculino faz com que o preconceito aumente e, consequentemente, diminua o interesse de outras garotas. Por outro lado, ela valoriza os campeonatos para iniciantes e preza pela continuidade deles, pois dão a oportunidade para as mulheres conhecerem o esporte de perto e buscarem seu espaço.

Kelly (esq.) emplacando mais um pódio (Foto: Yuri Mendes)

Dentro dessa perspectiva, Gustavo Rocha Dutra, diretor da Tecnokart, afirma que idealizou o projeto “Só Para Elas”, corrida de kart específica para mulheres, com o objetivo de trazer mais corredoras para a categoria, visando a participação futura em eventos que não sejam exclusivos para elas. Segundo ele, desde a realização da iniciativa, a equipe já consegue sentir uma presença maior de pilotas no Kartódromo Ferrari Kart, em Brasília, local onde acontece a competição. Em 2021, Gustavo conta que planeja fazer mais uma edição da corrida, buscando iniciar um ciclo de novas pilotas e incentivar ainda mais o gênero.

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