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Chefe da organização de Paris-2024 anda de trem e sem segurança

Alvo de críticas por salário alto, Tony Estanguet procura manter hábitos simples

Redação Jornal de Brasília

13/04/2024 12h49

ANDRÉ FONTENELLE
PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS0)

No dia 22 de março, os três passageiros que aguardavam o trem das 11h21 na sonolenta Nogent-sur-Seine, 6.000 habitantes, 120 quilômetros a sudeste de Paris (cenário do clássico da literatura “A Educação Sentimental”, de Gustave Flaubert), levaram um susto quando um quarto viajante adentrou a estação.

Era Tony Estanguet, 45, talvez hoje a pessoa mais importante da França depois do presidente Emmanuel Macron. O tricampeão olímpico de canoagem slalom (2000, 2004, 2012) é desde 2017 o presidente do Comitê Organizador de Paris-2024.

Naquele dia, Estanguet voltava de um ensaio do revezamento da tocha olímpica. Poderia ter optado por um carro oficial, mas dispensou a regalia. Segundo uma assessora, “ele é assim mesmo”: sempre que pode, anda de trem, metrô e bicicleta. Ao desembarcar do trem, misturou-se à multidão, sem seguranças, e pegou o metrô para ir até o local de trabalho, a sede do comitê, em Saint-Denis. Ao ver uma mulher descendo uma escadaria com um carrinho de bebê, ofereceu-se para ajudá-la.

“Eu não sirvo de exemplo, faço muitos deslocamentos, mas venho de um esporte que tem uma relação muito forte com a natureza”, explicou Estanguet à Folha. “Procuro, na medida do possível, fazer minha parte.”

Segundo o comitê organizador, os Jogos de Paris serão os primeiros em que os transportes coletivos serão “carbono zero”.

Nos últimos dias, a frase que mais tem repetido é: “Estou ansioso”. “É verdade que agora vai chegar depressa. Já vencemos etapas muito importantes, como a entrega das infraestruturas. Ainda temos algumas etapas a superar, mas estamos na reta final. Estou ansioso, tento aproveitar cada instante”, afirma.

À Folha, Estanguet elogiou a contribuição dos brasileiros que trabalham no Comitê de Paris-2024, oriundos da organização dos Jogos do Rio, em 2016. “É importante que nossas equipes possam ter todas as nacionalidades, que trazem essa expertise -gente que, por exemplo, já organizou o revezamento da chama olímpica. Pessoalmente, tenho uma excelente lembrança do Rio, por ter carregado a tocha lá”, disse.

Alto (1,86 m), magro, quase sempre vestido de forma sóbria e informal -camiseta preta e calça jeans, à Steve Jobs-, Estanguet parece nunca perder o sorriso de galã de cinema, mesmo diante das várias crises relacionadas à organização dos Jogos: risco de atentados, ingressos caros, poluição do rio Sena, ameaças de greve e estouro de orçamento.

Uma das polêmicas tem a ver com o próprio salário dele, de 270 mil euros por ano (cerca de R$ 1,5 milhão), valor que, ao ser revelado, desencadeou uma investigação da procuradoria da República, em andamento. Sobre o tema, o Comitê Organizador se limita a dizer que as remunerações são “rigorosamente enquadradas”.

Estanguet já é chamado de “Sebastian Coe francês”, uma referência ao campeão olímpico britânico que comandou a organização dos Jogos de Londres, em 2012, e depois seguiu em uma bem-sucedida carreira de dirigente esportivo -hoje, é presidente da World Athletics, a federação internacional de atletismo. É provável que o francês tenha uma trajetória parecida no esporte, uma vez extinto seu cargo atual.

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