Menu
Torcida

30 anos sem Senna: fãs no DF recordam histórias do ídolo em detalhes

Tudo certo para mais uma prova daquele que fazia o Brasil acordar mais cedo nos domingos, até que, “Senna bateu forte”

Redação Jornal de Brasília

01/05/2024 15h49

Lucas Alarcão, Rodrigo Fontão e Marcello Hendriks
(Jornal de Brasília/Agência de Notícias CEUB)

No Brasil, os domingos tinham que ser em casa, pois a corrida ia começar. A rotina do final de semana era assim até aquele 1º de maio de 1994, no GP de Ímola, quando o brasileiro bateu forte na curva na curva Tamburello. Lá se vão três décadas em que as memórias do ídolo permanecem vivas..

“Se não era o maior, era um dos maiores ao seu tempo, porque era uma pessoa cativante e excelente piloto. O melhor no tempo dele” diz o aposentado Agostinho Bresolin, fã de Senna, atualmente com 73 anos..

Naquele domingo, ele estava assistindo à corrida em casa. “Eu não perdia nenhuma. Minha reação foi correr na casa do vizinho para saber se ele estava assistindo. Ainda não tinham declarado a morte e, quando vi que a cabeça dele pendeu, eu disse que ele tinha morrido. Senti um grande sofrimento. Estou com a voz embargada só de lembrar”, relembra o fã.

Fim de semana sangrento

O final de semana mais trágico da história da Fórmula 1, marcado pelas mortes do tricampeão Ayrton Senna e do estreante da categoria Roland Ratzenberger, teve seu início na sexta-feira com os treinos livres no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola.

“Morte na tela, vida no colo”

O jornalista Celso Pedroso se preparava para mais uma corrida com uma companhia que havia chegado poucos meses antes. O filho, Lucas, estava a duas semanas de completar o seu primeiro ano de vida. Tudo certo para mais uma prova daquele que fazia o Brasil acordar mais cedo nos domingos, até que, “Senna bateu forte”.

“Na sala de casa, começa a corrida. Eu e Lucas (filho), prestes a fazer um ano, sentados em uma cadeira-espreguiçadeira acompanhando a prova. Tinha acabado de dar a mamadeira a ele quando veio o impacto da batida. “Senna bateu forte”, disse Galvão Bueno. Grave, parecia. E era. E foi. E se foi o tricampeão.”

Chorei naquele domingo

Era pra ser mais um dia com seu filho, uns daqueles que pode não acontecer muita coisa, mas que ficam na memória. Porém, aquele domingo, que era pra ser só mais um com o seu novo companheiro, virou um dia que jamais foi esquecido por ele.

“Chorei naquele domingo de manhã. Morte na tela, vida no colo – a do pequeno Lucas, que duas semanas depois faria um ano. Desde então já se passaram três décadas. E as memórias deste domingo marcante dão sempre um alerta. “

O início na elite

Após passar por todas as categorias antes da Fórmula 1, Ayrton Senna queria chegar ao seu sonho e correr na divisão principal.

Dessa forma, fez testes com algumas escuderias da elite, como a McLaren e Williams, mas a única proposta oficial foi da pequena equipe da Toleman. Assim, o piloto brasileiro estreou na Fórmula 1 no dia 25 de março de 1984, no Grande Prêmio do Brasil, no extinto circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

No seu primeiro ano na Fórmula 1, Senna terminou o campeonato na nona colocação com 13 pontos.
E mesmo com um carro inferior ele já mostrava seu talento para o esporte, conquistando o segundo lugar no GP de Mônaco, o qual foi marcado por uma forte chuva. Alguns especialistas da época, ficaram espantados com o talento da jovem promessa brasileira, pois mesmo com a tempestade que caia na pista, ele conseguia dirigir em alta velocidade.

“Não acompanhava com tanta frequência a fórmula 1, assistia a algumas corridas, mas isso mudou quando o Senna começou a se destacar logo no seu primeiro ano. Ele tinha um carro ‘’pior’’ e batia de frente com todo mundo, tinha uma coisa especial nele’’, diz o advogado Alexandre Freyre, de 49 anos, e fã do piloto.

Revelação

Já no seu segundo ano na Fórmula 1, Senna queria disputar o título, algo que não conseguiria na humilde equipe da Toleman, assim assinou contrato com a Lotus a qual poderia fazer ele conquistar vitórias.

Dito e feito, no dia 21 de Abril de 1985, no GP de Portugal, Ayrton Senna chegou a sua primeira vitória, e novamente mostrou seus recursos com a pista molhada. Nos seus três anos em sua nova escuderia, o piloto brasileiro conquistou ao todo seis vitórias, e em 1987 a terceira colocação no campeonato.

Senna e Prost

Contudo, Senna precisava de algo a mais para chegar ao título, de um carro mais poderoso e assim em 1988 o piloto chegou a McLaren, que na época tinha um dos melhores carros e desta vez ele tinha todos os ingredientes para chegar ao seu primeiro título.

Contudo, o piloto contou com um problema que ainda não havia tido dentro da fórmula 1, ter um bicampeão como companheiro de equipe, Alain Prost. Mas isso não impediu o brasileiro de conquistar o seu primeiro título na Fórmula 1.

Em seu segundo ano na McLaren, a rivalidade com Prost se intensificou, desta vez o francês se deu melhor e conquistou o seu terceiro título na Fórmula 1.Em 1990, já em equipes diferentes a disputa se elevou ainda mais, mas desta vez o piloto brasiliero levou a melhor e chegou ao seu bicampeonato.

Em 1991,o piloto brasileiro não decepcionou, deixou Prost para trás desde o início, e disparou na liderança.

Além disso, nesta edição Senna conquistou pela primeira vez a vitória perto do seu povo. Uma corrida em que o piloto só tinha a sexta marcha, pois a terceira, quarta e quinta haviam quebrado. Com a vitória no Brasil, Ayrton abria o caminho para o seu tricampeonato.

Dificuldades

Já nos anos de 1992 e 1993, as coisas se complicaram para Ayrton Senna, o carro da Williams se mostrou mais competitivo e a frente dos outros. Dessa forma, o piloto brasileiro ficou atrás dos seus adversários, com um quarto e segundo lugar, respectivamente.

Ainda em 1993, Senna presenteou todos os brasileiros com, considerada por muitos, a melhor volta da história da Fórmula 1. Além disso, ele venceu outras quatro corridas, mas não foi capaz de superar Prost, que foi o campeão pela quarta vez, um a mais do que o piloto brasileiro.

Chove chuva, que o Senna vai ganhar

E de todos os momentos e relações que o piloto brasileiro teve, uma sempre chamou a atenção Senna e a chuva. E isso não acontecia à toa, corridas memoráveis dele ocorreram nessa situação. Da estreia até os últimos momentos, essa sintonia se manteve.

GP de Mônaco, 1984, o piloto brasileiro chegava para a sua sexta corrida em sua temporada de estreia e para o acompanhar, a chuva. Em uma pista encharcada, Senna largou em 13º, com condições adversas muitos abordaram o GP, mas Ayrton crescia na prova e terminaria aquela disputa em segundo lugar, seu primeiro pódio na Fórmula 1.

Um ano depois, o GP de Portugal, já na Lotus, Senna largava na Pole Position. Novamente, a chuva acompanhava, o tempo passava e a situação climática piorava, mas o brasileiro se mantinha na liderança. Na primeira posição de ponta a ponta, desde os treinos qualificatórios até a bandeira quadriculada, Ayrton conquistou sua primeira vitória na Fórmula 1.

GP de Interlagos, 1991, Senna já era bicampeão mundial, mas ainda tinha algo a cumprir, uma vitória inédita no Brasil. O tempo estava fechado, nuvens densas… a chuva era certa na corrida. Ayrton largava na Pole Position, o piloto mantinha a liderança até que os problemas começaram a surgir.

A chuva se intensificava e Senna perdia suas marchas. Com sete voltas para o fim, o brasileiro só contava com a sexta marcha e conduzia o carro com as dificuldades mecânicas, climáticas e físicas. Os pilotos atrás diminuíam a diferença, mas Ayrton se mantinha na liderança, já sem força a inédita vitória no Brasil veio.

Ao final da corrida, Senna se mantinha no carro, na transmissão, aquela que viraria sua música tocava e, todos gritavam junto de Galvão Bueno: “ Ayrton Senna, do Brasil”. Nas arquibancadas, todos mostravam com orgulho a sua bandeira e celebravam a vitória do piloto.

“Me arrepio até hoje da primeira vitória dele no Brasil, ele teve problemas com a marcha do carro, depois que ele ganhou ele ficou tão desgastado que não conseguia nem levantar o troféu”, relembra o advogado Alexandre Freyre.’

Primeiro e último ano

O carro da Williams se mostrava cada vez mais competitivo e acima dos demais, com seus pilotos conquistando vitórias atrás de vitórias. Dessa forma, Senna começou a almejar poder voltar a elite, e para isso ele não poderia mais pilotar sua McLaren, que havia sido ultrapassado.

Ayrton Senna queria voltar para o podium, e sabia que na McLaren ele não poderia disputar. Dessa forma, ele tomou a decisão de ir para a Williams, a qual era considerada uma das melhores do últimos anos. Porém, ele não sabia que o seu primeiro ano também seria o seu último.

Durante o primeiro treino oficial do GP de Ímola, Barrichello foi a primeira vítima do final de semana mais sangrento da Fórmula 1. O piloto brasileiro foi para a Itália como vice-líder do campeonato, após quarto lugar em Interlagos e pódium na etapa do Japão. Durante a primeira sessão de treinos livres do GP De San Marino, Rubinho sofreu um acidente assustador.

O brasileiro que pilotava a Jordan com o número 14 entrou na Variante Baixa e decolou em uma barreira de pneus após tocar em um zebra alta. Barrichello teve uma luxação na costela e uma pequena fratura no nariz, suficiente para tirá-lo do final de semana.

No sábado, após o acidente de Barrichello, os pilotos voltaram ao circuito para a definição do grid de largada. Durante a segunda parte da classificação, a asa dianteira do carro de Roland Ratzenberger não aguentou a pressão aerodinâmica e bateu na curva Villeneuve.

Ratzenberger sofreu diversas fraturas cranianas, não resistiu e morreu naquele dia. Não foi oficializado que a morte teria ocorrido na pista. Caso houvesse a confirmação disso, o GP do dia seguinte poderia ser adiado.

A imagem do carro sendo arrastado pela curva após o impacto na mureta é considerada até hoje como uma das mais impactantes da Fórmula 1.

Luto

Em meio a um clima de luto e tensão por parte dos pilotos, as luzes vermelhas se apagaram e se iniciou o fatídico GP de San Marino. Logo na largada, o portugues Pedro Lamy bateu na traseira do Benetton-Ford e os dois pilotos saíram da pista. O acidente gerou um safety car que durou cinco voltas para que os fiscais limpassem os detritos na pista.

Após relargada, o grid se mantinha com Senna na liderança e Michael Schumacher logo atrás. Mas a liderança de Ayrton não durou muito tempo. Na volta 7, o brasileiro perdeu o controle do carro na curva Tamburello e chocou-se em alta velocidade no muro de concreto. Senna foi levado para o Hospital Maggiore, em Bolonha, onde recebeu os últimos atendimentos e horas depois veio a falecer.

Na pista a dúvida, no hospital a certeza: Ayrton morreu. Os dias de domingo eram de se comemorar… eram. A confirmação do fim ocorreu e a tristeza veio junto. As lágrimas molhavam as pistas e as ruas ficaram que nem em dias de chuva, mas dessa vez sem Senna para desafiá-las.

“Até hoje existe esse vazio, as pessoas falam: os domingos não são iguais sem Senna”,comenta um representante do perfil do Instagram Ayrton Senna Live, que preferiu não se identificar
No Brasil, a perda era tão grande que o presidente da época, Itamar Franco, decretou, no dia dois de maio de 1994, três dias de luto oficial. O sentimento era de que um parente próximo havia partido, para muitos um heroi, sem capa, mas com um capacete, um carro e uma bandeira do seu país.

“Ele parecia ser um parente e era uma pessoa presente no dia a dia. Senti que perdi uma pessoa extremamente querida e da família”, diz Agostinho.

“Eu vi o meu ídolo morrer”

Na manhã daquele 1º de maio o país parou. O Brasil, assolado pelas dificuldades econômicas, se despedia de um dos seus únicos motivos de alegria. Lágrimas, abraços e memórias transmitidas ao vivo enchiam as ruas das principais capitais para dar a bandeirada final de Ayrton Senna.

“Eu vi o meu ídolo morrer, quando ele bateu todo mundo ficava falando “o que aconteceu?, o que aconteceu?. Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo, eu não parava de chorar. E depois que a morte dele foi anunciada, o Brasil inteiro parou pra ver o funeral dele”, relembra Alexandre Freyre.

“Eu não conseguia acreditar no que estava acontecendo”, lembra Freyre sobre aquele 1º de maio de 94
O Brasil se despedia de seu ídolo, mas não era um fim, pois ainda que não mais presente fisicamente, ele ainda vive dentro daqueles que o admira. Ayrton Senna mostrava nas pistas seus valores e os seus fãs os seguiam, ele trazia a esperança de que era possível atingir os seus objetivos.

“A gente tinha orgulho de ver ele correndo porque o Senna ele era um exemplo de perseverança, um exemplo de garra, um exemplo de quanto ele queria atingir um objetivo. Nós, brasileiros, a gente via que era possível chegar lá, bastava ter dedicação, garra, muito trabalho que a gente pode atingir os nossos objetivos”, diz representante do perfil do Ayrton Senna Live.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado