Oescritor suíço Robert Walser quase conseguiu a realização de seu maior desejo: ser esquecido. Sua sede pelo ostracismo – mais honesta que a de alguns ex-presidentes – esbarrou na curiosidade de leitores do porte de Franz Kafka e Thomas Mann. Graças a esses e outros nomes, como o do filósofo Walter Benjamim, foi possível ao europeu ocidental descobrir um dos maiores nomes da literatura helvética – tarefa que agora se torna possível aos brasileiros.
Não que Walser seja um completo desconhecido em português. Algumas de suas obras, como os Micromegas, por muito tempo foram vistas como linguagem cifrada fruto de uma mente doentia.
Nada se compara, entretanto, à sua releitura de clássicos da literatura infantil, como a continuação de Branca de Neve, onde o autor propõe descobrir o que aconteceu com a heroína depois de ter se mudado para o castelo do príncipe.
Se o leitor considera frágil o argumento, saiba que essa foi a inspiração para que o diretor português, Júlio Cesar Monteiro, produzisse Branca de Neve, um filme de 75 minutos, de 1993, onde só é exposto na tela o ecrã, acompanhado de vozes de atores lendo textos de Walser. Uma das maiores polêmicas da história do cinema luso.
O Ajudante, que sai agora no Brasil, pela editora ARX, ainda é de uma fase menos sujeita a elocubrações filosóficas. Walser foi um homem simples, que trabalhou em serviços menores (até como ajudante, ou o faz-tudo que inspira o título). Toda sua obra é autobiográfica e de um pragmatismo que lembra o aparentemente simples mecanismo dos relógios suíços. Daí a pontualidade com que acerca nossa alma.
Para muitos críticos europeus, Walser é imprescindível. Nascido em 1878 em Biel (na Suí alemã), morreu em 1956, no mesmo país, depois de passar dez anos internado voluntariamente em sanatórios. Gostava de poucas frases de efeito – entre elas, a que deixou de escrever para “aproveitar a loucura.” Talvez tenha deixado um dos mais raros testamentos de sanidade que um escritor já legou.