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Por uma biografia afinada

Arquivo Geral

17/04/2003 0h00

Kevin Kline como Cole Porter, Ashley Judd como sua mulher, Linda, roteiro de Jay Cocks (o mesmo de Gangues de Nova York), muito luxo, muitas canções. A United Artists está anunciando para 2004 novo filme contando a vida do famoso compositor. Título: De-lovely. Promessa: será a primeira biografia, com um mínimo de fidelidade, que o cinema dedica a um grande artista da música popular. É bom que a primazia se faça justamente com Cole Porter. De todos os compositores americanos, foi o menos biografável pelos padrões moralistas da Hollywood de 1946, quando a Warner produziu o primeiro filme: A Canção Inesquecível (Night and Day).

Porter era homossexual. E o fato de mesmo assim ter se casado com uma elegante divorciada americana, exilada em Paris, deu aos roteiristas de A Canção Inesquecível (Charles Hoffman, Leo Townsend, William Bowers e Jack Moffit) e ao diretor Michael Curtiz a oportunidade de mostrar um biografado diferente, possível, vivido por Cary Grant (o detalhe de também este ser um homossexual que se casou mais de uma vez é mera coincidência – ou não, já que a escolha se fez por sugestão do próprio Porter, que assim descartou a escolha inicial do estúdio: Fred Astaire). Roteiristas e diretor conseguiram fazer o que era lei em cinebiografias de compositores: todos deviam escrever canções inspirados em suas mulheres. No caso, na Linda vivida por Alexis Smith.

O roteiro de Cocks promete corrigir as inverdades, a começar pelo relacionamento nada romântico de Porter com Linda. Ele, por ser como era, e ela, por jamais ter se recuperado do casamento com um brutamontes que a maltratava (o qual entraria para a História como o causador do primeiro desastre de automóvel dos EUA).

Linda era bonita e elegante como Alexis Smith, mas, ao contrário desta, detestava sexo. O que não impediu que os dois se completassem. O gosto por festas, viagens, reuniões sofisticadas, artes em geral e música em particular os unia. É nesta inusitada relação que Cocks pretende basear seu roteiro. Os tempos mudaram muito desde 1946.

Foi naquela década que Hollywood se pôs a biografar os cinco grandes compositores populares americanos: Robert Alda foi George Gershwin (1945); Robert Walker, Jerome Kern (1946); Tom Drake & Mickey Rooney interpretaram Richard Rodgers & Lorenz Hart (1948). Todos com maiores ou menores doses de invencionice.

Os últimos dias de Porter foram marcados pela depressão: teve a perna esquerda amputada em 1958, seis anos antes de morrer. Terminava assim o martírio que ele enfrentou depois de uma queda de cavalo ocorrida em 1937 e que o fez passar por 28 cirurgias.

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    17/04/2003 0h00

    Kevin Kline como Cole Porter, Ashley Judd como sua mulher, Linda, roteiro de Jay Cocks (o mesmo de Gangues de Nova York), muito luxo, muitas canções. A United Artists está anunciando para 2004 novo filme contando a vida do famoso compositor. Título: De-lovely. Promessa: será a primeira biografia, com um mínimo de fidelidade, que o cinema dedica a um grande artista da música popular. É bom que a primazia se faça justamente com Cole Porter. De todos os compositores americanos, foi o menos biografável pelos padrões moralistas da Hollywood de 1946, quando a Warner produziu o primeiro filme: A Canção Inesquecível (Night and Day).

    Porter era homossexual. E o fato de mesmo assim ter se casado com uma elegante divorciada americana, exilada em Paris, deu aos roteiristas de A Canção Inesquecível (Charles Hoffman, Leo Townsend, William Bowers e Jack Moffit) e ao diretor Michael Curtiz a oportunidade de mostrar um biografado diferente, possível, vivido por Cary Grant (o detalhe de também este ser um homossexual que se casou mais de uma vez é mera coincidência – ou não, já que a escolha se fez por sugestão do próprio Porter, que assim descartou a escolha inicial do estúdio: Fred Astaire). Roteiristas e diretor conseguiram fazer o que era lei em cinebiografias de compositores: todos deviam escrever canções inspirados em suas mulheres. No caso, na Linda vivida por Alexis Smith.

    O roteiro de Cocks promete corrigir as inverdades, a começar pelo relacionamento nada romântico de Porter com Linda. Ele, por ser como era, e ela, por jamais ter se recuperado do casamento com um brutamontes que a maltratava (o qual entraria para a História como o causador do primeiro desastre de automóvel dos EUA).

    Linda era bonita e elegante como Alexis Smith, mas, ao contrário desta, detestava sexo. O que não impediu que os dois se completassem. O gosto por festas, viagens, reuniões sofisticadas, artes em geral e música em particular os unia. É nesta inusitada relação que Cocks pretende basear seu roteiro. Os tempos mudaram muito desde 1946.

    Foi naquela década que Hollywood se pôs a biografar os cinco grandes compositores populares americanos: Robert Alda foi George Gershwin (1945); Robert Walker, Jerome Kern (1946); Tom Drake & Mickey Rooney interpretaram Richard Rodgers & Lorenz Hart (1948). Todos com maiores ou menores doses de invencionice.

    Os últimos dias de Porter foram marcados pela depressão: teve a perna esquerda amputada em 1958, seis anos antes de morrer. Terminava assim o martírio que ele enfrentou depois de uma queda de cavalo ocorrida em 1937 e que o fez passar por 28 cirurgias.

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