É hora de erguer o Troféu Candango, mas também de tocar nas feridas. O último dia do 39° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro reserva ao seu público a festa de premiação das mostras competitivas de filmes em curta e longa-metragem de 16 e 35 milímetros, mas também encerra a maratona de cinema nacional com o documentário político Hércules 56, do diretor carioca Silvio Da-Rin.
Os melhores filmes, atores, diretores, roteiristas e técnicos dividem um total de R$ 437 mil, além de prêmios em equipamentos de laboratório e troféus de reconhecimento, distribuídos em 46 categorias. Na principal categoria, de longa-metragem em 35 milímetros, estão no páreo por melhor filme e direção Evaldo Mocarzel (Jardim Ângela), Carlos Cortez (Querô), o paraibano-brasiliense Vladimir Carvalho (O Engenho de Zé Lins), Helvécio Ratton (Batismo de Sangue), Cláudio Assis (Baixio das Bestas) e Silvio Tendler (Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá).
O novo filme de Silvio Da-Rin, Hercules 56, foi a atração escolhida para a noite de encerramento do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional, em noite fechada para convidados.
A fita é um documentário realizado com os nove remanescentes do grupo de 15 presos políticos da ditadura que, em 6 de setembro de 1969, foram trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, seqüestrado dois dias antes, no Rio de Janeiro, por duas organizações revolucionárias que lutavam contra a repressão militar.
São eles: Agonalto Pacheco, Flavio Tavares, José Dirceu de Oliveira, José Ibrahim, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Mario Zanconatto, Ricardo Villas Boas, Ricardo Zarattini e Vladimir Palmeira – os outros eram Luis Travassos, Onofre Pinto, Rolando Fratti, João Leonardo Rocha, Ivens Marchetti e Gregório Bezerra, falecidos.
Com diferentes idades, origens sociais e formação, oriundos de diversas regiões brasileiras, os 15 representavam, à época, praticamente todas as tendências políticas que combatiam a ditadura. Em entrevistas individuais, os ex-presos políticos contam sua formação, trajetória política, opção pela luta armada, prisão, libertação e experiência no exílio.
Em contraponto, três dirigentes da Dissidência da Guanabara (DI-GB), organização que idealizou e executou o seqüestro e que adotou a sigla MR-8 durante a ação – reunidos com dois únicos remanescentes da Ação Libertadora Nacional (ALN) que ajudou a realizá-lo – rememoram os motivos que os levaram à ação, como ela foi executada, como se definiu a lista dos presos a serem liberados, o manifesto e suas conseqüências políticas. Um extenso material de época forma a terceira linha narrativa, ajudando a contextualizar a ação.