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Filme de Silvio Tendler encerra mostra competitiva deste ano

Arquivo Geral

27/11/2006 0h00

"Eu sei que é um filme panfletário. Mas é um panfleto necessário". Palavras de Silvio Tendler, um dos expoentes do gênero documentário no Brasil, que assina a direção e o roteiro de Encontro com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá, longa que encerra nesta segunda-feira a mostra competitiva do 39º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com sessões às 20h30 e às 23h30, no Cine Brasília.

Milton Almeida dos Santos nasceu em Brotas de Macaúbas, Bahia, no dia 3 de maio de 1926 e morreu, aos 75 anos, em 2001. Foi um dos maiores geógrafos que o Brasil já teve – e foi um lutador. Lutou contra as injustiças da ditadura militar e ganhou o exílio.

Lutou contra as injustiças do processo de globalização que oprime os países pobres e suas culturas. Obteve reconhecimento mundial e um filme. "Descobri o Milton Santos em 1995 durante as pesquisas para outro filme. Na época, ele tinha ganho o prêmio de geografia mais importante do mundo (Prêmio Vautrin Lud, concedido por universidades de 50 países) e falava sobre conceitos que ninguém pensava ainda. Apontava injustiças que ainda não eram facilmente visíveis", conta Tendler.

Mas a idéia de fazer um filme ganhou força por volta de 1996, quando Tendler foi secretário de Cultura do DF. "Milton esteve aqui em Brasília a convite do governador Cristovam Buarque. Ele já era um arauto antiglobalização e eu comecei a pensar mais seriamente em um filme sobre suas idéias", explica o diretor. "Mas a chance veio em janeiro de 2000, quando ele cancelou uma palestra por problemas de saúde e eu percebi que se não fosse ali não seria mais", completa.

Então Tendler fez uma entrevista com Milton Santos onde o pensador expôs as idéias de uma vida inteira, fala da crueldade da globalização com os países pobres e faz previsões sobre os novos rumos que o mundo tomaria. "No final eu perguntei o que lhe dava a certeza de que as idéias dele iriam ter a repercussão necessária. Ele me apontou e disse: você. Eu tinha que fazer esse filme", confessa Tendler.

O geógrafo prevê, ainda em 2000, a crise política pela qual o Brasil está passando desde 2003 e os conflitos entre a religião muçulmana e o Ocidente. "E isto está no filme, está documentado", garante o diretor. Mas Milton Santos não era um pessimista.

"Segundo as previsões dele, daqui pra frente as coisas vão melhorar. a palavra democracia vai voltar a ter sentido; como já teve na Grécia Antiga. Vai voltar a se encher de conteúdo em vez da palavra vazia que é hoje. E a globalização vai mudar", adianta Silvio Tendler. "Aliás, já está mudando. Em 2001, no governo FHC, o Brasil tinha aquela política externa completamente atrelada aos EUA. Hoje estamos nos voltando para os países do terceiro mundo, como a Índia. Estamos nos unindo com os mais parecidos conosco", exemplifica o documentarista.

Silvio Tendler contou, ainda, que se sente feliz por lançar o filme em Brasília em um ano em que todas as produções têm algum aspecto político e há três documentários na mostra competitiva.

"Pra mim foi uma grata surpresa ver essa ousadia de gênero aqui da comissão; de colocar a política no festival inteiro. Mas eu acho que tem tudo a ver porque Brasília pulsa política", afirma ele. O diretor revela ainda que procura um diálogo real entre o cinema e a política, um diálogo imediato. "Quero fazer do meu cinema um instrumento de reflexão filosófica. Algo que faça com que as pessoas pensem e ajam", aposta.

Com Milton Santos ou o Mundo Global Visto do Lado de Cá, Silvio Tendler, que já tem mais de uma dezena de filmes no currículo, chega a seu quarto baiano escolhido como tema. Castro Alves (1999); Marighella, Retrato Falado do Guerrilheiro (curta-metragem, 1999) e Glauber o Filme, Labirinto do Brasil (2004, ganhador do prêmio de Júri Popular no Festival de Brasília do mesmo ano) são os outros três. "Já fui à Bahia e disse que quero ser um cidadão baiano. Não consigo lembrar de nenhum outro cineasta que filmou tanto a Bahia", brinca o diretor.

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