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Confira, na íntegra, a entrevista que Juca de Oliveira concedeu ao <b>Jornal de Brasília</b

Arquivo Geral

19/10/2009 0h00

“Um batedor de carteiras do bem”. É assim que o organizador e crítico teatral Jefferson Del Rios se refere ao ator e dramaturgo Juca de Oliveira no prefácio do livro Melhor Teatro – Juca de Oliveira. Del Rios entende Juca como “um autor que acerta o golpe quando o público se distrai”.


A carreira de Juca de Oliveira confirma as palavras do crítico. Paulista de São Roque, começou cedo na carreira teatral, direto no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Passou pelo Teatro de Arena, onde atuou em Eles não usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri.


Em entrevista para o Jornal de Brasília, Juca de Oliveira comentou sobre o que gosta de fazer quando não escreve ou atua, entre outros assuntos como televisão brasileira, ética e corrupção.


JBr – A que projetos você se dedica neste momento?

Juca de Oliveira – Estamos no início de uma turnê por seis capitais com “Happy Hour”. Isso depois de sete meses de sucesso no Teatro Jaraguá, em São Paulo. A peça explodiu nos dois últimos dois meses, com casas sempre lotadas. Voltaremos a São Paulo no início do ano que vem para continuarmos a carreira do espetáculo, sem data para encerrarmos, o que é maravilhoso. Estou escrevendo uma peça, que deverá ser em princípio meu próximo espetáculo, direção do Jô em continuação a uma dobradinha de anos de trabalho e profunda amizade. Nós somos amigos íntimos desde 1962! Jô também tem a idéia de fazermos uma Tragédia Grega. Adorei a idéia e estamos lendo Ésquilo, Sófocles e Eurípides. 

JBr – Você poderia falar mais detalhes sobre a turnê de “Happy Hour” e outros trabalhos futuros?

Juca de Oliveira – Happy Hour nasceu de uma série de reflexões, anotações para temas de futuras peças. Um belo dia mostrei uma delas ao Jô e ele me perguntou se eu tinha mais. “Um monte” – respondi. Ele aí organizou uma leitura naquele maravilhoso espaço cultural que ele tem no seu apartamento, convidamos os amigos de sempre, Caruso, Jandira Martini, Irene Ravache,  Maria Adelaide Amaral, Jefferson Del Rios, Maurício Guilherme, li os textos e Jô sentenciou: “Vamos montar um espetáculo solo com esses textos”. E quem é que diz não ao Jô Soares? Ele tinha dirigido (com excepcional talento) a minha última peça, “Às Favas com os Escrúpulos”, com a Bibi Ferreira na protagonista, enorme sucesso que já vai entrar no terceiro ano de carreira, “A Cabra ou Quem é Sylvia”, uma obra prima de direção que lhe deu  o reconhecimento unânime da crítica. Hoje Jô é um dos melhores diretores do teatro brasileiro. E assim foi. Trabalhamos loucamente durante três meses e aqui estamos.

JBr – O crítico de teatro Jefferson Del Rios (que organizou “Melhor Teatro – Juca de Oliveira”) disse que “para além de ser um dos grandes atores brasileiros, Juca é um bom escritor e um cidadão com posições políticas definidas. Foi presidente do Sindicato dos Artistas de São Paulo durante o regime militar, um período difícil para a cultura. Sua indignação social e seu poder de sátira estão inteiros na sua dramaturgia”. Agora te devolvo a pergunta que fiz a Del Rios: Como ator e dramaturgo, qual a importância que você credencia a sua própria obra?

Juca de Oliveira – Não me preocupo muito com o significado da minha obra. Sou um contador de histórias, de origem caipira, nasci em São Roque, cidade do interior de São Paulo e vivo há 37 anos numa fazenda em Itapira, também no interior. Escrevo sobre coisas que me apaixonam ou me chateiam e indignam. Tenho escrito nas últimas peças sobre a ética, sobretudo a falta de ética dos nossos líderes políticos que deveriam dar o exemplo e que estão dando um triste e lamentável exemplo aos nossos filhos e netos. Acho que esse é o trabalho e a responsabilidade do escritor: denunciar, cobrar, deixar um registro sério e transparente sobre o que foi a sociedade do seu tempo. O teatro é isso, desde a Grécia Antiga, até hoje. 

JBr – Ao escrever seus textos, você tem como preocupação denunciar de forma explícita (com nomes e fatos) a impunidade de poderosos e a inversão de valores que vivemos com o barateamento da política e a corrupção. Considera que faz isso com um toque coloquial e divertido?

Juca de Oliveira – Sim, essa é a minha preocupação. Denunciar a corrupção, a falta de caráter do político brasileiro a inversão de valores. Hoje temos um Legislativo subserviente e dócil ao governo, sem personalidade própria apenas ratificando as decisões quaisquer que sejam emanadas do Palácio do Planalto, absolvem-se criminosos e votam leis que ao invés de aperfeiçoarem os costumes políticos consolidam a ilegalidade como a tão esperada reforma eleitoral, para citar apenas um exemplo. Temos um Judiciário igualmente dócil e subserviente que absolve ou condena ao sabor dos interesses eleitoreiros do presidente. Ou seja, não vivemos como pensávamos num sistema presidencialista, onde deve imperar a harmonia entre os Poderes. Temos a ação truculenta do Executivo, ignorando os outros poderes. Vivemos em uma Monarquia Absolutista. Tudo isso assistimos diariamente pela televisão ou lemos pelos jornais. E ficamos indignados. Até ofendidos! E justamente porque essas práticas políticas nos causam tanto desconforto é que o teatro, as peças, se identificam com a população que vai, assiste, apóia e melhora como cidadão para partir para a sua revanche no futuro. Sim, é uma comédia, desopila o fígado, é catártico, claro. A comédia nasce do cérebro, enquanto a tragédia nasce do coração. A comédia leva à reflexão, ao raciocínio. Rimos mas somos apanhados numa espécie de armadilha. Rimos de algo que nos constrange, humilha. Então, ou somos cúmplices ou devemos fazer algo para reverter esse quadro. Ficou claro? A comédia e mobilizadora, ela libera energia, idéias. Por isso é que os romanos já diziam: “Ridendo castigat mores”: rindo, mudam-se os costumes. 

JBr – Como é a sua relação com a televisão hoje? Você percebeu alguma mudança em curso em relação à linguagem das telenovelas brasileiras.

Juca de Oliveira – Adoro televisão, mas privilegio o teatro porque também escrevo teatro. Quando estou fazendo televisão não tenho tempo para escrever teatro porque tenho que memorizar os textos da novela. Mas quando estou fazendo teatro, continuo escrevendo, o que dá enorme satisfação, pois você participa integralmente do processo de criação do espetáculo. Como autor e como intérprete. Mas sempre que não estou no meio de uma produção, vou pra televisão, principalmente quando se trata de um bom personagem. Para o ator o que interessa é o personagem. 

 
JBr – Uma última pergunta, Juca. O que você mais gosta de fazer quando não está escrevendo textos ou atuando?

Juca de Oliveira – Quando não estou atuando vou para fazenda e fico com a minha família, principalmente com a minha filha Isabella, que nasceu na fazenda e tem paixão pela fazenda. Lá nós somos felizes de verdade. A floresta é o habitat natural do homem. Gostamos dos animais, dos bichos, dos lagartos, das capivaras, das maritacas e dos Jacus. É uma pequena área de preservação ambiental, de soltura de animais silvestres. Nem um ramo pode ser cortado, nem um marimbondo pode ser morto. E a natureza reconhece em você um não predador e te devolve o afeto. É maravilhoso você notar e corresponder à docilidade dos animais. Nada mais gratificante. Minha filha e minha mulher, a Zu, que vive lá, cuidam dos animais, dos cães, dos gatos. Principalmente minha mulher. Nós, minha filha e eu, temos que ganhar a vida em São Paulo ou pelos teatros desses Brasis, mas a Zu (Maria Luísa) está sempre lá! Lá é muito bom!

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