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Brasília vê esperada contundência em <i>Baixio das Bestas</i>

Arquivo Geral

27/11/2006 0h00

Baixio das Bestas, o esperado segundo trabalho do pernambucano Cláudio Assis, passou na noite de domingo no Festival de Brasília sob a expectativa geral de ser o filme mais contundente da seleção deste ano. Não decepcionou.

Seu retrato de uma comunidade rural pernambucana, dominada por um avô mercenário que explora sexualmente uma neta de 16 anos, prostitutas maltratadas e jovens de classe média alta de uma violência extrema veio mesmo para incomodar.

Cláudio Assis e seu roteirista habitual, Hilton Lacerda, criam mais uma vez, como no premiado Amarelo Manga, uma visão amarga do Brasil.

Não foi o concorrente mais aclamado pela platéia do festival até agora. Houve aplausos entusiasmados, sim, mas nada que se comparasse à aclamação de Querô, de Carlos Cortez (SP), na quinta-feira, ou mesmo de Batismo de Sangue, de Helvécio Ratton (MG), no sábado. Uma reação era até de se esperar, pelo choque das imagens às vezes brutais de Baixo das Bestas.

Na apresentação de seu filme, Cláudio Assis foi bem mais discreto do que o esperado. Primeiramente, não subiu ao palco do Cine Brasília, deixando que a habitual apresentação dos atores e da equipe técnica fosse feita pela produtora do filme, sua mulher, Júlia Moraes (neta do poeta Vinicius de Moraes).

Do grupo, o mais falante foi o ator Matheus Nachtergaele, que disse: "A gente vai nascer com vocês, para vocês, para cima de vocês". Em seguida, puxou um coro de um palavrão da platéia em peso, seguindo uma tradição que vem do teatro, quando isso é feito para dar sorte nas estréias. Cinco minutos depois, Cláudio Assis finalmente subiu ao palco, não disse nada e beijou um por um os atores e técnicos, quase todos na boca. A quem lhe perguntava, ele dizia que nada tinha a dizer. "Meu filme fala por mim", repetia.

Na história, Maria Auxiliadora (a estreante Mariah Teixeira), de 16 anos, é explorada sexualmente pelo avô (Fernando Teixeira). A menina é objeto de desejo dos homens do lugar. Aliás, ela nunca é mais do que um objeto para os outros, assim como as prostitutas do bordel local (Dira Paes, Marcélia Car taxo e Hermila Guedes, de O Céu de Suely).

As mulheres, no universo criado aqui, não têm autonomia alguma e ainda são vítimas de brutalidade por parte de jovens integrantes da burguesia local (Matheus Nachtergaele e Caio Blat que, aliás, está no elenco de outro concorrente aqui, Batismo de Sangue).

A fotografia do veterano Walter Carvalho (também co-produtor do filme) é um caso à parte de excelência. Mas no geral Baixio das Bestas não é dado a sutilezas. É áspero e procura atingir o estômago do espectador.

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