Menu
Política & Poder

Movimentação dos novos senadores pode ser decisiva na escolha do futuro presidente da Casa

Arquivo Geral

17/12/2018 7h00

Foto: Ana Volpe/ Agência Senado

Eduardo Brito
[email protected]

Ao contrário da Câmara dos Deputados, em que as migrações de bancadas estarão basicamente restritas aos partidos que não conseguiram ultrapassar a cláusula de barreira, no Senado podem-se esperar grandes emoções. A guerra pela presidência já está desencadeada, ainda que os interessados neguem. Como a eleição dos senadores é majoritária, o Supremo Tribunal Federal decidiu que eles não correm o risco de perder o mandato por infidelidade caso mudem de legenda. Traduzindo: esperam-se muitas trocas, na maioria atreladas à luta que já se delineia entre o governo Bolsonaro e seu – por enquanto – desafeto, o três vezes presidente Renan Calheiros.

O MDB de Renan encolheu. Encerra a atual legislatura, em que chegou a ter 21 senadores, com 18. Mas o vendaval eleitoral deste ano o deixou com 12. Mesmo assim permanece com a maior bancada. Antes segundo colocado, o PT chegou a ter 13, mas elegeu apenas quatro e começará o ano com seis. Hoje a vice está com os tucanos, com oito.

Essa composição dá ao MDB um argumento para pleitear a presidência, na condição de bancada mais numerosa. Foi nessa condição que, durante os últimos 34 anos, o partido passou 30 na presidência, ainda em sua encarnação PMDB. Não é, porém, direito líquido e certo. O Regimento Interno apenas determina que, na eleição da Mesa Diretora, deve ser “assegurada, tanto quanto possível, a participação das representações partidárias ou dos blocos parlamentares com atuação no Senado”.

Foi com base nesse texto que Antonio Carlos Magalhães, do minoritário PFL, hoje DEM, passou quatro anos na presidência. Mesmo assim, o MDB prepara-se para alegar sua condição de maior bancada.
O próprio presidente do Senado, Eunício Oliveira, assegura que o MDB tem prerrogativa de fazer seu sucessor. Pertencente ao partido, ele não se reelegeu.

Além de Renan, esse argumento pode reforçar a posição da líder da bancada, a senadora Simone Tebet, que seria alternativa bem mais palatável para o Planalto. De quebra Simone é filha de um presidente do Senado, Ramez Tebet, que se tornou extremamente querido, morreu senador e até hoje é lembrado com saudades no Congresso.

O tucano Izalci Lucas, do DF, reconhece que o MDB tem a proporcionalidade a seu favor. Alerta, porém, que os senadores novatos – a maioria – e muitos dos antigos entenderam o recado de renovação que veio das urnas. Não é uma boa notícia para Renan Calheiros.

Tanto Renan quanto Simone reforçarão sua posição. Em janeiro, mesmo no recesso, o MDB receberá um 13º] senador, Luiz Carlos do Carmo, suplente do governador eleito Ronaldo Caiado e posicionado para assumir a herança política de outro antigo senador, Íris Rezende. Não para por aí. Outros senadores vêm sendo procurados para se filiar, como Rose de Freitas, eleita pelo partido e hoje no Podemos, ou de Jorge Kajuru, recém-eleito pelo PRP, embora seu destino também deva ser o Podemos. A aposta dos emedebistas é aparecer na posse com ao menos 16 senadores, reforçando sua argumentação.

Até o PT pode emagrecer nesse jogo. O suplente de Fátima Bezerra, eleita governadora do Rio Grande do Norte, é Jean-Paul Prates, empresário do setor elétrico. Maior dono de empresas de energia eólica do Nordeste, o neopetista Prates já tornou claro que pretende votar a favor de propostas econômicas partidas do futuro ministro Paulo Guedes. Será difícil, caso isso ocorra, sua permanência no PT. Mais um alvo para o MDB.


NÚMEROS

49
senadores serão novidades no plenário, assumindo as cadeiras no início do ano. O total é 81.
85%
foi a renovação nas eleições deste ano, maior da história do Senado
21
partidos terão cadeira, a maior pulverização


Disputa já inclui baixaria

Fora do MDB também há candidaturas colocadas, embora ninguém assuma. Adversário declarado de Renan, o senador eleito Flávio Bolsonaro chegou a citar nomes. Falou no veterano Esperidião Amin (PP-SC), que retorna ao Senado após 20 anos, no gaúcho Lasier Martins, do PSD, e em Davi Alcolumbre (DEM-AP). Há quem garanta que os bolsonaristas mais fervorosos consideram apoiar o presidenciável Álvaro Dias (Podemos-PR), que hostilizou o presidente eleito em debates, mas recebeu telefonemas carinhosos dele nos tempos do segundo turno. O tucano Tasso Jereissati, ex-presidente do PSDB, também está sendo inflado por aliados de Bolsonaro, embora Flávio não o tenha citado.

Renan sentiu o perigo. De forma muito diferente do seu estilo habitual, abriu fogo contra Tasso, a quem acusou de lhe pedir votos para um projeto de incentivos fiscais a fábricas de refrigerante, o que significaria, nas palavras de Renan, “financiar suas fábricas de Coca-Cola com dinheiro do povo cearense”.

Surpresa, também atacou Lasier Martins da tribuna do plenário. Os dois bateram boca durante quase dez minutos, o que é raro na Casa. Há quatro dias, ao defender o médium João de Deus, bateu de graça no rival. Ao afirmar que o religioso não poderia ser “prejulgado, sangrando em vida”, Renan disse que João de Deus não é “um Roger Abdelmassih, um Lasier qualquer”. Lasier reagiu, afirmando que “não desceria ao nível dessa figura execrada pela maioria dos brasileiros”.

Bloco acena com reação

Essa movimentação não traz sinais positivos para a futura liderança do governo Bolsonaro no Senado. Até senadores eleitos que nada têm a ver com a oposição petista falam em construir um bloco independente. Izalci Lucas, senador eleito pelo PSDB do Distrito Federal, admite que, nos bastidores, forma-se no Senado um blocão “contra o radicalismo”. A ideia, segundo ele, é reunir senadores “acima de partidos e interesses partidários” para “colocar ordem na Casa”. Nem esquerda, nem direita. “A gente sabe que virá muita coisa [radical] aí a partir de 2019 e tem que ter bom senso, pois o País não aguenta muito radicalismo”, diz.

Tasso Jereissati, também do PSDB, confirma candidatura a presidência, mas admite abrir mão “se o MDB apresentar nome palatável, que não seja Renan”. E tem muito senador tucano resistente a Bolsonaro. Renan, de seu lado, tem apoio fechado de ao menos quatro dos senadores petistas e deve chegar a todos os seis.

Calcule

Ao menos dez cadeiras estão em jogo
Senadores terão de optar por novas legendas

O filão para a caça de filiações das bancadas maiores está nos partidos que não ultrapassaram a cláusula de barreira. Nada menos do que estão em jogo. Só a Rede tem cinco. Também há dois do PHS e um do PRP, sem falar de Fernando Collor, do PTC, e do brasiliense José Antônio Reguffe, que não poderá ficar sem legenda por muito tempo mais. Deles, apenas um tem destino certo, o PPS, mas todos já estão definindo suas novas bancadas.

Aumentou a quantidade de partidos com representação na Casa. Em vez das 17 siglas atuais, o Senado passará a 21. Entre as novidades está o Partido Social Liberal (PSL) de Bolsonaro.

Entre os que estarão fora da nova legislatura figura Romero Jucá, que está há 24 anos no Senado e, depois de liderar a bancada de quatro governos seguidos (Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer), ganhou o apelido de “líder de todos os governos”. Até se costuma afirmar que, antes de uma eleição geral, pode-se desconhecer quem será o novo presidente, mas não quem será seu líder no Senado.

 

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado