Menu
Política & Poder

Governadores do Centro-Oeste demonstram insatisfação com medidas de socorro aos Estados

Os chefes dos Executivos estaduais solicitaram ao presidente que a prorrogação do pagamento das dívidas com a União seja de um ano e não apenas de seis meses

Redação Jornal de Brasília

24/03/2020 16h59

BRASÍLIA – Após reunião com o presidente Jair Bolsonaro na manhã desta terça-feira, 24, governadores do Centro-Oeste demonstraram insatisfação com algumas das medidas de socorro aos Estados anunciadas pelo governo federal. Apesar disso, classificaram a reunião como produtiva e disseram que o presidente estava aberto ao diálogo.

Os chefes dos Executivos estaduais solicitaram ao presidente que a prorrogação do pagamento das dívidas com a União seja de um ano e não apenas de seis meses, conforme anunciado ontem. O pleito já estava em debate no grupo de secretários estaduais de Fazenda.

Outra medida do governo federal que ficou aquém da expectativa foi o anúncio de R$ 16 bilhões para recompor o Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Segundo os governadores do Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso Sul, essa medida não atende às necessidades dos estados do Centro-Oeste diante da perda da arrecadação.

Eles pedem a recomposição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), quitação de débitos referentes à Lei Kandir e facilidade em operações de créditos por meio do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-OEste (FCO).

Em entrevista ao Estado, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse que o adiamento do pagamento da dívida por seis meses não é suficiente para solucionar a crise orçamentária diante da queda da arrecadação durante a pandemia da convid-19. Segundo ele, com esta prorrogação, as dívidas devem voltar a ser pagas ainda neste ano, quando a arrecadação do estado ainda não tiver se recuperado.

“A proposta de prorrogar o do pagamento das dívidas por seis meses não resolve o meu problema orçamentário, porque estarei dentro do mesmo Orçamento”, disse Ibaneis, dizendo que Bolsonaro foi “bastante afável.”

O governador do Distrito Federal argumentou que o adiamento do pagamento por 12 meses dá condições de acompanhar a evolução econômica e incluir o pagamento da dívida na previsão orçamentária de 2021. “Em vez de seis, se fossem 12 meses, vou ter condição de ver evolução econômica, fazer uma provisão de realidade do orçamento do próximo ano e assim retomar o pagamento”, disse.

Ibaneis argumentou que terá queda na arrecadação e tem recorrido às despesas extraordinárias para bancar medidas como auxílio para catadores de matérias recicláveis, auxílio para mães que têm filhos em casa. “Estou criando várias medidas. Estou tendo que equipar hospitais com mais agilidade. Então, eu tenho uma arrecadação descendente e gasto ascendente”, justificou.

O governador afirmou que pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir a prorrogação por um ano do pagamento da dívida, mas afirmou que está confiante em uma resposta do presidente Bolsonaro.

“Podemos tentar suspender a dívida (no STF), mas estou apostando agora no diálogo. O governo está se abrindo ao diálogo, isso é importante para todos nós.”

Após a reunião com o Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), em vídeo publicado em uma rede social, disse ter pedido que a União recomponha as perdas do ICMS para atravessar a pandemia da covid-19. Segundo Caiado, a receita usada para socorrer estados do Norte e Nordeste com a recomposição do Fundo de Participação dos Estados não atende ao Centro-Oeste.

“Lá (Norte e Nordeste) tem estados que o FPE significa 55% da sua receita (…) No Centro-Oeste temos uma previsão de queda na arrecadação do ICMS, que pode a R$ 4,6 bilhões de reais até dezembro. Com isso, afeta a nossa economia, a condição nossa de quitar nossos compromissos, nossa folha de pagamento, e provoca ainda um efeito dominó, porque 25% do ICMS é repassado aos municípios”, argumentou.

No Sul, Leite vê ‘mudança de postura’ de Bolsonaro em relação ao coronavírus

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo leite (PSDB), saudou a mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro em relação às medidas de combate ao coronavírus. Leite participou, de manhã, de uma teleconferência entre Bolsonaro e os governadores da região Sul. Segundo ele, no primeiro momento da pandemia a postura de Bolsonaro prejudicou a logística de ações para combate à disseminação do vírus.

¨O mais importante é saudar a mudança de postura do presidente da República. O presidente teve uma primeira postura que não colaborou na coordenação das ações, ao contrário, fez com que governadores e prefeitos atuassem de forma esparsa e isso gerou uma falta de coordenação que prejudicou a logística no país¨, disse o governador gaúcho em vídeo divulgado ao vivo em suas redes sociais. ¨Agora o presidente chama estas reuniões e isso é saudável¨, completou Leite.

Além de Bolsonaro e dos governadores, participaram da reunião on-line os ministros Paulo Guedes (Economia), Luiz Henrique Mandetta (Saúde), Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura).

Segundo Leite, Guedes se mostrou aberto a estudar medidas econômicas solicitadas pelos governadores mas o governo não soube responder como serão alocados os R$ 8 bilhões anunciados para a área da Saúde de estados e municípios. Na véspera, governadores das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste já haviam cobrado o detalhamento da liberação dos recursos mas não tiveram resposta.

De acordo com o governador do Rio Grande do Sul, algumas medidas anunciadas são inócuas, como a suspensão dos pagamentos das parcelas da dívida com a União e bancos públicos, pois, segundo ele, o pagamento destas dívidas já estava suspenso por decisões judiciais. ¨O que nós demandamos? Que não apenas as dívidas para com bancos públicos sejam suspensas mas que isso se estenda a organismos internacionais. Que possam ser saldadas as parcelas pela União. O Ministro Paulo Guedes se demonstrou aberto a estas medidas. Foi uma boa e positiva reunião que mostra uma mobilização do governo federal e isso deve ser saudado¨, afirmou.

Além disso ele pediu a suspensão das transferências de impostos federais como PIS e PASEP e do pagamento de precatórios à União. Não houve resposta às solicitações mas o governo ficou de estudar.

De acordo com o governador do Rio Grande do Sul, Guedes aproveitou a reunião para enaltecer as medidas fiscais adotadas pelo governo.

¨Paulo Guedes fez questão de frisar que o governo tem artilharia, este foi o termo, tem munição, porque fez reformar importantes e reduziu, por exemplo, a taxa de juros. Isso fez com que reduzisse o crescimento da dívida pública da União e, com isso, que o governo federal tenha capacidade¨, afirmou.

Estadão Conteúdo

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado