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Política & Poder

Flávio Bolsonaro teria financiado construção de prédios da milícia, diz Intercept

Documentos do MP-RJ mostram que o ex-assessor Queiroz confiscava parte dos salários dos servidores de Flávio e repassava à milícia. Parte dos lucros voltava para Flávio

Redação Jornal de Brasília

25/04/2020 9h16

Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) realiza reunião. Na pauta, leitura de relatórios das indicações para presidência e duas diretorias do Banco Central (BC) e diretoria da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).Em destaque, senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ).Foto: Pedro França/Agência Senado

Documentos e dados levantados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) mostram que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) financiou e lucrou com a construção de prédios erguidos pela milícia do estado. Estas construções teriam sido feitas irregularmente, com dinheiro público.

O site The Intercept Brasil obteve os documentos com exclusividade. Três construtoras levantaram as edificações com dinheiro de “rachadinha”. Para chegar a esta conclusão, o MP-RJ confrontou dados bancários de 86 pessoas suspeitas de envolvimento no esquema que irrigou o ramo imobiliário da milícia.

As investigações mostram que o ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, apontado como chefe do Escritório do Crime, uma milícia especializada em assassinatos por encomendo, era quem recebia o dinheiro da “rachadinha” e repassava à milícia. Mas, antes, o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, confiscava 40% em média dos salários dos servidores lotados no gabinete da Alerj, onde Flávio trabalhava.

Mais detalhadamente, o esquema funcionava da seguinte forma:

  • Flávio pagava os salários de seus funcionários com a verba do gabinete na Alerj;
  • Queiroz confiscava em média 40% dos vencimentos dos servidores e repassava parte do dinheiro ao ex-capitão do Bope e chefe do “Escritório do Crime”, Adriano da Nóbrega;
  • O dinheiro era usado na construção de prédios irregulares nas comunidades Rio das Pedras e Muzema, localizadas em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. As duas favelas viram o crescimento desenfreado de construções de prédios irregulares nos últimos anos;
  • O lucro com a construção e venda dos prédios seria dividido, também, com Flavio Bolsonaro, segundo as investigações, por ser o financiador do esquema usando dinheiro público.

Mãe e esposa

As investigações do MP apontam que os repasses da rachadinha chegaram a contas usadas pela mãe de Adriano da Nóbrega, Raimunda Veras Magalhães, e sua esposa, Danielle da Costa Nóbrega. As duas tinham cargos comissionados no gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj, onde ficaram entre 2016 e 2017. Ambas movimentaram ao menos R$ 1,1 milhão no período analisado pelo Ministério.

Laranjas

O grupo miliciano que atuava nas comunidades Rio das Pedras e Muzema começou a usar “laranjas” para registrar construtoras nas regiões. Em Rio das Pedras, isso aconteceu com três delas: ão Felipe Construção Civil Eireli, São Jorge Construção Civil Eireli e ConstruRioMZ. Veja, abaixo, um diálogo que mostra o registro de uma delas:

Trecho de interceptação detalha registro da construtora em nome de laranja — Foto obtida pelo site The Intercept Brasil

Adriano da Nóbrega e dois outros oficiais da PM integrantes do grupo miliciano – o tenente reformado, Maurício da Silva Costa, e o major Ronald Paulo Alves Pereira – usaram nomes de moradores de Rio das Pedras para registrar as construtoras na junta comercial do Rio de Janeiro. Dados do inquérito ao qual o The Intercept Brasil comprovam que Adriano, Costa e Pereira eram os “donos ocultos” das construtoras ConstruRioMZ, São Felipe Construção Civil e São Jorge Construção Civil. 

As três empresas foram registradas na junta comercial no segundo semestre de 2018, respectivamente, em nome Isamar Moura, Benedito Aurélio Carvalho e Gerardo Mascarenhas, conhecido como Pirata. Os três “laranjas”, juntamente com os oficiais da PM Costa e Pereira, foram presos na Operação Intocáveis, deflagrada em janeiro de 2019 como forma de fechar o cerco à milícia suspeita de arregimentar os assassinos da vereadora do PSOL, Marielle Franco, e do motorista Anderson Gomes.

“Pica do tamanho de um cometa”

“O MP está preparando uma pica do tamanho de um cometa para empurrar na gente”. A frase do ex-assessor Queiroz, dita em em áudios de Whatsapp divulgados pelos jornais O Globo e Folha de S.Paulo, em outubro passado, agora dá a entender que Queiroz sabia que o MP o tinha identificado o uso do dinheiro desviado no esquema de rachadinha que financiou as construções ilegais na Muzema e em Rio das Pedras.

Boom no bolso

A ligação de Flávio com a milícia, no que diz respeito à construção de prédios irregulares, talvez prove o salto financeiro que o “Filho 01” do presidente da República, Jair Bolsonaro, teve na vida. 

Flavio entrou na vida política em 2002, com apenas um carro Gol 1.0, declarado por R$ 25,5 mil. Na última declaração de bens, de 2018, o senador disse ter R$ 1,74 milhão. O montante permitiu que o parlamentar fechasse a participação societária numa franquia da loja de chocolates Kopenhagen, bem como a aquisição de apartamentos nos bairros Laranjeiras e Copacabana, zona sul do Rio.

Respostas

Até a última atualização da reportagem, os citados não haviam se manifestado sobre as acusações.

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