Menu
Saúde

Jovens arriscam a vida em roleta russa de medicamentos

Em maio deste ano, na cidade de Ohio, EUA, um adolescente de 13 anos morreu de overdose, após participar de um desafio viral no TikTok

Redação Jornal de Brasília

08/11/2023 16h41

Foto: Agência Brasil

O comportamento irresponsável de jovens que praticam a roleta russa de medicamentos preocupa profissionais de saúde e educadores. O jogo arriscado se propaga nas redes sociais. Adolescentes, em sua maioria saudáveis, competem entre si para ver quem pode ingerir a maior quantidade de medicamentos, sem passar mal. A forma muito perigosa de automedicação, envolve uma grande variedade de medicamentos, em doses elevadas e sem qualquer supervisão.

A psicóloga Mônica Falcão Caldas, diretora-geral da Rede de Saúde Mental Verse, em Brasília, informa que os jovens que participam desse jogo buscam se destacar no grupo de adolescentes que convivem, colocando em risco sua saúde e até suas vidas. O resultado pode ser desastroso e trágico.

“Os jovens, no intuito de obter aprovação e valorização por parte do grupo de amigos tentam demonstrar que são destemidos e onipotentes, comportamentos característicos da adolescência”, explica a especialista.

Em maio deste ano, na cidade de Ohio, EUA, um adolescente de 13 anos morreu de overdose, após participar de um desafio viral no TikTok. O jovem tomou mais de 14 comprimidos de um antialérgico como parte do Desafio Benadryl, que consiste em ingerir grandes quantidades do medicamento e filmar como o corpo reage.

Jacob Stevens estava acompanhado de um grupo de amigos, que começou a gravar assim que o menino tomou os remédios. Ao engolir as pílulas, seu corpo começou a se contrair. Segundo o site de notícias, Stevens foi levado para o hospital, onde ficou internado por seis dias, mas acabou tendo morte cerebral declarada pelos médicos. Sua família optou por desligar os aparelhos que o mantinham vivo.

O Conselho Federal de Farmácia (CFF) não encontrou registros de casos no Brasil. Mas os grupos fechados, exclusivos para adolescentes, têm proliferado em aplicativos de mensagens, o que pode tornar a prática ainda mais difícil de ser controlada. Especialistas e farmacêuticos alertam para os perigos desse comportamento irresponsável.

“ A saúde mental dos adolescentes, em geral, está comprometida. Os pais e responsáveis devem ficar alertas, quanto às atividades online de seus filhos, dialogando, sempre que possível, sobre os perigos da automedicação”, destaca Mônica Falcão.
Walter Jorge João, presidente do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e conselheiro federal de Farmácia pelo estado do Pará, faz um apelo enfático para conscientizar os jovens.

“O uso indiscriminado de medicamentos, por si só, pode levar a efeitos colaterais graves e interações medicamentosas perigosas. Mas, nesse caso, onde o objetivo é atingir o consumo em altíssimas quantidades, esses problemas são potencializados, assim como o risco de intoxicação e overdose. Em muitos casos, os jovens não estão cientes do quanto essa prática imprudente pode ser arriscada”, informa Walter.

O Conselho Federal de Farmácia alerta que os medicamentos historicamente constituem a principal causa de intoxicação no Brasil, batendo os agrotóxicos, os raticidas e até mesmo produtos de uso domiciliar. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan Net), do Ministério da Saúde, apontam que eles foram responsáveis por 103.648 ou 58,3% dos 177.766 casos de intoxicação registrados no país em 2022. De todas as vítimas, 28,8 mil ou 27,85% eram adolescentes e jovens, com idades entre 10 e 19 anos. Outro aspecto que envolve as intoxicações por medicamentos e merece destaque, segundo o presidente do CFF, representa uma verdadeira tragédia cotidiana.

“Grande parte das intoxicações por medicamentos em todas as faixas etárias acontece ou por acidente ou por automedicação, mas em 73,9% dos casos, as vítimas se intoxicam em tentativas de suicídio. A estatística comprova a vulnerabilidade emocional das pessoas aliada ao uso indevido dos medicamentos, o que só reforça a preocupação com esse tipo de desafio”, explica Walter.

O CFF orienta que o armazenamento desnecessário de medicamentos em casa deve ser evitado e o que precisar ser guardado deve ser mantido longe do alcance de crianças e adolescentes. O Conselho acrescenta que os pais devem dialogar com seus filhos sobre os perigos da automedicação e, assim, educar os jovens sobre o uso responsável de medicamentos e a importância de procurar orientação quando necessário.

Atenção!

Se precisar, peça ajuda no Centro de Valorização da Vida (CVV), disponível 24 horas pelo telefone 188. Em caso de emergência médica, chame o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) pelo 192.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado