Menu
Saúde

Dia Mundial da Conscientização do Autismo: a educação especial e a inclusão

Jefferson de Paulo esclarece que a “educação especial” é uma modalidade de ensino transversal que perpassa todas as esferas da educação

Geovanna Bispo

02/04/2021 20h44

Atualizada 05/04/2021 18h05

Foto: Agência Senado

O diagnóstico e o tratamento precoces são pontos fundamentais para uma pessoa com Transtorno de Espectro Autista (TEA), mais conhecido simplesmente como Autismo. Mas o que nem todos consideram, é a importância da inclusão antecipada na educação.

Benício, que desde seu primeiro ano já frequentava a creche, estuda com o modelo de educação especial. “Desde pequeninho ele sempre frequentou a creche, com a turma reduzida para que ele receba uma atenção maior”, conta Francisca Macêdo, mãe do garotinho de quatro anos. O menino é um dos 3.328 estudantes com TEA que estuda em escolas e creches públicas no Distrito Federal.

O especialista em educação especial e inclusiva do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Jefferson de Paulo, esclarece que a “educação especial” é uma modalidade de ensino transversal que perpassa todas as esferas da educação. Além disso, Paulo explica que, dentro da perspectiva inclusiva, ela tem que estar próxima à educação regular. “A educação de pessoas com autismo deve funcionar da mesma forma que com os outros alunos, respeitando as particularidades.”

E esse é um modelo que vem crescendo, segundo dados nacionais do Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o número de pessoas com autismo em escolas comuns com ensino especial em 2018 cresceu 37,27%, se comparado a 2017.

Já Bruna Geovanna, de 10 anos, frequenta colégio de ensino especial. Por ter um grau mais alto do transtorno, estuda com apenas mais um aluno em sua turma. “A escola tem ajudado muito no desenvolvimento comportamental dela, mesmo com as dificuldades de aprendizagem. Ela não lê, não escreve e não fala, mas a comunicação é muito boa e isso se deve à escola”, explica Fátima Barbosa, mãe de Bruna.

TEA e outros transtornos

A cada 54 pessoas no mundo, uma tem Transtorno de Espectro Autista. Em 2004, esse número era de uma a cada 166. É o que afirma uma pesquisa publicada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), ligado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Ainda que não seja um dado nacional, o Brasil, que não tem estudo próprio, o utiliza.

Os pesquisadores do CDC trabalham com duas hipóteses para esses números: ou o número de pessoas com o transtorno aumentou, ou o número de diagnósticos aumentou. A maioria acredita na segunda afirmação.

O transtorno, de acordo com o doutor em Ciências do Comportamento também do UniCEUB, Márcio Moreira, é caracterizado pelo comprometimento no desenvolvimento relacionado à comunicação e interação com outras pessoas. “Nós vamos desde pessoas com alguma dificuldade de comunicação e aprendizagem até pessoas que precisam de auxílio para se alimentarem e para cuidados pessoais”

Sendo um transtorno complexo, em sua maioria é acompanhado por outros transtornos e condições associadas, como deficiência intelectual, ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e epilepsia.

E foi justamente após uma crise convulsiva que Fátima descobriu que Bruna é autista. “Com 6 meses ela teve uma crise convulsiva e, devido a esse fato, começamos o acompanhamento médico. O primeiro diagnóstico foi de epilepsia de difícil controle.”

Foi apenas com um ano que os médicos chegaram à conclusão de que havia algo mais. “Bruna andou com 1 ano e 4 meses, mas não desenvolvia a fala, não fixava o olhar, nem olhava quando era chamada pelo nome. O diagnóstico de autismo veio com mais ou menos 4 anos de idade”

Tratamento

O Dr. Moreira explica que, por não se tratar de uma doença, mas sim de um transtorno, o autismo não tem cura. “No geral, o tratamento é psicológico. Com um programa de aceleração da aprendizagem, fazendo com a criança aprenda ou reaprenda a interagir com o mundo ao redor dela. Quanto mais cedo você intervir, mais a criança vai se desenvolver e melhor vai ser a qualidade de vida dessa pessoa.”

Aos quatro anos, Benício faz acompanhamento psicológico seis vezes na semana, além de terapia ocupacional, fonoaudióloga, psicopedagoga e neurologista.

Já Bruna, que depende do apoio do sistema de saúde público, não faz acompanhamento. “Na rede pública, a assistência é quase que limitada a atendimento clínico e ambulatorial. Na rede privada, qualquer tipo de terapia custa muito caro”, conta sua mãe.

Medo

Após descobrir o diagnóstico do filho, Francisca conta que sua vida mudou e hoje vive com receio pelo seu filho. “Hoje, a maior dificuldade que a gente enfrenta é o julgamento. Em diversos momentos, quando ele está em crise, as pessoas olham, encaram, como se ele fosse uma criança birrenta.”

Já Fátima reflete que criar um filho autista é sempre estar entre a luz e a escuridão. “A luz porque é uma trajetória linda, são seres muito especiais que vivem em um mundo próprio e acabam ensinando pra gente que tudo é transitório e nada tem muita urgência, tudo é sempre um exercício de paciência. Por outro lado, existe o lado obscuro e inevitável de não pensar no futuro, nos preconceitos, no que será da vida dela quando eu não estiver mais aqui.”

Um futuro de inclusão

Como uma espécie de resposta aos temores de Fátima e Francisca sobre o futuro, a educação especial e inclusiva, além de dar suporte aos estudantes com transtornos psicológicos e deficiências, também é a perspectiva de um futuro mais respeitoso. “Ela fomenta uma cultura inclusiva, que busca, principalmente, transformar a sociedade, fazendo com que futuramente todos entendam e respeitem as diferenças”, explica de Paulo.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado