PATRÍCIA PASQUINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Insuficiência cardíaca é a condição que mais causa internações nos hospitais e prontos-socorros do SUS (Sistema Único de Saúde) no país, se comparada a outras doenças do coração.
É o que diz um levantamento da Abramede (Associação Brasileira de Medicina de Emergência), de janeiro a julho de 2024, com base nos dados do SIH (Sistema de Informações Hospitalares) do SUS. Das 113.514 hospitalizações por este motivo, 93,3% ocorreram em serviços de urgência.
Os números foram apresentados no Congresso Brasileiro de Medicina de Emergência, realizado de 24 a 29 de setembro, em Campo Grande (MS).
Infarto agudo do miocárdio vem em seguida, com 102.659 internações, seguido por outras doenças isquêmicas do coração (85.520), e transtornos de condução e arritmias cardíacas (46.761). A soma de todas as causas -376.403- representa 58,6% de todo o ano de 2023, que fechou com 641.980 hospitalizações.
A exemplo do ano passado, em 2024, as internações por problemas cardíacos em serviços de urgência são maioria, 82,7% (311.598) do total.
Segundo Camila Lunardi, presidente da Abramede, a insuficiência cardíaca acontece quando o coração não consegue bombear sangue de forma eficiente, exigindo intervenção emergencial para evitar desfechos graves. A maior causa desta condição é a complicação do infarto. As outras são hipertensão e diabetes descontrolados, além de algumas doenças associadas à alteração do músculo cardíaco.
“São aqueles pacientes que não receberam um bom tratamento do infarto durante os primeiros dias, ou não aderiram a um bom tratamento no pós-infarto. E aí o paciente fica com essa condição crônica. Ele se torna uma pessoa com insuficiência cardíaca e todas as vezes que essa insuficiência descompensa, o paciente precisa ir ao pronto-socorro”, explica Lunardi. Dor torácica, falta de ar, perna e pés inchados são alguns sinais.
Pressão arterial, colesterol e diabetes em níveis baixos, atividade física, alimentação saudável e uso de medicação mantêm a doença controlada.
Se observadas as regiões do país, o Sudeste concentrou o maior número absoluto do total de internações por doenças cardíacas -168.611. Os estados de São Paulo (82.775) e Minas Gerais (50.980) lideram.
No Nordeste, Bahia (21.465) e Pernambuco (15.926) têm os números mais altos. No Norte, aparecem Pará (7.038) e Amazonas (5.165). No Sul, o destaque é o Paraná (33.510) e no Centro-Oeste, Goiás (12.987).
São Paulo e Belo Horizonte são as capitais com os números absolutos de internações mais altos -22.592 e 11.179, respectivamente. Juntas, as federações somam 128.696 hospitalizações por doenças cardíacas.
Destas, 76% referem-se a serviços de urgência. Neste recorte, os cenários mais críticos estão no Distrito Federal (96,2% do total), Ceará (95,5%) e Mato Grosso do Sul.
Camila Lunardi ressalta que, além de estressante, o estilo de vida nos grandes centros é menos saudável.
A opção por alimentação rápida, pouco tempo para a prática de atividade física, relaxamento, meditação e para momentos de tranquilidade contribuem para as altas taxas de infarto.
“Estamos vivendo um momento em que o envelhecimento da população e o aumento dos fatores de risco, como o sedentarismo e a má alimentação, têm levado ao crescimento dos casos de doenças cardíacas”, explica Lunardi.
Quanto ao perfil dos doentes, a faixa etária que concentra mais internações por problemas cardíacos, em ambos os sexos, é a de 60 a 69 anos -os homens representam 60,8% dos hospitalizados, e as mulheres, 39,1%.
De acordo com a especialista, os homens resistem mais ao tratamento preventivo em relação a doenças cardiovasculares. A predisposição genética é outro fator que explica o maior percentual do sexo masculino.”O homem tem fatores de não proteção cardíaca maiores do que a mulher, como por exemplo, a testosterona. Os fatores associados ao sexo masculino, a não aderência ao tratamento e, muitas vezes, o descuido de só procurar um médico somente quando passa mal, quando tem dor torácica, é o que está mais associado também ao fato deles terem mais quadros de infarto”, diz Lunardi.
“Para viver bem, meu grande conselho é prevenir, com base numa qualidade de vida saudável. As pessoas que já sabem que são hipertensas, diabéticas e que têm colesterol alto devem fazer um controle rigoroso.
Os propensos a desenvolver essas doenças devem ter uma alimentação saudável, fazer atividade física, ter boa qualidade de sono. Acho que esses são os pontos principais para tentarmos diminuir o número de pacientes chegando aos prontos-socorros”, orienta a especialista.
Segundo Lunardi, o mapeamento também mostra a urgência e a importância dos médicos emergencistas, que estão na linha de frente de situações críticas. “Este é um dos muitos desafios que enfrentamos todos os dias. Por isso, é fundamental fortalecer a infraestrutura hospitalar e capacitar continuamente as equipes de emergência para lidar com o volume crescente e a complexidade dos casos”, finaliza.
Esse projeto é uma parceria com a Umane, associação que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública.