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Saúde

Como lidar com o luto por um pet quando o sentimento é invalidado

Psicóloga dá dicas de como lidar com a perda de um animal e com comentários indesejados

Agência UniCeub

02/11/2023 15h52

Foto: Domínio Público

Por Luana Nogueira e Nathalia Maciel 

Lidar com a perda de um ente querido, seja de um familiar ou de alguém próximo, é desafiador. Mas quando se trata de perder um animal de estimação, esse momento de luto tem uma outra característica dolorosa por causa da invalidação e da falta de compreensão de quem não sente a dor. Pessoas que perderam seus animais costumam reclamar de falta de compaixão e empatia. 

A psicóloga Camila Fraga, atuante em clínicas para pessoas enlutadas por perdas de pets, explica que o luto é um processo que qualquer pessoa pode passar em situações de perdas e que devem ser vivenciadas e acolhidas. 

“Poder vivenciar o pesar pela perda de um pet é tão importante quanto vivenciar quaisquer perdas. Faz parte de um processo de reequilíbrio psíquico e emocional entre quem fomos na e quem seremos agora com essa ausência”, explica. 

Dor singular

Ela explica que a perda de um pet pode gerar danos emocionais e processos de lutos profundos para quem vive esse tipo de situação. Ansiedade e até depressão são causadas pelas perdas de pets.

“A perda de um pet pode provocar dores físicas similares às de perder um familiar, dada como essa relação entre humanos e pets vem se intensificando principalmente nas últimas duas décadas”, afirma. 

Além do luto pela perda, muitas vezes as pessoas também precisam lidar com comentários indesejados e comparações maldosas que menosprezam o sentimento de dor e invalidam a tristeza pela morte. 

Em geral, as pessoas tendem a comparar seus lutos vividos, por exemplo, pela morte de algum familiar, colocando-os como base para dizer se um luto é importante o suficiente para ser validado ou não.

Como lidar com o luto

A psicóloga afirma que lidar com a perda é fundamental para o desenvolvimento do luto, que pode se transformar em um luto sadio ou um luto patológico. Por isso é importante validar os próprios sentimentos e se permitir sofrer com a dor.

“Muitos enlutados sentem vergonha de expressar a dor de perder um pet e acabam, eles mesmos, menosprezando esse sentimento. Esconder essa dor não fará com que ela desapareça, ao contrário, poderá intensificá-la, tornando um sofrimento ainda mais difícil de lidar”, explica. 

Após aceitar os sentimentos é preciso entender que cada pessoa lidará com o luto de maneira diferente. A doutora explica que a conversa e o acolhimento podem ser cruciais para superar o luto.

“Poder conversar com um amigo ou familiar acerca do que sente, receber acolhimento de alguém de confiança, poder falar sobre o que sente ou chorar. Tudo isso ajuda a passar por esse processo que, apesar de doloroso, precisa ser vivido”, disse. 

Como lidar com comentários indesejados

Em momentos de dor, os enlutados enfrentam comentários negativos e que invalidam o sentimento de luto, o que pode tornar o processo mais difícil. Visto que isso muitas vezes se dá pelo fato das pessoas subestimarem a dor da perda, principalmente por se tratar de um animal, em vez de um ser humano, por exemplo. 

“Muitas pessoas que buscam ajuda psicológica depois da perda de um pet relatam sentirem que não lhes foi dado ou permitido pela sociedade ter esse espaço para sentirem seu luto pelos seus pets”, disse. 

Camila explica que a invalidação geralmente ocorre por pessoas que não possuem vínculos com animais nem conseguem entender a dor da perda de um pet.

“Na minha opinião, as pessoas que invalidam o luto sentido pela perda de um pet são justamente as pessoas que não construíram vínculos tão íntimos com um pet”, afirma. 

A psicóloga explica que os comentários podem vir acompanhados de comparações que elegem um luto como válido ou não. “Essas pessoas tendem a comparar seus lutos vividos, por exemplo, pela morte de algum familiar, colocando-os como base para dizer se um luto é importante o suficiente para ser validado ou não. 

Os comentários maldosos impactam negativamente as pessoas enlutadas e podem piorar o estado de luto.  “Este é um dos principais motivos pelos quais os enlutados passam por um processo de evitação social, deixando a convivência social de lado”, explica. 

A psicóloga afirma que em situações como estas as pessoas que realizam comentários desagradáveis e depreciativos devem ser alertadas, corrigidas ou até evitadas. 

“Se os comentários indesejados vêm de pessoas específicas, evite por um tempo essas pessoas. Caso não seja possível evitá-las, comunique-as de forma assertiva que gostaria de não falar sobre esse assunto”, aconselha a psicóloga. 

Mas… e os animais?

Especialista em comportamento animal, o veterinário Edilberto Martinez, ainda não há um consenso entre pesquisadores sobre animais sofrerem ou não com o luto. Isso porque ainda não é possível identificar neles as emoções chamadas de secundárias, como o ciúmes, a culpa, vergonha e desprezo. 

No entanto, o veterinário explica que há indícios que provam que animais sofrem com a perda de entes próximos. Isso porque a perda de um tutor pode afetar o animal de estimação e levá-lo a apresentar reações semelhantes ao luto.

“Relatos de tutores, reportagens jornalísticas e até mesmo livros  de animais de estimação reagindo de forma emotiva, e em algumas situações desesperadas, frente à perda de alguém muito próximo, nos faz crer que também há o processo de luto em vários grupos do reino animal”, explica. 

Indícios de luto

Edilberto Martinez explica que o grau de vínculo que os animais possuíam com o ente perdido definirão o modo que eles lidarão com a perda. Por exemplo, um animal de estimação que tenha muita proximidade com o seu tutor lidará de modo diferente de um que sofria maus tratos pelo dono. 

Ele ressalta que o bichinho de estimação ao sentir falta de seu dono ou de um ente próximo, poderá apresentar mudanças comportamentais semelhantes ao luto. As reações e mudanças de humor podem ser variadas e são manifestadas de modos diferentes. 

“Ele pode manifestar apatia, perda de apetite, ansiedade, baixa tolerância, irritabilidade, alteração no padrão de sono, desânimo, intolerância ao sair de casa, medo, compulsão e lambedura excessiva”, afirma Martinez. 

O especialista explica que criar um vínculo com outros membros da família ou grupo pode ser uma forma de escape para os pets e um modo de lidar com a perda de alguém.

“Alguns animais frente a uma perda podem fortalecer o vínculo com outros membros da família ou grupo. Dessa forma, ele encontra o amparo emocional que o ajudará a vivenciar o processo de luto de forma mais estruturada”, destaca Edilberto. 

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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