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Política & Poder

‘Tomara que acabe logo’: eleitores se ressentem de uma campanha longa e agressiva no Brasil

O Brasil está a quatro dias de decidir, no domingo (30), se reelege Bolsonaro ou reconduz ao Planalto para um terceiro mandato Lula

Redação Jornal de Brasília

26/10/2022 11h47

Foto: TSE

Marcelo sente que está adoecendo, Alexia parou de bater papo com os vizinhos e Luciene só quer que acabe logo: o duelo eleitoral entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) deixou muitos brasileiros esgotados após uma campanha polarizada e cheia de desinformação.

O Brasil está a quatro dias de decidir, no domingo (30), se reelege Bolsonaro ou reconduz ao Planalto para um terceiro mandato Lula, o favorito nas pesquisas de intenção de votos.

E em uma disputa acirrada pelos 4% de eleitores que dizem que irão votar em branco ou nulo e o 1% de indecisos, as aparições dos candidatos inundam veículos de imprensa e redes sociais, dominando as conversas.

“Eu tô ficando doente porque é muito desencontro”, diz à AFP Marcelo Brandão Viana, eleitor de Bolsonaro, lamentando uma campanha “sobrecarregada” de “fakenews” e ataques dos dois lados.

“Estou vivendo isso 24 horas [por dia] e é horrível”, acrescenta este recepcionista bancário, de 51 anos, sem conseguir deixar de conferir seus grupos de WhatsApp durante sua hora de almoço, do lado de fora de um shopping de Brasília.

Sentado em uma cadeira na praia de Copacabana, José Guilherme Araújo não consegue fugir do ruído eleitoral.

“Me sinto exausto, de saco cheio!”, diz à AFP este advogado de 65 anos, de barba, cabelos brancos e sunga verde com a bandeira do Brasil, que votará nulo.

“Só se fala de eleição nos principais canais de TV, é horrível. Procuro assistir canais fechados para fugir desse assunto”, acrescenta.

Evitar problemas

O confronto final entre Lula e Bolsonaro estava quase definido desde o ano passado, quando o ex-presidente recuperou seus direitos políticos após ter anuladas as condenações por corrupção.

Muitos eleitores têm a impressão de que a campanha começou ali.

Em São Paulo, Alexia Ebert silenciou o grupo de WhatsApp do condomínio, transformado em um fluxo contínuo de discussão política e desinformação. “Não aguentava mais”, diz a estudante, de 22 anos.

Alguns, como Aline Tescer, se queixam da ausência de propostas para os próximos quatro anos. “Me vejo como na eleição passada, que não tínhamos muita opção. São sempre as mesmas coisas, as mesmas acusações e me sinto sem opção de voto”, diz a mulher de 35 anos, de São Paulo.

Já Luciene Soares diz estar “decepcionada” com “a falta de respeito” instigada pelo presidente.

“Eu prefiro não dizer em quem eu voto, fica uma coisa pessoal porque você tem medo da reação das pessoas. Não converso com as pessoas sobre política porque dá briga, dá morte”, diz esta comerciante de 48 anos, de Brasília, vestindo uma blusa verde e amarela, as cores da bandeira, símbolo nacional da qual, “infelizmente”, os bolsonaristas se apropriaram.

“Entre nossos amigos, nossa família, a gente fala: ‘Nossa, tomara que acabe logo'”.

“Anestesia”

Esse cansaço não é medido nas pesquisas de intenção de votos, publicadas semanalmente, mas especialistas o notam nas ruas e na internet, em um país que conta em 2022 com 171,5 milhões de usuários de redes sociais (80% da população, 14% a mais que em 2021), segundo o estudo Digital, das agências We Are Social e Hootsuite. 

O alto nível de consolidação dos votos e o bombardeio de informação “acabam anestesiando o eleitorado” e “cansando-o”, diz Amaro Grassi, sociólogo do departamento de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas. 

“Essa presença permanente de conteúdo de campanha é um fator novo (…) Não começou nesta eleição, mas hoje está muito acentuada”, acrescenta.

“Agora falam sobre política o tempo todo nas redes sociais, até nos sites de fofoca”, diz a paulista Iamylle Kauane, que veio passar férias no Rio. 

Tomando água de côco na praia  de Copacabana, esta assistente social de 21 anos espera o fim das eleições “para que possa voltar ao normal”.

Segundo Grassi, “a maior parte da população vai querer voltar à vida, virar essa página”, mas “acho inevitável que vá ficar um clima de acirramento político”.

No entanto, há militantes incansáveis.

“Não me sinto cansado dessa eleição”, diz Leandro Albino Oliveira, de camisa branca e a cabeça coberta com um dos chapéus que vende em uma praia carioca. “Não vamos descansar até que nosso presidente seja reeleito”, diz o homem de 36 anos.

© Agence France-Presse

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