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Política & Poder

Teich cita declarações de Bolsonaro que o levaram a deixar o cargo; relembre

Ex-ministro relembrou que Bolsonaro apostava na cloroquina contra a covid-19 e chegou a falar para empresários que iria expandir o uso do remédio, que não tem eficácia

Willian Matos

05/05/2021 11h43

O ex-ministro da Saúde e médico oncologista Nelson Teich falou nesta quarta-feira (5) que deixou o cargo em menos de um mês porque o presidente Jair Bolsonaro apostava em cloroquina no combate à covid-19. O medicamento não tem eficácia comprovada.

Segundo Teich, que participa de sessão da CPI da Covid nesta manhã, a divergência do uso da cloroquina foi, sim, a principal razão para a saída. O ex-ministro relembrou uma declaração de Bolsonaro que o levou a entender que não teria autonomia para seguir no cargo.

“Naquela semana [da saída do cargo], tem uma fala do presidente ali na saída do [Palácio da] Alvorada, onde ele fala que o ministro tem que estar ‘afinado’ e cita o meu nome especificamente. Na véspera [da saída], pelo que eu vi, tem uma reunião com empresários, onde ele fala que o medicamento vai ser expandido. À noite, tem uma live, onde ele coloca que espera que, no dia seguinte, vá ter uma expansão do uso. E aí, no dia seguinte, eu peço a exoneração”, recordou Teich.

"Aquela sequência mostrou que eu não tinha autonomia para conduzir."

Nelson Teich, ex-ministro da Saúde

As falas de Bolsonaro ocorreram no dia 13 de maio de 2020. À época, o presidente disse: “Olha só, todos os ministros, eu já sei qual é a pergunta, têm que estar afinados comigo. Todos os ministros são indicações políticas minhas e quando eu converso com os ministros eu quero eficácia na ponta. Nesse caso, não é gostar ou não do ministro Teich, é o que está acontecendo.”

Ainda na sessão da CPI, o ex-ministro disse que o Ministério da Saúde não soube da ordem para aumento da produção da cloroquina. A declaração corrobora a fala do também ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que disse, na terça (4), que não mandou aumentar a fabricação do remédio.

“As razões da minha saída do Ministério são públicas. Elas se devem basicamente às constatações de que eu não teria autonomia e liderança indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina no tratamento da covid-19”, afirmou o ex-ministro. Teich substituiu Mandetta no dia 16 de abril de 2020 e saiu no dia 20 do mês seguinte.

“Enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, que naquele momento não existia evidência de sua eficácia para liberá-la [a cloroquina], existia um entendimento diferente do presidente que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina, que, naquele momento, autorizou a extensão do uso. E isso aí foi o que motivou a minha saída”, prosseguiu. “Sem a liberdade para conduzir o ministério conforme minhas convicções, optei por deixar o cargo”, concluiu Teich.

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