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Política & Poder

Teich diz que cloroquina foi pivô para sua saída do Ministério

Ex-ministro afirmou que o presidente apostava no medicamento, que não tem eficácia contra a covid-19

Willian Matos

05/05/2021 11h00

Após Mandetta, é a vez do ex-ministro da Saúde Nelson Teich ser ouvido pela CPI da Covid no Senado, nesta quarta-feira (5). A sessão começou por volta de 10h30, e Teich já iniciou falando o porquê de ter saído do Ministério. Segundo o ex-ministro, a cloroquina foi pivô de sua saída.

Teich afirmou que saiu do Ministério porque constatou que não teria “autonomia e liderança indispensáveis ao exercício do cargo”. Segundo o ex-ministro, o presidente Jair Bolsonaro tinha uma convicção de que a cloroquina deveria ser utilizada contra a covid-19 — a Organização Mundial de Saúde (OMS) já declarou que o medicamento não é eficaz. Teich não teria concordado com o uso e, por isso, pediu para sair.

“As razões da minha saída do Ministério são públicas. Elas se devem basicamente às constatações de que eu não teria autonomia e liderança indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação às divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina no tratamento da covid-19”, afirmou o ex-ministro. Teich substituiu Mandetta no dia 16 de abril de 2020 e saiu no dia 20 do mês seguinte.

“Enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, que naquele momento não existia evidência de sua eficácia para liberá-la [a cloroquina], existia um entendimento diferente do presidente que era amparado na opinião de outros profissionais, até do Conselho Federal de Medicina, que, naquele momento, autorizou a extensão do uso. E isso aí foi o que motivou a minha saída”, prosseguiu. “Sem a liberdade para conduzir o ministério conforme minhas convicções, optei por deixar o cargo”, concluiu Teich.

O ex-ministro também falou que não sabia que a produção de cloroquina foi ampliada. Na terça (4), Mandetta disse que essa decisão não passou pelo Ministério. Teich também disse que não soube de nada relacionado ao tema, dando a entender que a ordem partiu do governo sem passar pela Saúde.

Declarações combinam com as de Mandetta

Na terça (4), Mandetta assumiu que consultou o Conselho Federal de Medicina (CFM) para uso compassivo da cloroquina, mas nunca mandou aumentar a produção. O ex-chefe da Saúde declarou ainda que a cloroquina é um remédio com baixa margem de segurança caso seja tomado sem monitoramento médico. “Ela [a cloroquina] não é aquela coisa assim: ‘se bem não faz, mal também não faz’. Como todo medicamento, ela tem uma série de reações adversas, de cuidados que têm que ser feitos, e a automedicação com cloroquina e outros medicamentos poderia ser muito, muito perigosa para as pessoas.”

Depois, Mandetta reforçou que não recomendou o aumento da produção do remédio e sinalizou que a ordem não passou pelo Ministério da Saúde. “Provavelmente foi uma determinação feita, na minha época como ministro, à margem do Ministério da Saúde”. O ex-ministro disse ainda que não era necessário aumentar o estoque de cloroquina mesmo se ela fosse ministrada a pacientes com covid.

“Mesmo porque a cloroquina nos é produzida regularmente para uso a que se convém, que é malária ou lúpus, pela Fiocruz, e nós tínhamos já a quantidade necessária para aquilo que se presta. Ela não é um medicamento difícil de ser comprimido. Nós tínhamos um estoque muito bom de cloroquina para atravessarmos aquele momento no que dizia respeito ao que ela necessitava, mesmo que usássemos para os pacientes de ambientes hospitalares.”

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