Aléxia Sousa
Rio de Janeiro 0 RJ
Valorizar a herança ancestral do povo negro. Essa é a premissa do projeto Sinalização e Reconhecimento de Lugares de Memória dos Africanos Escravizados no Brasil, lançado nesta quinta-feira (30) no Muhcab (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira), no Cais do Valongo, zona portuária do Rio de Janeiro.
Durante a cerimônia, que encerrou o mês da Consciência Negra, o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, afirmou que não há como reconstruir, reinventar e recriar o Brasil sem a capacidade de construir políticas de memórias.
“Quando se fala de direitos humanos, estamos necessariamente reivindicando políticas de memória, reivindicando esse processo que não é apenas de recordar, de descrever como o passado era, é um processo político em que nós forjamos nossas identidades individuais e também coletivas”, disse o ministro.
Uma das ações prevê a instalação de placas em cem lugares que marcam a história das pessoas escravizadas, como igrejas, praças, terreiros de candomblé e quilombos.
No total serão contemplados 66 municípios de 16 estados, com locais listados pelo programa Rotas dos Escravizados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Palco para o pontapé inicial do projeto, o Cais do Valongo foi o maior porto de desembarque de africanos escravizados nas Américas. Patrimônio cultural mundial reconhecido pela Unesco, o local recebeu cerca de 1 milhão de africanos.
Os vestígios do cais foram descobertos em 2011, durante escavações para as obras do Porto Maravilha, projeto de revitalização da região.
De acordo com Silvio Almeida, é a partir desse reconhecimento que podem seguir as políticas de não repetição da escravidão. “A memória também é uma arma de luta. Podemos pensar como podemos restituir aqueles que foram os condenados da terra, aqueles que foram violentados, aqueles que foram agredidos”, afirmou o ministro.
Para a segunda fase do projeto está prevista a criação de material pedagógico para o ensino de história afro-brasileira e indígena nas escolas. “Vamos fazer um trabalho com um processo educativo e criar espaço digital para difundir essa memória”, afirmou a responsável pelo projeto, Fernanda Thomaz.
A ideia é que o material seja usado nas salas de aula em cumprimento da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que prevê a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena.
“O objetivo é descortinar essa memória que foi apagada, silenciada. Essa é uma forma de valorização da cultura negra e da nossa história”, completou.
Para a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, o projeto resgata e valoriza a contribuição de negras e negros na construção do Brasil. “Reconhecemos o perigo de invisibilizar essa história e nos comprometemos em contar a história que a história não conta”, afirmou.