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Política & Poder

Sara Winter se retrata por acusar ativista de ‘abortista’ e culpa Damares por ‘fatos mentirosos’

Em 2020, a então ativista foi uma das líderes do movimento 300 pelo Brasil, formado por bolsonaristas e suspeito de organizar e captar recursos

FolhaPress

09/06/2022 13h39

Mônica Bergamo
São Paulo, SP

A ex-ativista de direita Sara Giromini, conhecida como Sara Winter, se retratou publicamente neta quinta-feira (8) por ter chamado a professora e antropóloga Débora Diniz de “a maior abortista brasileira”. O? episódio ocorreu em 2020, quando uma menina capixaba de dez anos realizou um aborto legal após ter sido vítima de um estupro.

Ao se retratar, Sara afirmou que a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, convenceu ela de que Debora teria sido a responsável por vazar o nome da menor de idade à imprensa.

“Lamento ter me deixado influenciar por fatos mentirosos compartilhados comigo pela à época ministra encarregada pela pasta responsável pelo programa de proteção a defensoras e defensores de direitos humanos, Damares Regina Alves”, escreveu a ativista em seu Instagram.

“Entendo que sou responsável pelos meus próprios atos e poderia ter apurado a veracidade de uma montagem falsa que atribuía à Debora Diniz o crime de ter divulgado a identidade da menina em um artigo de jornal, o que jamais aconteceu. Contudo, confiei na integridade da ministra e me deixei levar pelas instigações para que reagisse à conduta falsamente atribuída à professora”, seguiu ela.

Há dois anos, Sara divulgou um vídeo em suas redes sociais acusando Debora também de ser defensora da prática de tortura. A ativista também chegou a publicar a identidade da menina nas redes sociais, divulgando amplamente o nome da vítima, contrariando o que preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Debora moveu ações nas áreas cível e criminal contra a ativista, que foi condenada a fazer agora a retratação pública e a pagar a ela uma indenização de R$ 16.531,06.

“Houve o reconhecimento de algo muito errado. A Sara fala, em juízo, que a informação chega a ela por uma então ministra que tem o dever de proteger seus cidadãos. Mostra como o bolsonarismo opera, é uma disseminação do ódio a partir de seus representantes políticos”, afirma Debora à coluna.

Em abril deste ano, Sara assinou um acordo na Justiça para pagar a multa em 30 parcelas de R$ 550 -o dinheiro será depositado na conta da Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, que promove pesquisas relacionadas à temática dos direitos humanos, feminismo e justiça entre os gêneros.

Reportagem da Folha de SPaulo também mostrou que Damares Alves agiu nos bastidores para impedir que a criança de dez anos que foi estuprada fosse submetida ao procedimento para interromper a gestação.

A então ministra enviou à cidade capixaba representantes do ministério e aliados políticos que tentaram retardar a interrupção da gravidez e, em uma série de reuniões, pressionaram os responsáveis por conduzir os procedimentos, inclusive oferecendo benfeitorias ao conselho tutelar local.

Sara, que rompeu com o bolsonarismo e hoje usa o sobrenome do marido, Hoff, aproximou-se do governo Jair Bolsonaro (PL) e chegou a ser nomeada coordenadora nacional de políticas à maternidade do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, sob a gestão da então ministra Damares, em 2019. Ela deixou o cargo no mesmo ano.

Em 2020, a então ativista foi uma das líderes do movimento 300 pelo Brasil, formado por bolsonaristas e suspeito de organizar e captar recursos para atos antidemocráticos e de crimes contra a Lei de Segurança Nacional. Em manifestações, membros do grupo dispararam fogos de artifício contra a sede do STF, em Brasília.

Procurada, a ex-ministra Damares Alves não se pronunciou até a publicação da reportagem.
Leia a íntegra da retratação de Sara Giromini:

“Por meio desta mensagem, me retrato publicamente das ofensas e acusações que fiz à Professora Debora Diniz, a qual, de maneira infundada e falsa, acusei de ser ‘a maior abortista do Brasil’, bem como de ter desejado a tortura de uma criança de 10 anos elegível ao aborto legal, fatos que não correspondem à verdade.

Reconheço que Debora Diniz é uma pessoa honrada e íntegra, além de pesquisadora de renome nacional e internacional nas áreas de bioética, direitos humanos e saúde, cujo trabalho sempre possuiu sério compromisso com os direitos sexuais e reprodutivos de mulheres e meninas.

Compreendi que os atos que cometi contribuíram para novos ataques contra a Debora Diniz, a qual, lamentavelmente, vem sendo alvo de diversas ameaças desde 2018, apenas por exercer seu direito à liberdade de expressão na defesa dos direitos sexuais e reprodutivos. Entendo, hoje, que ninguém deve ser atacado por participar do diálogo democrático de forma legítima e respeitosa, como o fez Debora na defesa dos direitos humanos de uma menina vítima de violência, à qual reagi de forma leviana, atacando a honra da professora.

Lamento ter me deixado influenciar por fatos mentirosos compartilhados comigo pela à época Ministra encarregada pela pasta responsável pelo programa de proteção a defensora e defensores de direitos humanos, Damares Regina Alves.

Entendo que sou responsável pelos meus próprios atos e poderia ter apurado a veracidade de uma montagem falsa que atribuía à Debora Diniz o crime de ter divulgado a identidade da menina em um artigo de jornal, o que jamais aconteceu. Contudo, confiei na integridade da Ministra e me deixei levar pelas instigações para que reagisse à conduta falsamente atribuída à professora.

Por essa razão, as acusações por mim feitas, e fundadas em desacordos morais, não são verdadeiras e violaram a honra, imagem e reputação de Debora Diniz, pelo que me retrato publicamente.”

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