Constança Rezende
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, usou seu discurso durante o ato de vacinação contra a poliomielite, na manhã deste sábado (24), no Parque da Cidade, em Brasília, para defender o governo de Jair Bolsonaro (PL) e disparar críticas contra adversários de sua gestão.
A intenção inicial da ação era mobilizar pais e responsáveis para a vacinação de crianças entre um e menores de cinco anos contra a pólio e a atualização da caderneta de crianças e adolescentes menores de 15 anos.
A Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) disse nesta quarta-feira (21) que Brasil, República Dominicana, Haiti e Peru correm um risco muito alto de reintrodução da poliomielite, em meio à queda na cobertura regional de vacinação contra a doença para cerca de 79%, o menor desde 1994.
Por conta disso, o Ministério da Saúde decidiu prorrogar as campanhas de imunização contra a doença até o final deste mês. As campanhas começaram no dia 8 de agosto e iriam até a início de setembro.
Quase um mês após o início da campanha, apenas 35% das crianças de 1 a 4 anos haviam tomado a vacina, segundo dados da pasta. A meta é vacinar 95% do público-alvo, cerca de 14,5 milhões de pessoas.
Em discurso que citou poucas vezes a doença, erradicada do país em 1994, Queiroga elogiou feitos do governo no SUS (Sistema Único de Saúde) e exaltou-se ao mencionar o tema da corrupção, sempre lembrada por Bolsonaro ao atacar seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Nós recuperamos a Hermobrás (Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia), que vivia escondida nas operações da Polícia Federal, porque a corrupção é uma praga pior do que o vírus”, disse.
O ministro da Saúde também falou que “aves de mau agouro” disseram que o Zé Gotinha (símbolo da campanha de vacinação da pasta) “tinha sido sequestrado”.
Em maio, Lula afirmou num discurso que Bolsonaro havia mandado o personagem embora “porque pensou que era petista”, ao criticar campanha de vacinação contra a Covid-19. “Hoje nós temos a família Zé Gotinha porque o nosso governo defende a vida desde a concepção, defende a família defende as nossas mães e defende as nossas crianças”, disse Queiroga.
O ministro também disse que “muitos falam, muitos criticam, e não sabem de nada porque vivem trancados em seus gabinetes e, às vezes, nos seus consultórios de luxo e quando têm um tempinho vão conceder entrevistas inúteis, na televisão”.
“Imagina se a gente fosse pela cabeça dessa gente o que tinha acontecido? Essa gente é a mesma que fechou mil leitos hospitalares no período de 2008 e 2018? Ao invés disso fizemos uma encomenda tecnológica em tais meses, conseguimos fazer a transferência tecnológica e resgatar a capacidade do nosso país de produzir em vacina”, disse.
Ele também afirmou que seus secretários são técnicos e que o Ministério da Saúde, em sua grande maioria, é composto por servidores públicos “ao contrário do que acontecia no passado” “Hoje são servidores públicos e, se eu preciso substituir um secretário, eu vou buscar nos quadros do Ministério da Saúde do Brasil”, afirmou.
A pasta de Queiroga teve secretários que ficaram conhecidos durante a pandemia por serem citados na CPI da Covid, como Hélio Angotti, na Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos.
Ele rejeitou orientações sobre a Covid que contraindicavam o uso de medicamentos sem eficácia para a doença, como a hidroxicloroquina.
Outro exemplo é a médica Mayra Pinheiro, conhecida como “capitã cloroquina”, que liderou a Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. “Quando emergiu a variante [da Covid-19] disseram que teríamos um colapso no sistema de saúde do Brasil. Cadê o colapso? Voltaram agora em maio com o mesmo enredo. O povo não acredita nessa gente”, afirmou.
“Só há um caminho e é o da verdade. Como diz, nós os cristãos acreditamos, o nosso evangelho de João: conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, disse o ministro, repetindo trecho bíblico citado com frequência por Bolsonaro.