Catia Seabra
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um apelo ao presidente nacional do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, minutos antes de o deputado federal ser vaiado durante ato com centrais sindicais nesta quinta-feira (14).
A conversa aconteceu atrás do palco da Casa de Portugal, onde Lula receberia, em seguida, uma carta de reivindicações assinada pelos presidentes das centrais sindicais. Paulinho é presidente de honra da Força Sindical.
Segundo relato de Paulinho, feito à Folha antes das vaias, Lula lhe pediu que o Solidariedade formalizasse apoio ao seu nome antes mesmo do lançamento oficial de sua pré-candidatura, programado para 7 de maio. “Perguntei: ‘Como vamos apoiar uma candidatura que nem existe?’ Mas Lula disse que gostaria de passar uma imagem de amplitude”, afirma Paulinho.
Ainda segundo Paulinho, o ex-presidente disse que gostaria de mostrar que seu arco de aliança vai além dos partidos de esquerda. O presidente da Força respondeu que programaria, então, para os dia 3 ou 4 o anúncio de apoio ao PT.
O ex-presidente perguntou a Paulinho como avançavam as negociações nos demais partidos. Ouviu em resposta que o ex-governador de São Paulo e pré-candidato tucano, João Doria, seria rifado pelo PSDB, em uma tentativa de fortalecimento da campanha de reeleição do governador Rodrigo Garcia.
A retirada da candidatura de Doria abriria caminho para a construção de uma terceira via com PSDB, MDB e União Brasil, segundo prognóstico feito por Paulinho a Lula. O presidente do Solidariedade sugeriu que o petista investisse no PSD e no Avante, únicos partidos disponíveis para futuras articulações.
Depois dessa conversa, Paulinho se dirigiu à área da plateia. Ao ter seu nome citado, o deputado –que declarou voto ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff –foi vaiado por sindicalistas acomodados ao fundo do espaço.
Paulinho disse à coluna Painel, da Folha, que o PT precisa cuidar melhor de seus aliados. Uma das preocupações dos organizadores do evento desta quinta era evitar que ele fosse caracterizado como um ato de campanha, o que seria ilegal.
Quando, por exemplo, o auditório da Casa de Portugal atingiu a sua capacidade, dirigentes das centrais pediram que os sindicalistas desocupassem a rua para que não configurasse um ato a céu aberto. Não houve nenhuma distribuição de panfletos e as faixas dispostas no local eram das sindicais.
Foi também nesse evento que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) fez um discurso exaltado em defesa do ex-presidente Lula, de quem deve ser o vice na chapa presidencial para a disputa das eleições de outubro.
Diante de dezenas de sindicalistas reunidos em São Paulo, Alckmin aumentou o tom de voz para dizer que a “luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular deste país”.
Em seguida, já rouco e aos gritos, repetiu: “Lula, Lula, viva Lula, viva os trabalhadores do Brasil.”
Alckmin disse ainda aos representantes das centrais que estará com eles nas eleições para “somar esforços” para derrotar o atual presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.