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Política & Poder

Para defensor de Bolsonaro, é comando que falta ao DF

Arquivo Geral

12/06/2018 7h00

Breno Esaki/Jornal de brasília

Camila Costa, Francisco Dutra e Jorge Eduardo Antunes
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Lançar uma nova licitação do transporte público, integrar as forças de segurança e fazer diagnóstico profundo da saúde pública estão entre as principais ideias do pré-candidato ao Governo do Distrito Federal, general Paulo Chagas (PRP). O militar da reserva é aposta para Brasília do presidenciável e deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). Apesar de bater firme em valores da extrema-direita, Chagas não ombreia com as vozes defensoras de um intervenção militar no Brasil. Segundo o militar, de maneira geral, falta comando para o atual governo de Rodrigo Rollemberg (PSB). Para a educação, defende a adoção do modelo da Escola Cívica.

Quem é Paulo Chagas?
Paulo Chagas é um profissional. Escolheu cedo a sua profissão e se dedicou a ela inteiramente. Estou reformado. E continuo com o espírito que leva a qualquer cidadão à integrar as Forças Armadas Brasileiras, que é o espírito da servidão. Nós, militares, não nos referimos com a expressão: aonde você trabalha? Militar serve, em um quartel, uma unidade, uma diretoria. Porque em essência nossa função é servir à pátria, o Brasil.

O que pensa sobre o transporte público no DF?
Se é um serviço público, destinado à sociedade e essa não se sente servida é porque alguma coisa tem que ser aperfeiçoada. Nossa ideia, acho que deve ser a de qualquer um que chegue a lograr êxito nessa campanha, é abrir essa caixa preta do transporte público. Porque mais me parece um cartel do que algo que esteja à disposição da sociedade. Queremos abrir essa caixa-preta e trazer outras pessoas para essa concorrência.

Estuda uma nova licitação?
Com certeza. Nós temos que ampliar essa oferta do transporte público. Não só ampliar na quantidade, como na qualidade. É uma demanda da população, então não há o que não fazer. Tem o que se fazer.

O DF nunca teve no comando militarista. Caso seja eleito o que pretende?

O DF já tem mais de um governador militar. Inclusive um deles, o coronel Hélio Prates. Foi meu professor, no colégio Militar de Porto Alegre. Foi professor de matemática. Então não serei o primeiro a lograr êxito. O que sinto que falta no DF é justamente isso: atitude de comando. Nós vemos que o nosso atual governador, que conheço, é uma muito simpática, mas que falta a ele, justamente, essa atitude de comando. Comandar é fazer amigos e não ter de versar com relação da Justiça. O que tem que ser feito, tem ser feito, doa a quem doer. Não basta apenas dar uma ordem. Tem que acompanhar. Ir atrás. Ver. Cobrar resultado.

Prates não foi eleito. E a base na Câmara Legislativa? Não se fala de aliados do senhor.

Tem muitos nomes próximos de mim, particularmente do meu partido. E pessoas de altíssima qualidade e preparados. Mais do que intelectualmente, preparados espiritualmente para servir à população do DF. Esse relacionamento com a Câmara Distrital, parto do princípio que todas as pessoas que se dispõem a disputar um cargo eletivo elas se dispõem a servir aquelas pessoas as quais pretendem representar. Vão representar os interesses da população do DF. Então não vejo como negociar de outra maneira. Só existe uma coisa a ser negociada: o interesse. Qual é o maior interesse? Qual é a maior maneira de servir o cidade, a população do DF. É dessa maneira, caso venha a lograr êxito que pretendo colocar.

Não vai praticar o “toma-lá-dá-cá”?

De maneira nenhuma. Não tenho nada para oferecer. Tenho para oferecer minha honestidade, minha vontade de trabalhar e meu entusiasmo. Qualquer negociação nesse sentido é em função de pessoas e não de interesses partidários. Já falei para representantes de partidos que nós estamos sempre abertos, eu estou aberto a qualquer tipo de negociação nesse sentido. Alguém quer uma secretaria? Tem interesse? Muito bem, me diga. Em primeiro lugar é preciso saber se eu, como governador, estou disposto a negociar essa secretaria. Ou seja, disposto a não tê-la. Tem alguém da confiança do partido? Muito bem, me ofereçam três nomes. Vou pesquisar, saber exatamente quem é. Se tiver competência, mérito está aprovado. Se não, eu devolvo. Me ofereçam outros três. Até que se chegue a um lugar comum.

Sua relação com o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL)?

É uma relação franca, honesta. E eu tenho o apoio e sou o pré-candidato do partido do deputado Jair Bolsonaro, o PSL. O PSL tem um atrito com o diretório do DF. Mas temos o apoio do diretório nacional. Nós temos a mesma formação. Embora eu seja bem mais antigo que o deputado, temos a mesmo espírito de servidão.

O PSL do DF não apoia o senhor.

Não sei. Isso é um problema do partido. Eu vou fazer como é que tenho que fazer a minha campanha, baseado no diretório nacional do PSL, do apoio do deputado, capitão Jair Bolsonaro. E esse problema do PSL regional com o nacional é um problema interno deles, que não pode afetar a minha pré-candidatura. Porque esse é um problema que será resolvido. O PSL aqui do DF, não tem nenhum candidato. A orientação da nacional é que as pessoas que pretendessem ou pretendam se filiar ao PSL sejam dirigidas ao PRP. Que é o partido, para o PSL, que representa as melhores condições para o PSL aqui no DF.

Porque seu nome ainda não decolou nas pesquisas?

Porque ainda não comecei a campanha. Temos um planejamento para que nosso discurso encontre efetivamente o interesse do cidadão. E nós não temos essa afobação. Nós temos que nos tornar conhecidos não por uma imagem, mas por uma proposta. E as pesquisas que tem sido feitas indicam que estamos no caminho certo. O meu nome tem crescido de uma maneira bem acima da nossa expectativa, mesmo tendo esse cuidado de não atropelar o processo.

A Saúde no DF?

Saúde Pública é o calcanhar de Aquiles do GDF. Seja quem quer que seja o próximo governador tem que iniciar fazendo uma grande e profunda auditoria nessa área. No nosso planejamento, tudo começa com essa avaliação profunda de tudo que está acontecendo. Só então, partiremos para a regularização, para colocar cada coisa no seu lugar. Temos que recuperá-la nos três níveis e criar um quarto nível, que é o acompanhamento após o tratamento. Os prontuários têm que integrados digitalmente na rede toda. É preciso fazer o mesmo com os medicamentos. Tem alguns que faltam em alguns hospitais e sobram em outros.

Uma coisa é o discurso e outra é prática política.

A dificuldade está em atender os interesses políticos. Essa é a grande dificuldade. Eu não sou político. Sou um servidor do Estado Brasileiro aposentado, na reserva, reformado do Exército. O grande problema está nessas negociações políticas, que são colocadas na frente porque as pessoas fazem carreira política. Elas estão sempre pensando na próxima eleição. Eu não pretendo pensar na próxima. Tenho que pensar na missão que tenho agora. Agora, se eu lograr êxito nessa missão e ela necessitar, para o cumprimento dela, posso pensar em uma prorrogação.

Pensa em valorizar os servidores e num secretariado técnico?

Qualquer um que venha a lograr êxito nessa campanha tem que valorizar o servidor público. Ele fez o concurso público para servir. E nos diversos setores estão lá sendo usados politicamente. A cada mudança de governo há esse loteamento de cargos. É colocado em segundo plano aquele que tem o que chamamos de espírito de corpo, que quer ver aquele local onde trabalha produzir para o Estado. Então minha prioridade na hora de avaliar quem será colocado nos postos chaves é justamente colocar o concursado.

Em 2015, uma manifestação de servidores foi severamente reprimida pela PM. O episódio escancarou um racha da Segurança. O senhor faria o mesmo?

As agências de Segurança Pública do DF, Polícia Civil (PC), Polícia Militar (PM), Corpo de Bombeiros (CB) são referência no contexto nacional. Você vê a PC nos crimes pelo Brasil, de modo geral, uma taxa de solução de 8% a 10%. Aqui no DF, a PC resolve de 60% a 70%. A PM também é um referencial no contexto nacional. O que falta aqui é coordenação e controle, para fazer com que essas policias entendam que são complementares. Onde termina a missão de uma, começa a da outra. Primeiro, entendo que tem que haver uma integração entre as policias. Há uma horizontalização. Não necessariamente ele precisa sair do nível do delegado da PC ou do comandante da PM . Mas ele precisa ter poder para coordenar, controlar essa integração.

E 2015?

Não vou entrar nesse detalhe de fazer uma crítica. O que houve em 2015 foi uma manifestação de professores e a PM recebeu a missão de, vou chamar de pacificar, porque esse é o termo, se há um conflito vamos pacificá-lo. Se houve excessos, nós temos os inquéritos policiais militares que são feitos. Se alguma coisa sair errado, existem para fazer as correções para o futuro. Se alguém está mal orientado, será bem orientado. Acho isso rotina.

A intervenção militar no Rio de Janeiro está sem resultados?

A primeira coisa que tem que ser feita e está sendo feita é reorganizar as agências, toda a estrutura da Segurança Pública do Rio de Janeiro. Com tudo isso na mão, planejado, começar a executar. Não se resolve esse problema que vem se agravando há quantas décadas em seis meses. Tem que haver continuidade. Aqui no DF é a mesma coisa. O que se vê é uma horizontalização e uma falta de comunicação. Os rádios de comunicação da PC não falam com os da PM. Fiquei sabendo que o Detran tem um sistema de inteligência com câmeras espalhado pelo DF, de última geração. Se a PC quiser saber de alguma coisa que o Detran conseguiu em função desse sistema de inteligência, ela tem que comprar a informação. Não pode funcionar desse jeito.

O DF vive uma onda insegurança. Muitos criminosos com várias “passagens”.

Sobre esse passeio do cidadão cheio de passagens, vamos ver quantas vezes ele esteve na frente do juiz em audiência de custódia? Quantas vezes o juiz deu uma nova chance para ele? Qual é o problema? Não tem lugar na cadeia. Então vamos aumentar o tamanho na cadeia. Vamos tirar de circulação aqueles cidadãos que não podem estar convivendo com os homens e mulheres de bem. Outro exemplo prático, secretaria de Segurança Pública foi uma psicologa. Então, o que ela entende de Segurança Pública? Foi colocada lá para não dar certo. E outra demagogia, a Secretaria de Segurança Pública tem “Paz Social” no final. Não. É Secretaria de Segurança Pública. Tem que proporcionar ao cidadão Segurança Pública. O aspecto social tem que ser visto por outro setor do governo. A Segurança Pública tem que criar o ambiente de Segurança Pública. O cidadão precisa dele para se sentir bem onde vive.

Revisão da maioridade pena?

Eu sou á favor da redução da maioridade penal. Estive no Congresso. Fui lá mostrar nosso interesse. E até sofre uma pressão dos estudanes da UNE que estavam sendo pagos com dinheiro que não era para isso, para não deixar as pessoas entrarem. Se o jovem com 16 anos pode votar, decidir o futuro do país, ele tem que decidir o próprio futuro. Hoje eles são usados como fachada pelos bandidos. Isso tem que acabar. Isso faz parte da redução da criminalidade. Mais de 60 mil pessoas são assinadas por ano. Isso tem que acabar.

Educação no DF?

A Escola Cívica faz um trabalho magnífico dentro das escolas para incrementar o espírito cívico, dos valores critãos. O caráter do brasileiro é judaico-cristão, desde o descobrimento. Tudo isso está sendo destruído. A família está sendo propositadamente destruída. Em função disso temos toda essa destruição moral do país. O trabalho Escola Civíca tem revertido esse quadro. Julgo que o próximo governador não pode dispensar a assesoria nesse sentido, de agregar a família, a escola, o civismo e a segurança.

Mas o Estado não é laico?

Você tem razão. Mas falei dos valores da nossa sociedade. Não falei do Estado. O Estado é laico. Mas o cidadão brasileiro tem valores cristãos. Na formação da sociedade estão valores judaico-cristãos. O Estado é laico, não tem que ter preferência.

Sem fazer juízo de valor de 1964, o que o senhor acha da ideia da intervenção militar constitucional, no passado e no presente?

Vou começar no passado. A revolação de 64 foi feita justamente para preservar a Democracia. Durante 21 anos, o Regime Militar em momento nenhum pretendeu se perpetuar no Poder, embora tenham ficado nele mais tempo do que era talvez necessário. E também ficaram mais tempo porque havia uma guerra. O primeiro presidente militar, Marechal Castelo Branco, pretendia apenas completar o mandato. Mas 66 houve o atentado de Guararapes. Ficou caracterizado que estávamos lutando uma guerra contra o terrorismo. No momento em que foi frustrado o caminho político, passaram para o plano B do terrorismo. A luta armada contra as Forças Armadas Brasileiras é pedir para começar derrotado. Porque nós entramos em poucas guerras, mas não perdemos nenhuma. Forças Armadas é sinônimo de hierarquia, disciplina, respeito à autoridade e tradição. Nós temos essa tradição, graças à Deus. E foi preservada a Democracia, tanto é que 85 tivemos Diretas Já. Com relação à intervenção militar, nenhuma Constituição brasileira prevê iniciativa das Forças Armadas na política. Desde o Império, elas estão subordinadas ao Poder Executivo. Sempre estiveram, o que não as impediu de intervir em momento necessários pelo bem do Brasil. E elas intervieram, o que caracteriza o golpe, o golpe de estado militar. Foi dado com um objetivo. Eu sou totalmente contra a intervenção militar, neste ou em qualquer momento. Embora eu avalize todas as que houve. Porque partiram dos militares e não de fora para dentro, como está ocorrendo agora. Vemos um clamor aparentemente popular por 64. Mas as circunstâncias de hoje são totalmente diferentes. Em 64 houve um movimento de tropa. Uma brigada pequena. A revolução se autolegitimou pelos Atos Institucionais. O Congresso passou a querer ser dono do movimento. Não, nós tinhamos que ter um pouco de autoridade. E os governos militares foram efetivamente autoritários. Não foi uma ditadura. Não tem nenhuma caraterística de ditadura.

Não foi ditadura?

Não foi.

Cassação de mandatos? Tortura? Desaparecidos políticos?

Houve momentos em que foi ditadura. Por exemplo, durante a vigência do AI 5, foi uma ditadura. Foi um governo mais forte. Fala em tortura? Houve sim. Antes não havia? Hoje não há? Acabou a tortura?
Ela é um processo continuado. Mas nunca foi estatal.Não foi. Você conhece algum decreto? Uma ordem? Inclusive, nunca vi ninguém ser torturado.

O caso do jornalista Vladimir Herzog?

Nós temos duas versões. Foi feito um inquérito. Até hoje as pessoas estão atrás de uma nova versão sobre isso. Não tem uma nova versão. A que tem é oficial. Cadê a testemunha? Não tem. Não vou ser hipócrita. Claro que houve tortura. Houve excesso dos dois lados também. Teve um menino na Guerrilha do Araguaia que foi recortado, justiçado na frente da família dele. E aí? Era guerra. Em toda guerra existem excessos. É da natureza humana. Tenho convicção de que esse tempo passou. Vemos no Brasil a Comissão Nacional da Verdade para investigar um lado só. E não o fato. O fato histórico tem dois lados. Foi nomeada e gasta fortunas para fazer investigações de lado só. Então, não foi revelada a história.

O senhor bate forte no Supremo Tribunal Federal?

O STF está politizado. Os ministros são escolhidos politicamente. E eles refletem os comprometimentos ideológicos políticos que eles têm. Por isso não tem funcionado corretamente. A gente olha para trás é vê grandes juízes que já participaram dessa suprema corte que é importantíssima e hoje vê que a qualidade caiu fundamentalmente. Eu sinto que a média dos atuais membros é muito fraca para a missão.

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