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Política & Poder

Palmares anuncia novo acervo, de Machado de Assis a ativista negros de direita

No início do mês, a gestão da Palmares publicou um relatório intitulado “Retrato do Acervo: A Doutrinação Marxista”

Redação Jornal de Brasília

30/06/2021 14h15

Foto: Agência Brasil

FolhaPress

Após ter anunciado um expurgo de livros entendidos como marxistas ou problemáticos do acervo da Fundação Cultural Palmares, o presidente da instituição, Sérgio Camargo, afirmou que haverá um novo acervo, “que abordará a cultura negra em sua riqueza, diversidade, valor e relevância”, escreveu o presidente nas redes.

No início do mês, a gestão da Palmares publicou um relatório intitulado “Retrato do Acervo: A Doutrinação Marxista”. Segundo o documento, o acervo da fundação conta com 9.565 títulos, dos quais 46% são de temática negra, enquanto 54% são de temática alheia à negra. “Todas as obras que corrompem a missão cultural da Palmares serão excluídas.” Um livramento!”, anunciou Camargo no Twitter, na ocasião. Agora, Camargo anuncia um novo relatório, a ser publicado daqui a 20 dias, e que, segundo ele, conterá “conhecimento aberto e acessível a todos, sem guetos nem militâncias”.

Para o novo acervo, Camargo cita escritores como Carolina Maria de Jesus, autora do clássico “Quarto de Despejo”, de 1960, e Machado de Assis, cuja negritude vem sendo reivindicada pela militância negra nos últimos anos. Também foram citados Gilberto Freyre, autor de “Casa-Grande e Senzala”, o poeta abolicionista Luiz Gama e Cruz e Souza, considerado um dos fundadores do simbolismo brasileiro.

Obras estrangeiras também foram anunciadas por Camargo, como as do sociólogo e ativista americano W.E.B. Du Bois e da conservadora Candace Owens, de 32 anos, que comanda o movimento Blexit, uma reação direitista ao Black Lives Matter.

No relatório que anunciou a exclusão dos livros, Carmargo afirmou que “todas as pessoas de bem ficarão chocadas ao descobrir que uma Instituição mantida com o dinheiro dos impostos, sob o pretexto de defender o negro, abriga, protege e louva um conjunto de obras pautadas pela revolução sexual, pela sexualização de crianças, pela bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha”. Além de obras de Marx, Engels e Lênin, a lista do expurgo de livros contém títulos de autores como Max Weber, Eric Hobsbawm, H. G. Wells, Celso Furtado, Marco Antônio Villa.

Ainda segundo o documento, nenhum livro será destruído. “Todo o acervo da Fundação Cultural Palmares segue sendo tratado com o maior cuidado e armazenado de forma adequada e em ambiente protegido, aguardando os procedimentos de doação. Ainda hei de postar a lista dos pretos racistas da esquerda. Há muitos! Um deles chegou ao ponto de chorar pelo então presidiário Lula, na porta da cadeia!”, postou Camargo no Twitter.

O deputado Marcelo Freixo entrou com uma ação contra o presidente da Fundação Palmares. A ação pede “a suspensão de exclusão de qualquer patrimônio da Fundação Cultural Palmares, especialmente os livros elencados no relatório e o retorno à fundação, caso já tenham sido excluídos”.

A Coalizão Negra por Direitos, que reúne mais de 200 entidades, coletivos e organizações do movimento negro, também ingressou com ação civil pública na Justiça Federal de São Paulo contra o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, nesta quarta. O grupo quer que seja impedida a exclusão de obras do acervo da instituição.

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