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Política & Poder

Lula prepara gesto de apreço a petista em ministério na mira do centrão

Lula prepara uma viagem ao Piauí, estado do ministro, para participar do lançamento do plano Brasil Sem Fome, em 31 de agosto

Redação Jornal de Brasília

21/08/2023 9h38

Foto: Evaristo Sá/ AFP

CATIA SEABRA E THIAGO RESENDE
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

O presidente Lula (PT) prepara um gesto público de apreço ao ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social) em semana decisiva para os rumos da reforma ministerial, aguardada pelo centrão. O PP mira a pasta de Dias.

Lula prepara uma viagem ao Piauí, estado do ministro, para participar do lançamento do plano Brasil Sem Fome, em 31 de agosto, logo após o presidente retornar de uma viagem pela África, iniciada neste domingo (20).

Isso tem sido entendido por auxiliares de Lula como um ato de desagravo e demonstração de que Wellington Dias será mantido no cargo na reforma ministerial negociada pelo Palácio do Planalto e o centrão. O Ministério do Desenvolvimento Social cuida do Bolsa Família e é uma pasta cara ao PT.

O ministro vinha sendo alvo de fogo amigo e também de líderes do Congresso, que querem ocupar a pasta para dar vazão a emendas parlamentares para compra de equipamentos e realização de obras de centros de assistência social pelo país.

O compromisso público ao lado de Dias foi interpretado por aliados do governo como um recado ao centrão de que Lula não pretende tirar o PT do comando da área social e mexer no Bolsa Família, principal vitrine do presidente entre o público mais pobre.

Dias é adversário político do senador Ciro Nogueira (PI), que preside o PP. Portanto o ato de lançamento do plano do ministro no Piauí também é visto como um sinal a Nogueira de que dificilmente o centrão ocupará essa pasta.

O projeto do Brasil Sem Fome foi apresentado a Lula e ao ministro Rui Costa (Casa Civil) em encontro no Palácio do Planalto na última quinta-feira (17), pouco depois de o PP avisar ao presidente que insiste em ocupar o ministério.

O objetivo do plano é aumentar a sinergia entre políticas públicas e programas sociais com o foco em erradicar a pobreza no país. Após a reunião, o ministro divulgou um vídeo, disse que o presidente aprovou a proposta e o pediu para seguir trabalhando.

“E o presidente deu uma orientação para mim. Ele sabe que já estamos trabalhando e agora ele quer que possamos nos dedicar e trabalhar ainda mais. E é isso que vamos fazer”, afirmou o ministro na semana passada.

Integrantes do Planalto, do PT e do ministério confirmaram que, na mesma conversa, Lula disse a Dias que irá assinar o decreto de criação do Brasil Sem Fome em evento no Piauí.

O estado foi palco, há cerca de 20 anos, do lançamento do programa Fome Zero, que antecedeu o Bolsa Família. À época, Dias era governador do estado.

O ministro foi um dos coordenadores da campanha presidencial do ano passado e é um dos petistas mais próximos a Lula. No entanto, nos últimos meses, Lula reclamou a auxiliares próximos no Palácio do Planalto de que o ministro precisa estar mais focado e turbinar as agendas positivas.

Como o ministério detém uma das principais vitrines do governo, Lula esperava que a pasta fosse um celeiro de anúncios para impulsionar a imagem do presidente, o que não vinha acontecendo -na avaliação do chefe do Executivo.

Por isso, o nome do titular da pasta chegou a ser colocado na mesa por articuladores da reforma ministerial. Mas o PT reagiu para blindar a área social.

O próprio ministro, então, respondeu à pressão e começou a liberar dinheiro para obras e projetos em redutos eleitorais de membros influentes do Congresso e aliados do governo. A verba saiu da cota que Lula herdou após o fim das emendas de relator -esses recursos despertam grande interesse do centrão.

O principal enrosco na reforma ministerial é o futuro do PP. O partido quer um ministério com elevado orçamento e com capilaridade para dar fluxo a emendas parlamentares.

O centrão até chegou a apresentar a ideia de Lula transferir o Bolsa Família para outra pasta, como Casa Civil, e assumir o Desenvolvimento Social sem o programa de transferência de renda.

Contudo isso não foi aceito pelo PT nem por técnicos da área de assistência social. O argumento é que o programa precisa estar sob gestão de quem comanda as outras políticas da área social.

Esse inclusive é o pilar no Brasil Sem Fome, a ser lançado por Lula e Dias.

O projeto não deve gerar novas despesas públicas, e sim alinhar o que já existe no governo federal, estados e municípios -como Bolsa Família, programa de aquisição de alimentos de pequenos agricultores etc- para aumentar a eficiência das medidas de combate à fome. O presidente quer tirar novamente o país do Mapa da Fome.

Outro argumento apresentado a integrantes do centrão e do Palácio do Planalto é que o PP recebeu a sinalização de que poderá ocupar a Caixa, banco que paga o Bolsa Família e é visto por membros da ala política do governo como uma peça de valor semelhante a um ministério robusto.

Interlocutores de Lula dizem que não foi possível concluir o desenho da reforma antes de o presidente embarcar para a África e que, quando ele regressar ao Brasil, pretendem resolver o impasse.

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