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Política & Poder

Lula diz aceitar fazendeiro armado e fala em sem-terra maduros em nova ofensiva pelo agro

Também disse que o comportamento dos sem-terra hoje em dia “é muito diferente e muito mais maduro”

FolhaPress

21/09/2022 21h25

Foto/Reprodução

Victoria Azevedo
São Paulo, SP

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que é contra o armamento da sociedade, mas que isso não significa que donos de fazenda não poderão ter armas para garantir sua segurança –citou inclusive que seu pai tinha arma em casa.

Também disse que o comportamento dos sem-terra hoje em dia “é muito diferente e muito mais maduro” e que um governo seu representa paz no campo.

O petista concedeu entrevista ao Canal Rural que foi exibida na noite desta quarta-feira (21), com novos acenos ao setor agro.

“Meu pai era caçador no Guarujá, ele tinha arma em casa. Ninguém vai proibir que o dono de uma fazenda tenha uma, duas armas. Agora, se ele tiver 20 não é mais uma arma para defesa. 30 pior ainda. É apenas o bom senso”, afirmou Lula.

Lula disse que irá “mudar” decretos armamentistas propostos no governo Jair Bolsonaro (PL) “discutindo com a sociedade”.

“A gente vai discutir porque é preciso ter um controle. Você não pode deixar a sociedade armada do jeito que está. Alguém comprar 12, 10, 15, 20 armas. Você sabe onde estão essas armas? Que alucinação é essa? Nós não estamos em guerra”, disse o ex-presidente.

Ao ser questionado sobre a proximidade do PT e de alguns partidos que apoiam Lula com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), o ex-presidente afirmou que “pouquíssimas terras produtivas foram invadidas no país” e que, atualmente, o “comportamento do sem-terra é muito diferente e muito mais maduro”. “Eles viraram um setor altamente produtivo”, afirmou.

“No Brasil de hoje, posso te garantir que as coisas estão muito mais harmonizadas e tranquilas do que já estiveram em qualquer outro momento”, disse.

Ele afirmou também que durante seus governos, o campo teve paz. “Não só teve [paz] como foi um dos momentos mais extraordinários do campo.”

A realidade das invasões de terra em sua gestão é diferente da falada hoje.

O clima com os sem-terra teve alta tensão nos primeiros anos de seu governo. O número de invasões de terra nos três primeiros anos do governo Lula (2003-2005), por exemplo, superou em 55% o registrado nos 36 últimos meses da gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso.

A quantidade de assassinatos por causa de conflitos agrários avançou 63% no mesmo período.

A pressão dos sem-terra começou a diminuir em seguida, muito por causa da consolidação do Bolsa Família, da política de valorização do salário mínimo e da criação de empregos nos centros urbanos.

Tudo isso esvaziou os acampamentos dos sem-terra e, como consequência, as invasões de terra –o MST manteve um tom crítico a Lula durante os seus dois mandatos, apesar de nunca ter ocorrido uma ruptura.

A entrevista é mais um esforço da campanha do petista para ampliar apoios, tentar ganhar as eleições no primeiro turno e acenar ao agronegócio, setor que representa uma das bases de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), principal adversário de Lula na corrida eleitoral.

Também num esforço para dialogar com o setor, nesta quarta, o candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) viajou a Goiânia (GO). Na quinta (22), ele segue para Porto Velho (RO).

A entrevista desta quarta não foi ao vivo –ela foi gravada na terça-feira (20).

Um dia antes da gravação, numa preparação para a entrevista, o ex-presidente conversou com três dos principais fiadores da campanha petista junto ao agro: o senador Carlos Fávaro (PSD), o deputado federal Neri Geller (PP), candidato ao Senado, e o empresário Carlos Ernesto Augustin. Petistas se referiram ao encontro como “agrotraining”.

A ideia da campanha petista era reforçar a mensagem de que o ex-presidente reconhece a importância do setor para a economia brasileira e que, num eventual novo governo, dará atenção ao agronegócio.

O ex-presidente foi alvo de críticas quando disse, em entrevista ao Jornal Nacional, em agosto, que existe uma parcela do agro “fascista e direitista” que se opõe ao PT por ser contra políticas de preservação do ambiente.

À época, Augustin disse à Folha de S.Paulo que o ex-presidente errou ao se referir a parte do setor como “fascista” e defendeu que ele pedisse desculpas pela generalização.

Lula, Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), os quatro presidenciáveis melhores colocados nas pesquisas de intenção de voto, foram convidados pelo Canal Rural para uma entrevista gravada e com duração de uma hora. A entrevista com o pedetista foi exibida no último dia 6 de setembro.

Levantamento do Datafolha divulgado no último dia 15 mostrou Lula com 45% das intenções de voto, ante 33% de Bolsonaro. Em terceiro lugar, empatados tecnicamente, apareceram Ciro, com 8%, e Tebet, com 5%.

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